Açúcar: Grande entrega em julho não evita alta dos preços; entenda os motivos

Publicado em 04/07/2024 10:44
  • Na semana passada, o mercado fez a transição do contrato de julho para outubro. Apesar de uma entrega robusta em julho, os preços do açúcar romperam a resistência e alcançaram um patamar acima dos 20 c/lb devido a antecipação do relatório da Unica.
     
  • A falta de chuva aumentou o pessimismo em relação ao mix açúcar, com uma expectativa de 49,5% de mix, moagem de 48Mt e ATR entre 132 e 135 kg/t. O período de seca e a pior qualidade da cana ameaçam manter o mix abaixo de 51% até o final da temporada.
     
  • No entanto, apesar de ter confirmado um mix de apenas 49.7%, o relatório da Unica trouxe um valor superior às expectativas do mercado, e uma surpreendente moagem de quase 49 Mt na primeira quinzena de junho. Os preços do açúcar inicialmente perderam força, mas registraram ganhos durante o último pregão do contrato de julho.
     
  • O mercado está preocupado com o fato de que a qualidade da cana pode impedir um mix de açúcar acima de 51% no acumulado da safra, o que pode reduzir a produção do adoçante no Centro-Sul de 41,5 para 41 Mt. Apesar disso, o total de cana por hectare (TCH) continua alto, em 89,35 t/ha. 


    Na semana passada, o mercado mudou seu foco do contrato de julho para o de outubro, quando as opções expiraram e a entrega de julho se aproximou.

    “Durante essa transição, o açúcar encontrou força para ultrapassar sua resistência, levando a análise técnica a apontar para uma recuperação acima de 20 centavos, que foi alcançada na quinta-feira. Notavelmente, apesar de uma entrega robusta esperada para o vencimento de julho, a alta do açúcar pode ser atribuída à expectativa do mercado em relação à divulgação do relatório da Unica”, explica Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint Global Markets.
     

A falta de chuvas contribuiu para um certo pessimismo com relação ao mix açúcar, com uma expectativa média orbitando em torno de um mix de 49,5%, moagem de 48Mt e Açúcar Total Recuperável (ATR) entre 132 e 135 kg/t.

“Portanto, embora muitos possam argumentar que uma moagem de 48Mt seja difícil de ser percebida como altista, o período de seca e a pior qualidade da cana estão ameaçando o mix de açúcar”, observa.

“Se o último permanecesse abaixo de 50% durante a primeira quinzena de junho, poderia ser difícil atingir um nível acima de 51% até o final da temporada. E foi mais ou menos isso que aconteceu”, pontua.

O relatório da Unica foi divulgado na sexta-feira (28), confirmando um mix mais baixo, de 49,7%. No entanto, este ainda era mais forte do que a média do mercado esperava.

“O que foi surpreendentemente alto foram os valores de moagem. O Centro-Sul atingiu quase 49 Mt durante a primeira quinzena de junho! Logo após a divulgação da Unica, os preços do açúcar perderam força, mas conseguiram dar a volta por cima e registrar ganhos durante o último pregão de julho”, pondera.

Em geral, o mercado ainda se preocupa com o fato de que a qualidade da cana possa impedir um mix de açúcar acima de 51%. Como resultado, das atuais estimativas de 41,5 Mt, a produção do adoçante no Centro Sul poderia ser rebaixada para 41 Mt.

Segundo Lívea, essa ideia, juntamente com o fato de que o desenvolvimento da cana foi longe do ideal, é a maior razão por trás do movimento do mercado. “No entanto, observe que o Total de Cana por Hectare (TCH) ainda está acima da média histórica. Mesmo sendo 5,2% menor em comparação com a temporada passada, ainda está na extremidade alta dos resultados, em um nível acumulado de 89,35 t/há”, ressalta.

“No final, os números da Unica não provocaram nenhuma revisão em nossas estimativas. Embora a moagem de cana tenha sido maior do que o esperado, espera-se que o final da safra seja mais apertado do que no ano passado. Mantivemos 613,5 Mt de cana e 51,2% de mix açúcar, mas com um aviso: se este último não reagir na próxima quinzena, um nível de 51% pode ser mais provável”, analisa.

Esse burburinho do Centro-Sul acabou roubando os holofotes e a última liquidação de julho foi mais alta do que o esperado, dado o volume robusto antecipado para a entrega. Com mais de 1 Mt entregues, acima da média de cinco anos, os preços ultrapassaram 20c/lb, mas mantiveram o carry.

“Fundamentalmente, o formato da curva ainda indica que o mercado espera um aperto maior à medida que se aumenta a dependência do fluxo comercial do Hemisfério Norte”, diz.

Notícias, como as preocupações relatadas em relação à doença do "red hot" nos campos de cana de Uttar Pradesh, contribuem para essa tendência.

Em resumo, embora um dólar americano mais ameno e a recuperação dos preços do complexo energético possam ter contribuído para o desempenho do açúcar, o recente aumento parece ter sido impulsionado principalmente pelo seu próprio mercado.

A antecipação do relatório da Unica e os resultados médios do Centro-Sul criaram um burburinho que desviou os olhos dos traders da entrega significativa do contrato de julho. Os fundos podem ter aliviado seu posicionamento de vendidos, mas o Brasil ainda pode produzir mais de 41 Mt.

Ainda há muito a ser desvendado. Entender o mix de açúcar parece ser uma das tarefas mais complicadas para esta temporada. Ao mesmo tempo em que o açúcar paga um prêmio considerável em relação ao etanol, a qualidade da cana pode impedir que as usinas atinjam suas metas.

Fonte: Hedgepoint Global Markets

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