Ausência de mudanças nos fundamentos traz nível de suporte mais baixo ao açúcar
O açúcar tentou se recuperar no início da semana passada, com os contratos de julho chegando a 18,68 centavos de dólar por libra-peso na segunda-feira. No entanto, no restante da semana, as condições foram desfavoráveis para os traders mais altistas, com o fortalecimento do índice do dólar e o reconhecimento, pelo mercado, de que os fundamentos do açúcar seguem baixistas.
A forte safra brasileira e as exportações robustas contribuíram para uma perspectiva de baixa, com as exportações da região Centro Sul em abril superando os recordes anteriores, atingindo quase 1,6 Mt.
A alfândega chinesa divulgou os números de importação de abril, mostrando uma redução de 20 kt em comparação com o mesmo período do ano passado, reafirmando a abordagem de compra seletiva da China. Rumores de compras adicionais e recalibração da arbitragem de importação sugerem um suporte menor.
Além disso, a ameaça iminente do La Niña representa um risco de longo prazo, podendo afetar a produção de açúcar em 2025.
O açúcar fez outra tentativa de recuperação no início da semana passada, depois de romper o nível de suporte de 18c/lb em 16 de maio. O fechamento de julho atingiu 18,68c/lb na segunda-feira, refletindo também um dia relativamente monótono em outros mercados. O índice do dólar permaneceu estável, enquanto o complexo de energia passou por correções.
“Entretanto, o restante da semana não favoreceu os traders altistas. O índice do dólar voltou a se fortalecer, e o mercado reconheceu que os fundamentos do açúcar não mudaram, pelo menos não no curto prazo”, observa Lívea Coda, analista de Açúcar da Hedgepoint Global Markets.
Segundo a analista, “a safra brasileira começou em um ritmo acelerado, e as exportações continuaram fortes, contribuindo ainda mais para a perspectiva de baixa. Em abril, a região Centro Sul superou seu volume recorde da temporada 2017/18, exportando quase 1,6 Mt, de acordo com a Williams”.
Pode-se esperar que os volumes de exportação de maio sejam ainda maiores. Com aproximadamente 4,7 Mt já nomeadas para embarque, o congestionamento nos portos aumentou ao longo do mês, atingindo níveis máximos para essa época do ano, embora isso não deva impedir que o açúcar alcance os fluxos comerciais globais.
“A manutenção do clima seco, juntamente com as atividades das usinas, deve apoiar os resultados das exportações”, diz.
Também com relação aos fundamentos atuais, a alfândega chinesa divulgou os números de importação de abril, alinhados com as expectativas iniciais. O país importou 50kt durante o mês, refletindo uma redução de 20kt em comparação com o mesmo período do ano passado.
“Isso reafirma a abordagem de compra da China: com os 3,1 Mt já importados nesta temporada, o país está confortável para realizar compras seletivas com base na viabilidade do preço”, explica.
As recentes flutuações do açúcar bruto, que caiu abaixo de 18 c/lb, geraram rumores de que a China adquiriu mais 350kt, com chegada prevista para junho e julho, o que está de acordo com os padrões sazonais. Considerando que o suporte foi identificado em torno de 18 c/lb, isso sugere que a arbitragem de importação chinesa está se recalibrando lentamente de um prêmio de 605 RMB/t para a paridade apenas do ZCE, calculada em 17 c/lb.
Durante a quinzena anterior, a maior parte da atividade de negociação girou em torno de 18,56 c/lb, com o volume de negociação mais alto caindo abaixo dessa marca.
“Consequentemente, o cenário atual de preços do açúcar residindo abaixo desse limite, em 18,3 c/lb, não é inesperado, com notável dificuldade para ultrapassá-lo. Tanto fatores fundamentais quanto o interesse do mercado contribuem para esse desafio”, pondera.
De acordo com Lívea, a chegada iminente do fenômeno La Niña representa um risco significativo a longo prazo. Sua possível ativação durante o inverno do Centro Sul e o verão do Hemisfério Norte tem 50% de probabilidade e, caso se manifestar como um evento moderado, poderá impulsionar a produção de açúcar nesta temporada. No entanto, a probabilidade de sua ocorrência aumenta à medida que nos aproximamos do final de 2024, o que implica que a principal janela de desenvolvimento da cana no Centro Sul para 2025, especialmente entre outubro-janeiro, poderá ser afetada por precipitações abaixo da média. Essa perspectiva leva a uma expectativa de alta para os contratos de 2025, especialmente os de julho e outubro.
Em resumo, os preços do açúcar subiram brevemente, mas logo se corrigiram devido à ausência de mudanças nos fundamentos. A safra robusta do Brasil e suas exportações em alta, junto com a queda nas importações e no suporte da China, impediram qualquer tendência forte de recuperação. Embora o La Niña possa aumentar a produção este ano, ele também pode levar a uma oferta menor em 2025, atuando como um fator altista que vale a pena monitorar.