Mato Grosso pode ter que importar álcool a partir do ano que vem
Mato Grosso pode ter que importar álcool em 2011 caso a situação atual de falta de crédito para a indústria e proibições de expansão de área não mude. Representantes da indústria sucroalcooleira do Centro-Sul do país se reuniram em São Paulo esta semana, na União Nacional da Indústria Canavieira (Única) para avaliar os números preliminares da safra e discutir ações para evitar uma crise no setor.
Segundo o diretor executivo do Sindicato da Indústria Sucroalcooleira de Mato Grosso (Sindalcool), Jorge dos Santos, Mato Grosso é um dos estados em pior situação. A indústria local não tem dinheiro para investir, não tem crédito e nem pode expandir a atividade. Tudo por conta do Zoneamento Agroecológico da Cana (Zaecana). As indústrias localizadas na região da Bacia do Alto Paraguai (BAP) e em bioma amazônico não podem mais expandir a atividade e estão impedidas de contratar crédito oficial.
A safra atual de cana em Mato Grosso (2009/10) ficou em pouco mais de 14 milhões de toneladas, a mesma quantidade colhida no ciclo passado. A produção atual é de 550 milhões de litros de álcool, dos quais 390 milhões de litros são consumidos no próprio Estado e o restante é vendido para os estados de Rondônia, Acre e Amazonas.
Diante desse quadro, Santos não descarta a possibilidade do Estado ter que importar o combustível em 2011, já que a demanda aumenta e a produção não evoluiu no mesmo ritmo. Para 2010, a projeção é que o consumo de álcool em Mato Grosso seja de 410 milhões de litros. Caso a importação seja necessária, significa que o custo do produto pode aumentar para o consumidor final. Nos últimos três, anos, desde 2007, o consumo de álcool no Estado pulou de 107 milhões de litros para 390 milhões.
O grande problema é que as seis maiores usinas de Mato Grosso, que concentram 80% da produção estadual, estão localizadas na região onde o Zaecana proíbe a expansão das plantas já existentes e a instalação de novos empreendimentos. E o diretor executivo lembra que o plantio da cana tem um ciclo de cinco anos, quando se precisa da renovação da área. A cada é necessário 20% de cana nova, para a rotação da cultura. Se não puder se utilizar novas áreas, a rotação necessária vai fazer com que se passe três anos produzindo 20% a menos.
Conforme Santos, o setor sucroalcooleiro já tem pronto um estudo que prova não haver razões técnicas, científicas ou históricas para impedir o plantio da forma como zaecana está fazendo. Esse estudo já foi apresentado para a Comissão Especial da Amazônia na Câmara dos Deputados, em Brasília, mas como foi designada uma comissão especial para o projeto do Zaecana, é com esse grupo que o setor terá que falar.
Aí começa outro problema. Apesar de ter sido instalada no ano passado, tendo inclusive como membros dois deputados mato-grossenses (Homero Pereira e Thelma de Oliveira), a comissão ainda não foi empossada. Um agravante é que 2010 é um ano eleitoral e todo o processo pode ficar emperrado. Enquanto o projeto não é apreciado pelo Congresso Nacional, já existe um decreto presidencial que estabelece algumas proibições, inclusive em relação ao
crédito para expansão da atividade.
Os números definitivos da safra do Centro-Sul do país, principal região produtora de cana, devem ser fechados na semana que vem. Mas já se sabe que houve uma perda de aproximadamente 500 mil toneladas de cana, por conta do excesso de chuva.