Qualidade da safra de cana em xeque: Seca no Centro-Sul e em PE chuvas causam danos; veja vídeo

A nova safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil começou em abril, ainda lenta. Agora, já na primeira quinzena de junho, com avanço da colheita e dos trabalhos de moagem na principal região produtora do Brasil, as informações que vêm do campo dão conta de preocupações com a qualidade.

"Os lotes de cana-de-açúcar da nova temporada 2022/23 têm apresentado baixo teor de sacarose, resultando em menor produção de açúcar", disse em nota o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP). 

Os dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) da primeira quinzena de maio também apontam para essa preocupação.

A qualidade da matéria-prima colhida na primeira metade do mês, em kg de ATR por tonelada de cana-de-açúcar processada, apresentou retração de 4,95% na comparação com o mesmo período do último ciclo agrícola (2021/22), registrando 124,95 kg de ATR por tonelada colhida.

No acumulado da safra, a queda é de 5,37% com o indicador marcando 117,26 kg de ATR por tonelada.

Com esses primeiros resultados aquém das expectativas, as usinas do Centro-Sul têm priorizado na comercialização neste momento o cumprimento dos contratos de cristal fixados anteriormente, além de direcionarem maior quantidade da cana para a produção do etanol, que deve ser o destaque dessa temporada.

Haroldo Torres, gestor do Pecege, levantou ao Notícias Agrícolas que os canaviais da safra 2022/23 ainda carregam os impactos climáticos da última temporada, além de uma situação atípica de pragas e ervas daninhas desde o início do ano.

"Nós temos sim esperado para essa safra que se inicia uma recuperação da produtividade, mas esta já começa a ser revista em algumas regiões", disse Torres.

"Não é aquela safra que estava se falando no início dela. Será uma safra um pouco maior, sim, mas a produção agrícola não está tão alta, apesar de a rapidez da safra estar indo muito bem", complementa Arnaldo Bortoletto, presidente Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana).

Bortoletto destaca ainda que o tempo mais seco neste momento de colheita tem favorecido os trabalhos na maioria das unidades produtoras do Centro-Sul.

Chuvas em PE afetam plantações e usina Coaf

Se o tempo firme tem favorecido os trabalhos no Centro-Sul, apesar de preocupação com a qualidade, em Pernambuco, a chuva danificou plantações de cana-de-açúcar nos últimos dias e danificou as estruturas da usina Coaf (Cooperativa do Agronegócio dos Associados da Associação dos Fornecedores de Cana de Açúcar), em Timbaúba (PE), molhando motores e máquinas, os quais 70% já estavam prontos para a nova safra com início previsto para o final de agosto.

As chuvas têm castigado o estado de Pernambuco nos últimos dias, com cidades registrando acumulados diários que passam dos três dígitos. Até o momento, foram registradas 128 mortes.

"A usina foi tomada pelas águas, tendo áreas inundadas com até um metro de altura. A mais afetada foi no administrativo, mas sem grandes danos. O setor industrial também. Ao menos, 100 motores e 30 máquinas de solda ficaram muito molhados", disse a usina em nota ao Notícias Agrícolas.

O trabalho de recuperação, com o uso de estufas, começou. A previsão é de que tudo esteja pronto até o início da safra. Apesar disso, a unidade prevê uma boa moagem, com expectativas até de recortes em função dos volumes de chuva nos canaviais dos cooperados da usina.

Duas faces de chuva. Também foram registrados danos em canaviais recém-plantados do estado, com trabalhos que terão que ser refeitos ao custo de R$ 12 mil por hectare, segundo a Coaf. Em outros pontos da Mata Norte, porém, as chuvas beneficiaram o desenvolvimento de alguns canaviais. Cerca de 8 mil produtores plantam cana no estado de Pernambuco.