Sentimento altista tomou controle da situação no mercado de açúcar, avalia hEDGEpoint

Publicado em 19/04/2023 10:55

Vindo de uma semana em que os preços tanto do açúcar bruto, quanto do branco romperam os níveis de resistência anteriores, já sabíamos que o sentimento altista tinha tomado a frente já na segunda-feira passada (10). Neste relatório, pretendemos explorar os principais eventos que levaram ambas as qualidades do adoçante a atingir um nível superior às suas máximas de 10 anos. 

Com a proximidade do vencimento do branco, vimos os resultados do açúcar de alta qualidade superando o bruto e alcançando o recorde de 11 anos em 706,9 USd/t, com um prêmio do branco igualmente expressivo (quase 40 USd/t acima da média de 10 anos). O valor entregue atendeu às expectativas do mercado já que dados preliminares apontam para apenas 243kt, permanecendo reduzido apesar do spread inverso elevado o que confirma que a disponibilidade do adoçante permanece restrita nas refinarias. Hoje devemos ter a confirmação da ICE. 

Mas esse não foi o único fator por trás do expressivo volume negociado na semana. Não apenas o posicionamento especulativo comprado aumentou, mas os comerciais participaram deste movimento, sendo os fundos indexados os principais players do lado baixista. Isso é bastante intrigante e pode indicar que algumas origens estão fixadas abaixo da média do mercado, adicionando combustível ao fogo de curto prazo: em algum momento, uma correção é necessária. 

Com a intensificação constante de alguns fundamentos antigos, como a deterioração das safras da Índia, China e Tailândia e os números finais da safra 22/23 do Centro Sul do Brasil ficando abaixo das expectativas do mercado em quase 2 Mt, o preço do açúcar bruto não parecia ter um teto. Os números da Unica confirmaram que a safra 22/23 não atingiu as 550Mt esperadas pelo mercado, permanecendo perto de 548Mt. Enquanto alguns veem as atuais usinas ativas como um fator baixista, a segunda quinzena de março permaneceu abaixo da média, sendo o segundo menor resultado em uma década. Ressalta-se, porém, que o incremento no ritmo já era esperado e precificado pelo mercado desde que as perspectivas de safra melhoraram.

Para completar, desde março, a moeda brasileira vem enfrentando uma tendência de valorização. O movimento se intensificou na última semana quando finalmente caiu abaixo de 5 BRL/USD. Isso contribuiu para parte dos resultados observados nos preços do adoçante: o mercado pode precisar compensar essa redução no preço final recebido pelo produtor brasileiro.

De 3 a 12 de abril, a maior parte do volume de açúcar bruto foi negociado a 23,97USc/lb. Nesse sentido, depois de cair abaixo desse nível na quinta-feira, alguns temeramque a correção estivesse se aproximando.

No entanto, no mesmo dia, o NOAA atualizou a previsão de intensidade do El Niño. A expectativa do padrão climático ficou mais próxima de moderada já na janela abril/maio/junho. Esta notícia se opõe ao recente anúncio de que as monções da Índia devem ser médias, pois aumenta a probabilidade de um clima mais seco do que o normal na Ásia, especialmente quando combinado com o Dipolo do Oceano Índico (IOD), que também foi confirmado como positivo pelo Bureau of Meteorology da Austrália. Portanto, a produção total da próxima temporada do Hemisfério Norte pode sofrer reduções, adicionando suporte à atual estrutura de spread, especialmente março/maio24.

Embora não deva afetar o contrato de maio, notícias como esta também trazem preocupações em relação à safra brasileira de 23/24 -- impactando de forma mais expressiva os contratos de julho e outubro. O mercado já está precificando cana de menor qualidade (ATR) em relação às duas últimas safras, pois a previsão de chuvas é acima da média no meio e no final da safra (também já atrapalhando o seu início). No entanto, ainda é um fator “esperar para ver”, mas não é de se admirar que julho e outubro também tenham ultrapassado o nível de 23 USc/lb.

Não surpreendentemente, os preços estão, em média, 700 pts mais altos ao longo da curva futura quando comparados à média de 5 anos. A deterioração da safra do Hemisfério Norte não só nesta safra 22/23 (out-set) mas possivelmente na próxima (23/24) também oferece sustentação aos preços do adoçante.

Fonte: hEDGEpoint Global Markets

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