StoneX projeta que a área destinada à colheita de cana no Centro-Sul apresente redução anual de 0,4%

Publicado em 08/10/2020 12:33 e atualizado em 08/10/2020 13:23

Em meio à aproximação do fim da temporada de 2020/21 (abr-mar)no Centro-Sul, os agentes de mercado  já começam a direcionar suas atenções à próxima safra canavieira na região. Por isso, ao longo dos  próximos parágrafos, a equipe de Inteligência de Mercado da StoneX apresentará sua 1ª estimativa para  o ciclo de 2021/22 no cinturão canavieiro, bem como a 5ª revisão de suas projeções para o ciclo atual.

A primeira estimativa da StoneX para o ciclo sucroalcooleiro de 2021/22 projeta que a área destinada à  colheita de cana no Centro-Sul apresente redução anual de 0,4%, para cerca de 7.703,5 mil hectares. Não  somente a menor extensão com a cultura deve ser analisada, mas também a sua composição: estima-se  que a taxa de renovação das lavouras seja menor no ciclo analisado em relação ao anterior, na ordem de  12,6%. 

Embora a taxa de reforma citada seja menor no comparativo com o ciclo 2020/21, cuja proporção foi de 13,7%, observa-se que a renovação média esperada para a próxima safra se posiciona 2,6 pontos  percentuais acima da média dos últimos 5 anos. Vale ressaltar que estados considerados como áreas de  fronteira, tais como Goiás e Minas Gerais, seguem apresentando um ritmo mais intenso de reforma dos  canaviais, reforçando as perspectivas de melhores rendimentos essas lavouras. 

De modo geral, o cenário apresentado precisa ser analisado em conjunção às condições climáticas  negativas observadas durante  

2020, uma vez que as precipitações ocorridas ao longo deste ano impactam o desenvolvimento da cana  que será colhida no próximo. 

No acumulado de abril/20 a setembro/20, as precipitações no Centro-Sul totalizaram 176,9 mm, volume  28,4% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado e que se posiciona 41,3% abaixo da média  de longo prazo. Da mesma forma, para o restante de outubro, as previsões climáticas seguemapontando  para chuvas abaixo da normalidade. 

Inicialmente, o clima seco tende a estressar os canaviais colhidos durante o inverno, estes que atravessam  o período de intenso crescimento vegetativo e, portanto, demandam uma ampla disponibilidade de água  dos solos. Ademais, caso a estiagem persista, os canaviais colhidos na cauda final da safra – que costuma  ser o período mais úmido do ano – também terão sua rebrota negativamente impactada, e o potencial  produtivo da próxima temporada poderá ser afetado.

Dados mais recentes do Agritempo/Embrapa mostram que a necessidade de reposição da umidade por  chuva em grande parte do Centro-Sul no início de outubro varia de entre 80 e 100 mm, volumes muito  superiores às estimativas de chuva para grande parte do mês corrente. Inclusive, as condições climáticas  adversasregistradas até então podem ser reforçadas pela incidência do La Niña, fenômeno climático que  tende a reduzir ainda mais as chuvas no Centro-Oeste do Brasil, impactando lavouras de Goiás, Mato  Grosso do Sul e Mato Grosso. 

As queimadas no Centro-Sul também podem atuar como fator limitante à produtividade esperada para  os canaviais no curto e no longo prazo, mas os impactos dos incêndios precisam ser avaliados com maior  profundidade ao longo dos próximos meses.  

Em suma, nós da StoneX estimamos que a moagem de cana por usinas do cinturão canavieiro brasileiro  totalize 590,4 milhões de toneladas em 2021/22, valor que representa uma retração safra-a-safra de 1,2%. As discussões sobre oATR médio dos canaviais, embora pouco tangíveis neste momento, consideram que  o clima mais seco ao longo dos últimos meses sustente o indicador mesmo em meio à dinâmica climática  normal considerada para o próximo ciclo. 

Estimamos, portanto, que a concentração de açúcares nos colmos da cana fique em 138,2 kg/t, queda de  2,5% quando comparado a 2020/21, mas elevação de 0,4% frente à média de 5 anos. É preciso ponderar,  ainda, que o volume de chuvas entre outubro/20 e março/21 será fundamental para entender o real  comportamento deste indicador na próxima safra canavieira do Centro-Sul.  

