Para Copersucar, Brasil é peça-chave para suprir demanda global por alimentos e energia sustentável nos próximos 30 anos
Nesta segunda-feira, 25/10, Luis Roberto Pogetti, Presidente do Conselho de Administração da Copersucar S.A., da Alvean e do Centro de Tecnologia Canavieira S.A, esteve ao lado de Pablo Di Si, Presidente da VW Latin America, no primeiro painel da 21ª Conferência Datagro sobre Açúcar e Etanol, evento que traz como tema central “Na Rota da Mobilidade Sustentável”, reunindo os principais representantes dos setores sucroenergético, automobilístico e ambiental.
De acordo com Pogetti, o Brasil tem uma posição essencial para atender as necessidades de nutrição e energia que serão exigidas pelo mundo em um cenário de riscos globais, mudanças climáticas e crescimento populacional, onde o etanol deve ter uma posição de evidência. “O problema é global e a solução tem que ser global. Nada pode ser desperdiçado, pois a necessidade é a demanda. As relações colaborativas e o comércio precisarão crescer”.
O aquecimento global é uma realidade. Desde 2012, a variação de temperatura no mundo tem ficado entre 1 e 1,5ºC (1), já sendo possível verificar aumento de frequência, intensidade e gravidade de eventos meteorológicos extremos. No Brasil, por exemplo, observamos a seca mais intensa dos últimos 95 anos e o retorno de geadas em São Paulo, enquanto que em outros locais do planeta, assistimos incêndios florestais, como os que ocorreram na Califórnia e na Europa, e ondas de frio em pleno Texas. Estes eventos climáticos devem gerar impactos na oferta de alimentos e energia, além de contribuir com a inflação.
Conforme dados do World Economic Fórum (WEF), entre os principais riscos que podem gerar impactos para as cadeias de alimentos e combustíveis nos próximos 10 anos estão os danos ao meio ambiente, que trarão o aumento da temperatura e um clima extremo, uma consequente crise nos recursos naturais e a geopolitização por recursos.
Soma-se a este cenário, o esperado crescimento populacional em regiões em desenvolvimento que deve interferir no fluxo e demanda global por alimentos. Estimativas da FAO (2020), UFJF (2009) e IEP (2021) preveem um aumento de 25% no número de pessoas no planeta nos próximos 30 anos, atingindo 9,8 bilhões de habitantes em 2050. A principal região que deve ter esta elevação é a África Subsaariana com 94%, seguido do restante do continente africano que deve crescer 84%. Na Oceania, a previsão é que esta taxa chegue a 34%, enquanto que América do Sul, América do Norte e Asia devem ter evoluções semelhantes, na casa de 17%, 15% e 14%, respectivamente.
Outro fator que deve potencializar a demanda global por alimento é o crescimento do PIB nos países emergentes, o que ampliará acesso à comida. A expectativa é que estes países cresçam 5,3% contra um índice de apenas 1,5% nos desenvolvidos. Nesta conjuntura de aumento da demanda com potencial queda de produção há possibilidade, inclusive, de motivar conflitos sociais e geopolíticos. Por isso, a colaboração entre os países é vital para suprir as necessidades globais de forma sustentável.
Entre 1990 e 2008, houve uma grande corrente de globalização que gerou um aumento em 22 pontos percentuais no trading mundial. Alguns eventos, como a criação do Mercosul (1991), da União Europeia (1993) e do NFTA (1994), contribuíram para impulsionar esta fase. Porém, desde a crise de 2008, o livre comércio vem se fragilizando, movimento potencializado por fatos como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, o Brexit e outros movimentos de protecionismo que interferem no ambiente de negócios global e limitam ainda mais os fluxos de distribuição internacional de alimentos. “Precisamos ter um mercado aberto, de livre comercio para atender a demanda global. O protecionismo não se encaixa nesta equação”, disse Pogetti.
Para encontrar uma saída nesta complexa situação de mudanças climáticas com impacto na oferta de produto, recursos naturais mais escassos, crescimento populacional, limitações na distribuição global de alimento e aumento da disparidade de renda, será indispensável potencializar as iniciativas que promovam a ampliação na colaboração do comércio internacional de produtos, melhorar a utilização dos recursos e desenvolver tecnologias de produção mais eficientes. Acrescenta-se a necessidade do mundo em se descarbonizar, focando em energia sustentável para suportar a crescente demanda, onde novos investimentos devem priorizar fontes limpas e renováveis.
