Usinas de cana do Brasil encerram temporada com chuvas prejudicando colheita
Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) – A maioria das usinas da região centro-sul do Brasil, a principal produtora de cana do mundo, está encerrando a moagem na temporada 2022/23, deixando milhões de toneladas da matéria-prima nos campos para a colheita do próximo ano, já que as chuvas tornam as operações difíceis e ineficientes.
Analistas e corretores acreditam que a temporada brasileira de açúcar e etanol basicamente terminou, apesar da expectativa anterior de que as usinas continuariam até dezembro para tentar moer a cana disponível e lucrar com os altos preços de referência do açúcar.
“É muito provável que muitas usinas resolvam, mesmo tendo cana para moer, já encerrar as atividade, porque a probabilidade de pisoteio (pelas máquinas), começa a ficar grande, e o pisoteio causa redução da longevidade da cana-soca. Para evitar isso, elas resolvem interromper a moagem”, disse Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) esperava que mais de 70 usinas na região ainda estivessem operando em dezembro para esmagar a cana disponível, após um início tardio da temporada em abril, mas isso agora parece improvável.
“Tem chovido no centro-sul e isso vai dificultar as coisas para essas usinas. Algumas podem simplesmente decidir fechar para a temporada”, disse um trader de açúcar dos Estados Unidos.
De acordo com o Eikon Agriculture Weather Dashboard da Refinitiv, choverá todos os dias na importante região canavieira de Ribeirão Preto, até pelo menos 19 de dezembro.
Nastari diz que cerca de 8 milhões ou 9 milhões de toneladas de cana podem ser processadas no primeiro trimestre de 2023, antes do início oficial da nova temporada, em abril.
Esse volume pode significar cerca de 800.000 toneladas de açúcar.
Os problemas no Brasil somam-se às dificuldades da temporada açucareira indiana, também devido às chuvas, levando a uma escassez de disponibilidade de açúcar no momento.
Os prêmios do açúcar brasileiro no porto de Paranaguá, o 2º mais importante para os embarques no Brasil, atingiram 100 pontos sobre os futuros nesta semana, segundo dados da Datagro, um dos maiores diferenciais já registrados, já que os traders se voltaram para o Brasil para compensar os atrasos na obtenção do açúcar indiano.
(Reportagem de Roberto Samora em São Paulo e Marcelo Teixeira em Nova York)