Açúcar: La Niña no Brasil, monções na Ásia e exportação da Índia vão determinar rumo dos negócios

Publicado em 26/07/2024 11:50 e atualizado em 16/10/2024 12:00
Caso a Índia opte por investir na indústria do etanol e ficar de fora das exportações, Tailândia deve se consolidar como 2º maior exportador

Com a safra brasileira andando bem e com as chuvas de monções na Índia, o mercado do açúcar vem operando com pressão para os preços nas últimas semanas. De acordo com Filipi Cardoso, da StoneX Brasil, as chuvas na Ásia - assim como a definição das exportações da Índia e os possíveis impactos do fenômeno La Niña vão ditar os preços daqui pra frente no mercado. 

O balanço global de oferta de açúcar continua sendo de superávit, mas de acordo com os dados mais recentes da StoneX, a revisão trouxe números mais baixos que a estimativa anterior. Além da Ásia e do Brasil, a análise destaca que as chuvas daqui pra frente serão determinantes para o balanço global, considerando México, União Europeia e países da América Central. 

"Entretanto, a dinâmica nos últimos meses pode evidenciar as incertezas dentre os agentes acerca da disponibilidade de açúcar, especialmente a partir de outubro, quando o Centro-Sul (CS) se encaminha para a entressafra. Se em maio as estimativas superavitárias em 2024/25 (out-set) pareciam se consolidar no mercado, hoje, por conta do desempenho do CS em sua safra atual, as revisões se intensificam, condizentes com mix açucareiro e ATR nos meses de maio e junho relevantemente menores frente ao estimado inicialmente", afirma a publicação. 

Os dados mais recentes da Unica mostraram que foram registradas chuvas no Centro-Sul do Brasil, impactando o rendimento da colheita. as unidades produtoras da região Centro-Sul processaram 43,17 milhões de toneladas ante a 48,54 milhões da safra 2023/2024 – o que representa queda de 11,07%. No acumulado da safra 2024/2025 até 16 de julho, a moagem atingiu 281,58 milhões de toneladas, ante 259,03 milhões de toneladas registradas no mesmo período no ciclo anterior – crescimento de 8,71%.

No Brasil, lideranças do setor afirmam que a produtividade daqui pra frente deve registrar baixas, consequência das ondas de calor que atingiram as áreas de produção no final do ano passado e início de 2024. Além disso, as altas temperaturas já provocam um déficit hídrico acentuado e por isso existe a preocupação com o La Niña e o risco de atraso na estação chuvosa. 

ÁSIA 

Operadores do mercado afirmam que é esperado a Ásia registre alta de 1,4% na produção na temporada 2024/25. Acrescenta ainda que esse avanço deve acontecer em importantes exportadores como Paquistão e Tailândia. Até aqui, as chuvas registraram volumes dentro da média esperada em quase todos os países produtores. 

"Com exceção da China, cuja temporada possui expectativas cada vez mais positivas, não houve revisões para Ásia na nova projeção, pois será determinante o acompanhamento das precipitações nessas regiões até outubro", afirma. 

Enquanto no Brasil o La Niña traz preocupação para chuvas irregulares, se confirmado, o fenômeno pode levar impactos positivos para a produção da Ásia. 

Chuvas de monções 

Os olhos do mercado se voltam agora para as chuvas de monções na Índia, que até a última semana tiveram volume 1% abaixo da média esperada, registrando 353,3. 

"Analisando-se especificamente pelas regiões canavieiras dos principais estados produtores, o cenário pode ser ainda mais favorável. Separando os 20 principais distritos canavieiros de UP, os 10 de MH e os 10 de KA (72% da área total de cana da Índia), apenas 10 deles apresentam chuvas consideradas abaixo da normalidade pelo IMD, sendo 8 deles em Uttar Pradesh", destaca a StoneX.

O analista afirma, no entanto, que as condições do verão de 2024 podem ter prejudicado o desenvolvimento da cana 14-18 meses, plantada entre abril e setembro. Já para a cana plantada entre janeiro e março, de 12 meses, o cenário é mais positivo em termos de toneladas por hectare (TCH). 

A StoneX manteve a estimativa de 28,8 milhões de toneladas de açúcar (valor branco) para a Índia em 2024/25 (out-set), que representaria uma queda de 9,4% - majoritariamente concentrada em MH e KA, onde o plantio caiu até 20% em alguns distritos.

"Quando a gente pensa na Índia o ponto é se ele vão exportar ou não. Isso é o que deve impactar o mercado internacional e as negociações do açúcar. A princípio a Índia deve continuar fora do mercado de exportação justamente porque depois da demanda doméstica, a principal prioriedade do governo é o programa de etanol", afirma. 

 


Para a China, a tendência é a safra deste ano alcance a marca de 11 milhões de toneladas, de acordo com dados do Ministério da Agricultura da China. Se confirmada, a safra terá alta de 10,45 em relação ao ciclo anterior. 

"Assim, espera-se que as necessidades de importação de açúcar pela China possam diminuir em 2024/25, ou se manter mais constantes, principalmente porque a busca por substitutos vem crescendo. No acumulado até maio/24 do ciclo 2023/24, as importações de açúcares líquidos e “pós pré-misturados” somam 1,13 milhão de tons, recorde e aumento de 40% no ano", afirma o analista. 

Na Tailândia, o volume de chuva também foi satisfatório durante o primeiro semestre e também neste mês de julho. Muito semelhante com a Índia, é importante agora que as chuvas se mantenham para garantir o bom desenvolvimento dos canaviais. 

As estimativas de produção tailandesa continuam em 10,8 milhões de toneladas de açúcar (tel quel) em 2024/25 (+23,1%) e as exportações podem até superar 7,0 MMt.

É importante ressaltar que caso a Índia se confirme fora do mercado de exportação, mais uma vez a Tailândia deve assumir esse posto e se consolidar como segundo maior exportador de açúcar do mercado global. 

 

Por: Virgínia Alves | @imvirginiaalves
Fonte: Notícias Agrícolas

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