Sentimento altista tomou controle da situação no mercado de açúcar, avalia hEDGEpoint
Vindo de uma semana em que os preços tanto do açúcar bruto, quanto do branco romperam os níveis de resistência anteriores, já sabíamos que o sentimento altista tinha tomado a frente já na segunda-feira passada (10). Neste relatório, pretendemos explorar os principais eventos que levaram ambas as qualidades do adoçante a atingir um nível superior às suas máximas de 10 anos.
Com a proximidade do vencimento do branco, vimos os resultados do açúcar de alta qualidade superando o bruto e alcançando o recorde de 11 anos em 706,9 USd/t, com um prêmio do branco igualmente expressivo (quase 40 USd/t acima da média de 10 anos). O valor entregue atendeu às expectativas do mercado já que dados preliminares apontam para apenas 243kt, permanecendo reduzido apesar do spread inverso elevado o que confirma que a disponibilidade do adoçante permanece restrita nas refinarias. Hoje devemos ter a confirmação da ICE.
Mas esse não foi o único fator por trás do expressivo volume negociado na semana. Não apenas o posicionamento especulativo comprado aumentou, mas os comerciais participaram deste movimento, sendo os fundos indexados os principais players do lado baixista. Isso é bastante intrigante e pode indicar que algumas origens estão fixadas abaixo da média do mercado, adicionando combustível ao fogo de curto prazo: em algum momento, uma correção é necessária.
Com a intensificação constante de alguns fundamentos antigos, como a deterioração das safras da Índia, China e Tailândia e os números finais da safra 22/23 do Centro Sul do Brasil ficando abaixo das expectativas do mercado em quase 2 Mt, o preço do açúcar bruto não parecia ter um teto. Os números da Unica confirmaram que a safra 22/23 não atingiu as 550Mt esperadas pelo mercado, permanecendo perto de 548Mt. Enquanto alguns veem as atuais usinas ativas como um fator baixista, a segunda quinzena de março permaneceu abaixo da média, sendo o segundo menor resultado em uma década. Ressalta-se, porém, que o incremento no ritmo já era esperado e precificado pelo mercado desde que as perspectivas de safra melhoraram.
Para completar, desde março, a moeda brasileira vem enfrentando uma tendência de valorização. O movimento se intensificou na última semana quando finalmente caiu abaixo de 5 BRL/USD. Isso contribuiu para parte dos resultados observados nos preços do adoçante: o mercado pode precisar compensar essa redução no preço final recebido pelo produtor brasileiro.
De 3 a 12 de abril, a maior parte do volume de açúcar bruto foi negociado a 23,97USc/lb. Nesse sentido, depois de cair abaixo desse nível na quinta-feira, alguns temeramque a correção estivesse se aproximando.
No entanto, no mesmo dia, o NOAA atualizou a previsão de intensidade do El Niño. A expectativa do padrão climático ficou mais próxima de moderada já na janela abril/maio/junho. Esta notícia se opõe ao recente anúncio de que as monções da Índia devem ser médias, pois aumenta a probabilidade de um clima mais seco do que o normal na Ásia, especialmente quando combinado com o Dipolo do Oceano Índico (IOD), que também foi confirmado como positivo pelo Bureau of Meteorology da Austrália. Portanto, a produção total da próxima temporada do Hemisfério Norte pode sofrer reduções, adicionando suporte à atual estrutura de spread, especialmente março/maio24.
Embora não deva afetar o contrato de maio, notícias como esta também trazem preocupações em relação à safra brasileira de 23/24 -- impactando de forma mais expressiva os contratos de julho e outubro. O mercado já está precificando cana de menor qualidade (ATR) em relação às duas últimas safras, pois a previsão de chuvas é acima da média no meio e no final da safra (também já atrapalhando o seu início). No entanto, ainda é um fator “esperar para ver”, mas não é de se admirar que julho e outubro também tenham ultrapassado o nível de 23 USc/lb.
Não surpreendentemente, os preços estão, em média, 700 pts mais altos ao longo da curva futura quando comparados à média de 5 anos. A deterioração da safra do Hemisfério Norte não só nesta safra 22/23 (out-set) mas possivelmente na próxima (23/24) também oferece sustentação aos preços do adoçante.