Cepea: preços do trigo sobem no País com ausência de vendedores e dólar alto

Publicado em 20/01/2020 20:40

São Paulo, 20 - A ausência de vendedores no mercado de trigo tem impulsionado os preços internos do cereal. O patamar elevado do dólar, acima de R$ 4,17 no mercado futuro da B3, também pesa, ao encarecer as importações.

Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) antecipado ao Broadcast Agro, a oferta do trigo de qualidade - com PH 78 ou superior - é baixa e as cotações continuam elevadas mesmo com a demanda da indústria enfraquecida, já que os moinhos mantêm estoques que atendem, em média, dois meses.

Com base em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Cepea destaca que, até a primeira dezena de janeiro, o cereal importado da Argentina era negociado a R$ 993,08 por tonelada, enquanto o trigo brasileiro, no Paraná, estava em R$ 879,77 por tonelada. Para o Rio Grande do Sul, o trigo importado era cotado a R$ 963,56 por tonelada, contra R$ 804,03 por tonelada no Estado.

Nesse cenário, entre 10 e 17 de janeiro, os preços do trigo no mercado de lotes subiram 0,7% do Rio Grande do Sul, 1,4% no Paraná, 2,6% em São Paulo e 5,3% em Santa Catarina, conforme cálculos do Cepea. Quanto ao mercado de balcão (valor pago ao produtor), as cotações subiram 2,1% no Rio Grande do Sul e 0,9% no Paraná.

Na Argentina, o Ministério da Agroindústria registrou avanço de 9% no preço FOB, a US$ 230 por tonelada na sexta-feira, 17.

"Este é o maior valor desde o final de outubro/19, período que antecedeu a colheita. A alta está atrelada à maior demanda pelo cereal. A Bolsa de Rosário indica, contudo, que o valor do produto que será embarcado em janeiro é referente a contratos fechados anteriormente e, atualmente, não há interesse significativo em realizar novos negócios", mostra a análise.

Por outro lado, já foram comercializadas 14,8 milhões de toneladas de trigo argentino - sendo 13,44 milhões de toneladas para exportação e 1,4 milhão de toneladas, para o mercado interno, o que deixa menos de 5 milhões de toneladas para serem comercializadas.

Área plantada de trigo nos EUA recua aos níveis de 1909 e impulsiona cotações

Nova York, 20 - As plantações de trigo nos Estados Unidos atingiram a menor área em mais de um século, provocando elevação dos preços para acima de US$ 5,60 por bushel. Nesta temporada, foram cultivados cerca de 30,8 milhões de acres (12,46 milhões de hectares) com trigo de inverno, área 1% menor em relação ao ano anterior, mas não muito maior do que o semeado em 1909, 29,2 milhões de acres (11,93 milhões de hectares), de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

A redução da área com trigo ocorre porque o trigo está perdendo espaço para culturas mais rentáveis, como o milho e a soja. Essa substituição é observada no centro-oeste, como a oeste do Rio Mississippi, particularmente nas planícies do sul do Texas, Oklahoma e Kansas, segundo o executivo-chefe do grupo industrial Kansas Wheat, Justin Gilpin. As quedas ocorrem ao mesmo tempo em que a Rússia se estabelece como grande fornecedor mundial.

Problemas de qualidade com as recentes colheitas de trigo de Chicago também fizeram os preços subirem. O tempo úmido e de chuvas atrasou os cultivos e colheitas de milho e soja no Centro-Oeste no ano passado, o que prejudicou a cultura do trigo, normalmente plantado após as colheitas do fim do verão. O clima também reduziu a qualidade do cereal, esgotando o teor de proteínas e desencorajando novas plantações.

A expectativa é que os preços mais altos do trigo afetem mais as empresas Campbell Soup Co. e a Kellogg Co., que dependem do cereal para fazer biscoitos e cereais, segundo analistas da Bernstein Research.

As exportações do cereal também tornaram-se cada vez mais difíceis com o dólar forte, avalia o corretor de futuros da Daniels Trading em Chicago, John Payne. "Se você não está exportando trigo, não faz sentido cultivá-lo", disse. "Não podemos processar o suficiente neste país para realmente usá-lo."

A alta das cotações do produto também ocorre, em parte, por causa da diminuição da produção na Austrália, onde a seca e os incêndios prejudicaram a safra, assim como na Rússia. Os traders também continuam atentos à possibilidade de redução da oferta russa, com as notícias de que o País deve limitar as exportações este ano. Fonte: Dow Jones Newswires

 

 

 

Fonte: Agencia Estado

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Restrições tácitas à exportação de grãos pela Rússia causam confusão no mercado
Preços de exportação de trigo russo param de subir com melhora do clima
A qualidade do trigo de inverno dos EUA está entre as piores de todos os tempos, deixando analistas perplexos
Egito espera atraso no embarque de trigo russo em novembro, diz ministro do abastecimento
Trigo/Cepea: Clima prejudica lavouras no Sul; preços sobem com força em SP
Trigo cai em Chicago com previsão de tempo chuvoso nas planícies dos EUA