Ao considerar os dois indicadores citados acima, o ATR total – ou a quantidade de matéria-prima que será  processada pela indústria – é projetado em 81,6 milhões de toneladas, posicionando-se 3,7% abaixo do  que foi observado na safra 2020/21. 

No tocante às estimativas para o mix produtivo da próxima temporada, precisamos considerar a dinâmica  de preços do açúcar e as perspectivas para o consumo de combustíveis de ciclo Otto no Centro-Sul. Por  um lado, preocupações com relação ao balanço de O&D global de açúcar nos próximos meses têm  proporcionado viés de alta às cotações da commodityno mercado internacional.  

Esse contexto, analisado com maior profundidade em nossa Estimativa de Saldo Global, soma-se aos  elevados patamares do câmbio no Brasil, fazendo com que os preços do #11 tenham se sustentado no  passado recente e rompido os patamares dos R$ 1.700/t. Como não poderia deixar de ser, essa dinâmica  tende a estimular uma maior fixação da produção de açúcar pelas usinas do cinturão canavieiro.  

No entanto, sob a ótica do etanol, precisamos considerar as expectativas de que os estoques iniciais de  2021/22 sejam mais baixos no comparativo anual, bem como a projeção de recuperação da demanda por  combustíveis de ciclo Otto no próximo ciclo, fatores que tendem a aumentar a atratividade do  biocombustível. Diante do cenário apresentado, a StoneX projeta que o mix açucareiro fique em 44,5% na próxima safra, proporção que se posiciona 2,4 p.p. abaixo do que é esperado para 2020/21, mas 0,9  p.p. acima da média de 10 anos.  

É fundamental ponderar que essa dinâmica estará intimamente atrelada ao desempenho da economia  em meio à pandemia do novo coronavírus, o que inevitavelmente moldará com maior precisão as  perspectivas de consumo de combustíveis na safra analisada.

De modo geral, esperamos que a produção de açúcar no cinturão canavieiro do Brasil totalize 34,6 milhões  de toneladas em 2021/22. Comparativamente, esse valor é 8,7% inferior ao projetado para 2020/21, que,  conforme analisado na próxima seção, deverá ser o maior patamar histórico para a região. Ainda assim, o  volume estimado para o próximo ciclo superará a média de longo prazo em 6,2%.  

A destilação de etanol de cana, por sua vez, deve apresentar crescimento de 0,6% em relação à safra de  2020/21, totalizando 26,7 milhões de m³. Em meio à dinâmica de estoques inicias para a temporada e às  perspectivas de crescimento do ciclo Otto, conforme apresentado anteriormente, esperamos que 18,4  milhões de m³ de hidratado sejam produzidos (praticamente estável no comparativo anual) e cerca de 8,2  milhões de m³ de anidro sejam obtidos pelas usinas do Centro-Sul (+2,1%).  

O etanol de milho deve continuar crescendo em termos de produção, porém a taxas mais brandas em  relação aos anos anteriores. De fato, a capacidade produtiva deve continuar se expandindo, mas o pleno  potencial industrial não deve ser utilizado durante toda a safra. Ademais, algumas usinas têm apresentado  dificuldades em adquirir o cereal de forma antecipada de produtores do Centro-Oeste, o que pode acabar  pesando sobre as margens de produção do biocombustível no médio e longo prazo. 

De forma geral, nós da StoneX estimamos que a fabricação de etanol de milho totalize aproximadamente  3,1 milhões de m³, representando uma alta anual de 19,6%. Especificamente, projetamos que cerca de  2,0 milhões de m³ de hidratado (+18,6% no comparativo safra-a-safra) e cerca de 1,0 milhão de m³ de anidro (+21,5%) sejam obtidos pelas unidades produtoras do Centro-Sul. 

Por fim, considerando ambas as matérias-primas citadas, a produção total do biocombustível no cinturão  canavieiro deve se posicionar em 29,7 milhões de m³, volume que representa um avanço anual de 2,3%.  Deste total, calcula-se que 20,5 milhões de m³ serão de hidratado (+1,6%) e 9,3 milhões de m³ serão de  anidro (+3,9%). 

