Etanol mais importante que açúcar no futuro é cenário pertinente com venda direta e RenovaBio
O Brasil deverá tirar praticamente 10 milhões de toneladas de açúcar do comércio mundial nesta temporada e os preços da commodity não reagiram. A cana que ia para o produto virou etanol, pois coincidiu com a demanda aquecida pela oferta disponível e pelo câmbio desfavorável às importações de petróleo. Mesmo que esse duplo cenário não se alinhe sempre, não é totalmente improvável que o renovável ao cabo de mais algumas safras passe a ser a primeira opção das usinas e não a segunda.
Os 36% de açúcar para 64% de etanol (hidratado e anidro) que deve fechar o ciclo 18/19, invertendo um padrão histórico dos últimos anos, pode virar algo perene, ainda que não necessariamente nesta mesma proporção. Mas o etanol aparentemente caminha para sair em mais quantidade das indústrias do que o açúcar.
O RenovaBio dando resultados como se espera a partir de 2020 - maior oferta do biocombustível, maior demanda por preços melhores e melhor retorno em CBios para as empresas investirem, e assim girando a roda -, e cada vez mais usinas vendendo diretamente aos postos, ganhando share e receita (o que já pode acontecer em 2019), seriam os propulsores.
Planejando pelo etanol
"Até agora, o que sobra de cana e melado vai para etanol", resume Jaime Finguerut, CEO do Instituto de Tecnologia Canavieira (ITC). As empresas se planejam pelo açúcar. Com mercado interno musculoso em questão de algumas safras a frente, o mix mudaria.
A lógica que dá escopo à potencialidade do etanol, com a qual concorda Maurício Muruci, da Safras & Mercado, começa por essa retirada do açúcar brasileiro fora do trade atual e não mexendo nos preços em Nova York. Realidade que tem a ver com a produção e excedente subsidiados na Índia. Mesmo num momento de desastre climático por lá, com a instabilidade das Monções, isso pode ocorrer em uma ou outra safra, mas não sempre. Além disso, outros países da Ásia também estão correndo para aumentar suas produções.
É mais provável que cenários de superáviti globais firmes de açúcar venham para ficar, dando mais razão para as usinas virarem definitivamente a chave para o combustível de cana.
Mais ainda, acrescenta o analista, há o crescimento cada vez mais vegetativo do consumo mundial de açúcar. Restariam as regiões mais pobres do planeta como fieis dessa balança, mas a África pouco cresce mesmo pelo fator demográfico. "E nem a demanda da Ásia tem força para seguir sustentando a oferta mundial por muito tempo", diz Muruci.
No Brasil também a queda do consumo vai ganhar mais força, com a porteira aberta pelo acordo entre o governo e as indústrias de alimentos e bebidas para diminuir a quantidade do adoçante dos industrializados.
Investimentos X receita de mercado
O fato é que as usinas que estiverem vendendo etanol aos postos a partir de 2019, com a liberação dada pela ANP dada semana passada e após a adequação tributária que o Ministério da Fazenda fizer poderão a ganhar musculatura, e outras se juntando com o passar do tempo, mas vão demorar para reverter isso em maior produção. O retorno do RenovaBio, em termos reais, também não deve ser antes de 2022/23.
"E atualmente com em torno de 5% a mais de produção de etanol, as unidades precisariam de investimentos, mas não há dinheiro", lembra Finguerut, ressalvando a exceção de em torno de 10 grupos mais capitalizados.
Residualmente, muitas unidades conseguem aumentarr um pouco a produção com a capacidade já instalada, mas há um limite para não comprometer a eficiência industrial e a queima das margens, completa o consultor e ex-pesquisador do Centro de Tecnologia Canavieira.
Apesar de que, para Alexandre Figliolino, da MB Agro, que não acredita no sucesso da venda direta usinas-postos, investimentos em destilaria são mais baratos que em açúcar e há muito equipamento usado no mercado para ser vendido.
Até final de novembro o Brasil do Centro-Sul bateu nos 29,09 bilhões de litros (20,1 de hidratado), quase 19% a mais sobre abril-novembro de 2017. A usinas chegaram no osso com o mix máximo alcooleiro.
E daqui para frente, como já nota Finguerut, não seria nada improvável que muitas já coloquem como planejamento um novo roteiro para o futuro próximo.