Brasil e o etanol
É na contramão deste crítico panorama dos próximos 30 anos, que está a América Latina, região do planeta com a maior disponibilidade de terra arável com abundância de recursos hídricos. Representando 48% da área, o Brasil tem grande capacidade para suportar o crescimento de demanda global por alimento e energia renovável de forma eficiente e sustentável. Atualmente, o país detém 11% da área livre agricultável do mundo, com potencial de 250 mi de hectares adicionais para cultivo, e aproximadamente 40% da área com água, sem impactar biomas naturais, como Amazônia e Pantanal (2).
O Brasil é uma referência em sustentabilidade e geração de energia limpa. Um exemplo claro que coloca o país no protagonismo mundial é o etanol, um combustível sustentável, limpo, renovável, com mais de 45 anos de história e elevada capacidade de produção. Neste período, o etanol apresentou grande evolução e eficiência, multiplicando a sua produção em mais de 45 vezes e, hoje, o preço é cerca de 70% menor em relação ao valor inicial.
O etanol usado no Brasil contribuiu para uma melhor qualidade do ar com a redução das emissões de carbono em diversas cidades.É o caso de São Paulo, que tem o 24º pior transito do mundo (dados Traffic Index) e está entre as 10 cidades mais populosas do planeta, mesmo assim, é apenas 1476ª colocada no ranking mundial de cidades mais poluídas (IQAir).
Entre as cidades mais populosas do mundo, a capital paulista tem o ar menos poluído que Delhi, Dhaka, Shangai, Pequim, Cidade do México, Istambul e Los Angeles (3). O fruto deste resultado vem do fato da cidade ter a maior frota urbana do mundo de veículos Flex e o Brasil apresentar o maior percentual de etanol na mistura com a gasolina. O índice no País é de 27%.
De acordo com a apresentação do executivo, considerando “desde o poço à roda”, o etanol brasileiro é o combustível mais eficiente e o seu uso reduz emissões de carbono na atmosfera. A gasolina convencional nos Estados Unidos, que tem 10% de mistura de etanol de milho, emite quase 5 vezes mais CO2 que o etanol de cana; e a mistura brasileira emite 3,5 vezes mais CO2 que o carro movido apenas a etanol (4).
E diferente do que muitos pensam, a contribuição ambiental do carro elétrico é menor que a do movido a etanol. Em uma comparação com a matriz energética dos Estados Unidos, o carro elétrico chega a poluir 1,6 vezes mais que o automóvel a etanol. Panorama semelhante quando a análise é o carro elétrico europeu.
Além disso, o etanol brasileiro já possui um alicerce estabelecido através de mais de 35 milhões de veículos flex, de uma infraestrutura de distribuição eficiente com mais de 40 mil postos de combustíveis em um país continental. “Uma estrutura madura que não pode ser desperdiçada e deve compor o portfólio de alternativas de combustíveis sustentáveis no país”, comenta o executivo, que ressaltou o potencial do etanol para ser replicado para países com características semelhantes. Para o executivo, não haverá uma solução única para o mundo. Em alguns países a opção elétrica será a ideal, já no Brasil essa alternativa ainda tem desafios importantes, por ser um país com renda heterogênea, sem energia elétrica limpa excedente e com dimensões continentais que demandam altos investimentos. “Para ter uma rede de energia de carros a bateria (conhecidos como elétricos), o Brasil precisaria investir aproximadamente R$ 1 trilhão”, completa.
E neste ambiente, onde o Brasil é um polo de inovação tecnológica para o Etanol, o Programa RenovaBio será fundamental para contribuir com o próximo ciclo de crescimento do etanol em uma agenda conjunta com o setor automobilístico.
O país tem papel relevante não só na expansão da produção de alimentos para o mundo, mas também na expansão da produção de etanol, com eficiência e tecnologia. “Para ter segurança que é um caminho viável precisamos continuar a evoluir. Para entregar a expansão relevante necessária de produção de etanol e alimento (açúcar), a inovação e a tecnologia serão essenciais e o CTC terá um papel disruptivo nos próximos anos”, comenta Pogetti.
Na reprodução, o desenvolvimento de variedades convencionais com alta produtividade (elite), adaptadas ao ambiente de produção do Brasil, tem potencial de aumentar a eficiência em 25% e adicional ganho de 20% até 2030-35. Na biotecnologia a inserção de gene exógeno para fornecer características desejáveis ??para cana-de-açúcar permitirá maior resistência a insetos e tolerância a herbicidas, enquanto a edição do genoma para incluir novas características dará maior resistência a doenças e a seca. Outra frente é o desenvolvimento de sementes de cana-de-açúcar modificadas para permitir a otimização do plantio que possibilitará plantios mais sadios, ciclos mais curtos e redução de custos.