5ª revisão das estimativas para a safra 2020/21 de cana-de-açúcar no Centro-Sul 

Conforme discutido anteriormente, as condições climáticas continuaram sob os holofotes do mercado,  visto que a falta de chuvas persistiu em agosto e setembro, e as perspectivas para as precipitações em  outubro são majoritariamente negativas. Tanto que de acordo com dados disponibilizados pela UNICA,  houve um menor acúmulo de biomassa em parte significativa das lavouras cultivadas com variedades  tardias, por exemplo.  

Ainda assim, é preciso considerar que os canaviais colhidos na temporada atual apresentamuma menor  idade média em relação aos ciclos anteriores. Em termos práticos, lavouras mais jovens têm maior vigor  em ambientes desfavoráveis ao cultivo, fazendo com que os impactos negativos sobre o rendimento  agrícola sejam mais brandos. Neste sentido, o TCH acumulado entre abril/20 e agosto/20 ficou 4,1% acima  da mesma época do ano anterior. 

De modo geral, o clima seco deve continuar como fator favorável ao ritmo de colheita: no acumulado de  2020/21 até a primeira quinzena de setembro, 459,4 milhões de toneladas foram processadas no Centro Sul, alta de 4,6% no comparativo safra-a-safra e de 6,0% em relação à média de 3 anos. Considerando as  perspectivas de menor umidade para o curto prazo, é possível que a quantidade de cana bisada na  temporada atual seja significativamente menor. 

Isso significa que as usinas não deverão postergar a colheita de certos talhões para o próximo ano devido  às chuvas, permitindo que parte do processamento de 2021/22 seja adiantado para março – volume que  será contabilizado, portanto, no ciclo corrente. Com isso, apesar do menor volume de chuvas, a projeção  de moagem da StoneX foi ajustada para cima em relação à 4ª revisão, para 597,8 milhões de toneladas,  volume que representa alta safra-a-safra de 1,3%.  

A menor umidade dos últimos meses corrobora o ganho de ATR médio esperado para os canaviais no  Centro-Sul. A concentração de açúcares nos colmos tem traçado tendência de alta desde abril/20,  posicionando-se em um patamar superior ao observado em ciclos anteriores. Neste sentido, as  expectativas para as chuvas abaixo da normalidade no mês de outubro reforçam as indicações de que a  qualidade da matéria-prima deve se manter elevada. Desta forma, elevamos a projeção de ATR médio  para 141,8 kg/t, valor este que representa uma alta de 2,3% ante ao ciclo de 2019/20.  

A revisão do mix produtivo, por sua vez, precisa ser analisada com cautela. Nesta 5ª revisão de safra,  diminuímos o share de açúcar para 46,9%, valor representa retração de 0,3 ponto percentual em relação  à publicação anterior. Essa alteração é resultado de ajuste para que a movimentação do indicador até o  fim da temporada seja compatível com a realidade – considerando as alterações realizadas nos números  de moagem e do ATR médio.  

Ainda assim, mantivemos nossa premissa de que a reversão do mix para o etanol – tendência que é  característica dos últimos meses de safra - seja mais branda em relação a anos anteriores. Tanto que na  conjuntura apresentada nos últimos parágrafos, a StoneX estima uma produção de açúcar de 37,9 milhões  de toneladas, volume que é 41,5% superior ao ciclo 2019/20 e que se posiciona cerca de 0,6 milhão de  toneladas acima da nossa estimativa divulgada no início de agosto.  

A destilação de etanol de cana, por sua vez, foi ajustada positivamente no contexto dessa análise, para  26,6 milhões de m³, volume que supera a 4ª revisão de safra em aproximadamente 0,8 milhão de m³,  porém se posiciona 16,2%abaixo do que foi observado em 2019/20. De forma específica, espera-se que  a produção de anidro e hidratado totalize 8,1 milhões de m³ (-15,3%no comparativo anual) e 18,4milhões  de m³ (-16,7%), respectivamente.  

Considerando o amplo abastecimento de milho pelas usinas do Centro-Oeste e a retomada do consumo  de combustíveis do ciclo Otto no Brasil, elevamos a produção de etanol obtido a partir do cereal frente à  projeção anterior, de 2,4 milhões de m³ para 2,6 milhões de m³. Quando comparado com a temporada de  2019/20, tal volume representa um crescimento de 58,7%. Especificamente, a destilação de anidro deve  alcançar cerca de 0,9 milhão de m³ (+93,7% no comparativo anual), ao passo que a de hidratado deve  totalizar 1,7 milhão de m³ (+45,7%).

 

Fonte: StoneX Group

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