Estresse no setor sucro aumenta com Petrobras segurando gasolina e açúcar sem reação
O cenário combinando baixo desempenho do açúcar no mercado internacional e Petrobras represando o preço da gasolina com a safra da cana andando mais, que em dupla pode ir quebrando a competitividade do etanol, aumenta o estresse no setor sucroenergético.
O real mais fraco teria ajudado a commodity a ficar presa abaixo dos 12.40 c/lp o maio nesta quinta (25) em Nova York, segundo algumas análises, mas estimativas de fixações brasileiras não mostram aceleração das usinas e traders tentando aproveitar o prêmio cambial.
Mesmo porque as telas da ICE Futures estão para baixo, sem arranhar os 13 c/lp há tempos, de modo que ganho com o dólar ainda é visto como limitado.
Maurício Muruci, da Safras & Mercados, acredita que o total fixado esteja entre 13 a 13,5 milhões de toneladas, contra 12 de há algumas semanas.
A Índia, com suas 2,3 milhões de toneladas a serem fixadas, limita fortemente os preços, em um ambiente global de baixa demanda.
O etanol, portanto, que vinha em ascensão - chegando a bater em R$ 2,50 o litro em usinas do principal polo produtor, Ribeirão Preto -, estava fazendo a diferença. Demanda alta, produção lenta em início de safra (menos usinas e menos cana disponível) e valor estimulante frente à gasolina.
Mas o custo político da quase greve dos caminhoneiros por conta do diesel e de novos repasses para a gasolina do petróleo - em meio ao debate sobre a Previdência, como lembra Eduardo Sia, da Sucden Brasil -, que mantém sua média acima dos US$ 74, quase US$ 75 o barril, fez a Petrobras começar a refugar os aumentos.
"O controle artificial dos preços dos combustíveis já se mostrou altamente prejudicial para o Brasil em governos anteriores, ocasionando perdas irreparáveis para a Petrobras, bem como o fechamento de diversas usinas de etanol por todo o País. Acredito que a melhor opção é mesmo a Petrobras seguir os preços internacionais e deixar o mercado ditar as regras", adverte Amaury Pekelman, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop).
Nesta quinta, a estatal mais uma vez protelou novo aumento.
Apesar de algumas redes distribuidoras e varejistas terem elevado a gasolina em São Paulo e Campinas, numa média R$ 4,20 a R$ 4,30 na segunda, Muruci acredita que o último aumento, de 2%, precificou apenas 20% do movimento do petróleo na bolsa de Londres mais o dólar em alta, margeando os R$ 4,00.
Açúcar sem força, com o mercado apostando numa virada para o segundo semestre (quando se concretizaria o aumento do adoçante produzido no Brasil em cerca de mais 2 mi/t sobre a safra passada), e etanol perdendo na briga com a gasolina, deixa a safra 19/20 ainda em suspense.