Bloomberg: Preços do açúcar em alta com crise global de energia e elevação da produção de etanol
A crise energética global está impactando o mercado de açúcar, à medida que os maiores exportadores mundiais convertem mais cana-de-açúcar em etanol.
O açúcar atingiu picos de quatro anos em outubro enquanto a escassez de energia abalava os mercados de commodities, afetando a produção de vários produtos, de magnésio a tomates. Com o salto dos preços dos combustíveis, Brasil e Índia devem produzir mais etanol a partir da cana-de-açúcar, o que deve manter a oferta da commodity apertada.
"Esses são os dois grandes players no mercado de açúcar, e a pressão sobre eles para produzir mais etanol nos próximos 12 meses é favorável aos preços do açúcar", disse John Stansfield, trader e analista do Grupo Sopex.
O contrato mais ativo do açúcar branco na ICE subiu 1,2% em Londres na segunda-feira, levando o ganho deste ano para 22%. O açúcar bruto subiu 1,1% em Nova York. Ambos os contratos dispararam em agosto, quando ficou claro que geadas prejudicariam a safra brasileira deste ano.
Os preços da gasolina na bomba em São Paulo chegaram a 6 reais por litro pela primeira vez no mês passado, aumentando a demanda por etanol que também é usado para mover carros no Brasil. As importações de gasolina do país aumentaram mais de 10 vezes no terceiro trimestre, para 42 mil barris por dia, disse a empresa estatal de energia Petrobras SA em um documento em outubro.
"O mercado interno de etanol e o mercado internacional de açúcar disputam a cana brasileira", disse Andy Duff, chefe de pesquisa de alimentos e agronegócios da América do Sul do Rabobank, em entrevista por telefone de São Paulo. O petróleo acima de US$ 80 o barril criou um piso de cerca de 17 centavos de dólar por libra para o açúcar, disse.
O segundo maior exportador de açúcar do mundo, a Índia, planeja que o etanol represente 20% das misturas de combustível veicular até 2025, aproveitando o excesso de produção de açúcar que inundou os mercados mundiais nos últimos anos.
Essa estratégia pode resultar em uma queda na produção de açúcar refinado no próximo ano, disse a Indian Sugar Mills Association na quinta-feira.
"O ‘downsizing’ é algo lento, mas as estimativas da ISMA são um sinal tangível de que o processo começou", disse Tobin Gorey, estrategista de commodities agrícolas do Commonwealth Bank of Australia em nota na sexta-feira.
As exportações de açúcar indiano podem cair mais da metade na temporada 2022/23 em relação aos 6 milhões de toneladas deste ano, disse a Engelhart Commodities Trading Partners em conferência recente.
Com tradução de informações da Bloomberg