Importação de etanol com taxa zero deve baixar preços dos combustíveis, mas prejudica setor, diz analista da Safras
A decisão do governo brasileiro de zerar a tarifa de importação de etanol e açúcar cristal até o final do ano, além de outros alimentos, deve baixar o preço dos combustíveis aos consumidores no Brasil na faixa de R$ 0,20 o litro, mas prejudica muito o setor sucroenergético na visão do analista da Safras & Mercado, Maurício Muruci.
“A medida pode prejudicar muito o setor, já que abrange açúcar e etanol. A decisão vem em um momento de início de safra, com tendência de maior produção de etanol hidratado, altos estoques, e agora importação incentivada”, explicou o analista ao Notícias Agrícolas.
O anúncio de tarifas zeradas para de importação sobre etanol e de seis tipos de alimentos foi feito na noite de ontem pelo Ministério da Economia em um esforço para conter a inflação elevada.
A tarifa para importação de etanol é de 18% e açúcar de 16%. Com a decisão do governo, as transações ficariam zeradas a partir da data de publicação no Diário Oficial da União, que deve ocorrer ainda nesta quarta-feira (23) e com o câmbio atual, abaixo de R$ 5, as importações serão estimuladas, principalmente do biocombustível norte-americano.
“A janela está aberta e vai compensar a importação, com o câmbio favorável e a queda na taxa de importação. Nos EUA, os preços do etanol de milho não estão tão baixos por conta do atual momento da safra, que ainda vai começar no país, mas ainda assim vão compensar para os importadores”, destacou o analista de mercado.
Já a S&P Global Commodity Insights não vê importação compensando no Brasil. "No momento, não há atratividade pelo produto, a janela de arbitragem permanece fechada mesmo com a tarifa de importação de etanol zerada", disse Beatriz Pupo, analista sênior de biocombustíveis da empresa.
De acordo com os últimos cálculos da S&P, a arbitragem está fechada em mais de R$ 300/m3 para embarque no mercado spot. Ainda de acordo com a fornecedora de informações sobre energia, as projeções para os preços dos combustíveis devem seguir inalteradas.
Apesar do potencial de queda nos preços dos combustíveis, cenário que vem impactando a inflação no país há alguns meses, a decisão não muda o cenário externo de fundamentos do petróleo.
“A medida do governo é paliativa. Ela vai fazer com que os preços dos combustíveis caiam no Brasil, na faixa de R$ 0,20 o litro, mas não impede que o petróleo siga se valorizando lá fora e a tendência segue de alta para o óleo sem uma definição clara na guerra entre Rússia x Ucrânia”, explica Muruci.
Para a agência de notícias Reuters, o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, disse que a tarifa do etanol zerada poderá reduzir em R$ 0,20 o preço do litro da gasolina na bomba. As medidas, porém, têm um custo estimado em R$ 1 bilhão por ano aos cofres do governo federal com a perda da arrecadação.
"A liberação da tarifa de importação está diretamente ligada a tentativa de conter a inflação visto a alta dos preços de combustíveis no país. Não haveria necessidade da liberação da taxa se pensarmos apenas a partir da ótica de fundamentos de oferta e demanda, visto o alto nível de estoques no momento e a expectativa de uma safra com maior produção de etanol em 2022/23", pontua Beatriz.
Em todo o ano passado, o Brasil registrou importação de 432,08 milhões de litros de Álcool etílico não desnaturado, com um teor alcoólico, em volume, igual ou superior a 80 % vol, com um teor de água igual ou inferior a 1% vol, sendo os Estados Unidos o principal fornecedor. Nesse início de 2022, foram 91,09 milhões de l.
Em nota, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) destacou que se preocupa com a decisão e que o cenário pode impactar a indústria nacional e afastar invesimentos.
"A entidade acredita que a medida poderá gerar efeitos adversos e indesejados num momento de instabilidade do mercado, tais como a insegurança jurídica, aumento de custo para indústria nacional, inibição da geração de emprego e o processo de desinvestimento", disse a entidade.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) disse que não irá se manifestar sobre o assunto.