Uso do etanol previne 371 mortes prematuras ao ano na RMSP
O estudo “Impacto na saúde humana pelo uso de biocombustíveis na Região Metropolitana de São Paulo”, realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão do Ministério de Minas e Energia (MME), concluiu que o uso do etanol anidro misturado em 27% na gasolina e do etanol hidratado é determinante para a preservação da vida de 371 pessoas ao ano na RMSP, com um aumento associado na expectativa de vida em 13 dias.
O documento analisa principalmente os impactos na saúde do material particulado fino (MP 2,5), poluente altamente nocivo, capaz de penetrar nos pontos mais profundos do pulmão e na corrente sanguínea, causando inflamações no organismo humano. “Esta fração fina do material particulado atua no sistema circulatório, chegando até ele através dos pulmões nos vasos sanguíneos, provocando vários danos agudos ao sistema como um todo, levando a alterações no ritmo cardíaco, isquemia miocárdica, e alterações na coagulação sanguínea”, relata a nota técnica, em menção à estudo científico.
A pesquisa aponta que, caso o uso do combustível renovável fosse aumentado em 10% sobre a demanda de etanol hidratado de 2018, outras 43 mortes seriam evitadas ao ano, com o aumento da expectativa de vida de 1 dia.
Poluição e COVID-19
Complementarmente, estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, realizado em 2020, concluiu que o aumento de apenas 1% na concentração de material particulado fino (MP 2,5) no ar resulta em um incremento de 8% no risco de morte causada pela COVID-19.
No ano de 2018, a concentração anual média de MP 2,5 da RMSP foi de 18,53 μg/m³, segundo Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Os índices estão dentro do limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 20 µg/m³ de MP 2,5, sendo 10 µg/m³ o parâmetro ideal.
O cenário poderia ser mais grave caso não houvesse políticas governamentais que controlam a emissão de poluentes pelos veículos (PROCONVE) e preferência do consumidor por combustíveis limpos – segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, cerca de 60% do consumo de combustíveis do ciclo Otto na capital paulista é de etanol hidratado, que praticamente zera a emissão de material particulado.
“O tempo médio de uso do carro do paulistano é de cerca 2 horas e 10 minutos e vem aumentando, cerca de 10 minutos ao ano nos últimos 3 anos. Você vai perdendo cada vez mais tempo da sua vida e ganhando mais dose de poluição”, analisa Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que participou de webinar. “E ele é desigual. Porque você vê que os mais pobres são os que levam a maior dose para casa, pois são aqueles que permanecem mais tempo no trânsito”, complementa o estudioso, que tem trabalhado ativamente na análise de autópsia de COVID-19 no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Poluição como causa mortes
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a poluição atmosférica nas cidades e áreas rurais cause anualmente 4,2 milhões de mortes prematuras em todo o mundo (dados de 2016). Essa mortalidade se deve, principalmente, à exposição aos materiais particulados, pequenas partículas de diâmetro menor ou igual a 2,5 mícron (MP 2,5), que estão relacionados à ocorrência de doenças cardiovasculares e respiratórias, bem como a diversos tipos de câncer.
A OMS avalia que, em 2016, 58% das mortes prematuras relacionadas à poluição ambiental do ar foram causadas por doenças isquêmicas do coração e derrames, 18% foram provocadas por doença pulmonar obstrutiva crônica e infecções respiratórias agudas inferiores, enquanto 6% podem ser atribuídas ao câncer de pulmão
“Fetos, crianças abaixo dos 5 anos de vida e idosos são mais suscetíveis a doenças provocadas pelo material particulado, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonias, infecções do trato respiratório, arritmias cardíacas e quadros isquêmicos coronarianos. Estudos apontaram que as crianças e idosos compõem o grupo relacionado ao aumento de internações hospitalares por doenças respiratórias, devido a maior presença de particulado na atmosfera”, discorre o documento da EPE em referência a pesquisas acadêmicas.
Impactos financeiros
O estudo da EPE indica ainda que “caso não houvesse o uso de etanol, o impacto na economia seria negativo em cerca de R$ 25 bilhões em relação ao cenário base. Por outro lado, um aumento de 10% no consumo de hidratado geraria impacto positivo adicional de aproximadamente R$ 2 bilhões”. O cenário base de comparação leva em conta uso apenas de gasolina A, sem adoção de etanol anidro ou hidratado.