Trigo: Cotações se recuperam pontualmente em Chicago e apresentam tendência de queda no Brasil
A exemplo das altas presentes na soja e no milho, a Bolsa de Chicago (CBOT) apresentou movimentos de valorização também para o trigo nesta quinta-feira (08). As principias cotações registraram ganhos entre 7,25 e 10,25 pontos ao fechamento do mercado.
O vencimento setembro/19 foi cotado à US$ 4,98 com alta de 10,25 pontos, o dezembro/19 valeu US$ 5,00 com elevação de 8,75 pontos, o março/20 foi negociado por US$ 5,08 com valorização de 8,00 pontos e o maio/20 teve valor de US$ 5,13 com ganhos de 7,25 pontos.
Segundo informações da Farm Futures, os preços do trigo estão firmes, com negociação principalmente técnicas observadas no trigo de inverno após as reversões mais altas ontem. O pregão de Chicago encerrou a quarta-feira (07) com altas de até 0,88% e havia operado na terça-feira (06) com quedas de 2,12%.
A Agência Reuters destaca ainda que, este movimento de elevação nas cotações acompanha as expectativas pré relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) que devem atualizar os números de área cultivada nos Estados Unidos na próxima segunda-feira (12), assim como ocorre nas outras commodities soja e milho.
“A Farm Futures vê poucas mudanças do USDA na próxima semana em seu balanço de trigo, com a produção subindo um pouco, elevando os estoques finais em cerca de 6 milhões de bushels (163.293 toneladas) O que também é a opinião do palpite médio no comércio”, aponta o analista de grãos Bryce Knorr.
“As condições do trigo da primavera nos Estados Unidos têm sido em grande parte boas, já que as principais áreas de cultivo em Montana e Dakota do Norte tiveram boas chuvas. As Grandes Planícies do sul devem receber chuvas espalhadas e leves nesta semana com as temperaturas próximas do normal. As áreas do norte devem ver chuvas e tempestades dispersas também com temperaturas próximas do normal” comenta o analista do Blog Price Group, Jack Scoville.
Outro fator que contribui para esses ganhos no trigo é a perspectiva de ampliação na capacidade de demanda do mercado mundial. “Revendedores disseram que o comprador de grãos da Arábia Saudita está relaxando as especificações de danos causados por insetos para as importações de trigo que mantiveram uma tampa no mercado. A mudança pode abrir caminho para que a Rússia se torne um importante fornecedor para a Arábia Saudita, em parte à custa de exportadores da UE, como a Alemanha”, aponta Barbara Smith da Reuters de Chicago.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira, Élcio Bento, analista da Safras & Mercado destacou que o movimento de alta nas cotações se deu, pontualmente, pelo bom número divulgado das exportações americanas, e em uma análise mais ampla, mostra uma recuperação de resposta e correção às quedas recentes.
“Tivemos um momento de entre safra americana em abril com as cotações saindo de US$ 4,40 e chegando em até U$ 5,60. Depois, com o início da colheita esses patamares foram recuando e agora caminham mais de lado, com correções técnicas”, diz Bento.
Brasil
No que diz respeito ao mercado interno, o Cepea divulgou seu último boletim sobre a cultura dando conta de que “no aguardo do início da colheita da safra 2019/20, previsto para setembro, boa parte dos agentes permanece receosa quanto a novas negociações de trigo no mercado doméstico. Esse cenário tem mantido firmes os preços do trigo em grão neste início de agosto”.
Segundo o levantamento, em julho, as cotações subiram com certa força, especialmente no Rio Grande do Sul, onde a demanda esteve mais aquecida por parte de moinhos de Santa Catarina. No mês passado, o preço médio no mercado de lotes registrou alta de 4,9% sobre o de junho no Rio Grande do Sul. Na mesma comparação, a elevação na média do Paraná foi menor, de 2,8%.
De acordo com o último material divulgado pelo Deral, o Paraná tem, até a última segunda-feira (05), 4% da safra de trigo em maturação, 40% em frutificação, 28% em floração e 28% em descanso vegetativo. Deste montante, 62% apresenta boas condições, 29% médias e 9% ruins.
Carlos Hugo Godinho, engenheiro agrônomo do Deral, aponta que as geadas que atingiram o estado no início deste inverno atuaram para rebaixar a qualidade das lavouras paranaense e reduzir a expectativa de produção das 3,2 milhões de toneladas para 2,8 milhões, patamar semelhante ao da última safra.
Já no Rio Grande do Sul, a Emater indica que, até o final de julho, a maior parte da safra estadual de trigo ainda se encontra em descanso vegetativo, 97%, e o restante em floração, 3%, para os 739,4 mil hectares cultivados pelos produtores gaúchos.
Na visão da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), a produção nacional do cereal em 2019 deve ser de 5,488 milhões de toneladas, com crescimento de 1,1% sobre a temporada passada, quando foram colhidas 5,428 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, a produtividade desta safra deverá ter acréscimo de 3,6%, sendo projetada em 2.753 quilos por hectare.
A Associação participa de um movimento para ampliar o tamanho das lavouras brasileiras de trigo, não só nas regiões que já costumam cultivar, mas também na criação de novos locais, como o norte do cerrado, conforme conta Roberto Barbosa, presidente da Abitrigo.
Para o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento, o reflexo das movimentações em Chicago é mais lento para os preços brasileiros do que o que acontece com a soja e o milho, uma vez que o Brasil não concorre diretamente com os Estados Unidos, e sofre mais influência da safra argentina.
“No Brasil, a desvalorização do dólar influencia mais nas cotações, uma vez que fica mais caro importar e isso eleva também os preços internos”, explica Bento.
Outro fato que pode agir nos preços internos é a chegada da próxima safra. “O Paraná deve ter quebra após sofrer com geadas em dois momentos. A produção não vai ser o que era inicialmente esperado, mas mesmo assim ainda será maior do que o ano passado. Então podemos esperar uma tendência de queda para o trigo nacional ao longo do segundo semestre, principalmente quando o trigo da Argentina, que deve ter uma super safra, começar a entrar no mercado”, aponta o analista”.