Crise da Turquia expõe a maior fragilidade do açúcar frente às demais commodities
A fragilidade do açúcar entre todas as commodities contaminadas pela crise da Turquia, nesta segunda, determinou seu maior tombo no mercado internacional e não trouxe nenhuma recuperação nos preços da ICE (Nova York) no pregão de hoje (14) - depois da perda de 24 pontos, os quatro positivos do outubro foram meras correções.
Como o Banco Central turco tem pouca munição para sustentar a lira por muito tempo e os bancos europeus estão muitos expostos, há uma grande chance do derretimento ser maior nos próximos dias com os fundos saindo mais ainda das posições do alimento, se não houver uma reanimada forçada da economia como a elevação das taxas de juros. Ou os Estados Unidos cederem nas pressões tarifárias impostas ao aço e alumínio do país, o que parece menos provável.
A Safras & Mercados, segundo o analista Maurício Muruci, vê espaço para um recaída de mais 10 pontos.
O cenário da Turquia, replicado já há semanas pela Argentina, expõe também a fraqueza das economias dependentes de investimentos estrangeiros e do dólar, e isso respinga nas commodities. O efeito manada faz os fundos correrem para ativos de menor risco, tiram as commodities do alvo, lembra Willian Hernandes, da consultora FG/A.
Mas o açúcar está carregado por uma conjuntura negativa, com a companhia do café, como chama atenção Eduardo Sia, da Sucden Brasil. Assim, a soja e o milho caíram em torno de 7 e 5 pontos no setembro na sessão da segunda e recuperaram com sobras ao fechamento da CBOT (Chicago) de hoje. O açúcar mal saiu do lugar.
Conjuntura do açúcar
A Canex Exportação, como todos os analistas, enxerga a Índia com seu apetitie para mais subsídios em ano de eleição, incentivando mais plantio, com um detalhe adicional visto pela analista Ana Cláudia Cordeiro: o governo indiano pediu para os produtores acelerarem a moagem e anteciparem em um mês o plantio, de modo a repactuar as dívidas que vêm sendo carregadas pelo setor para o ciclo seguinte, já com safra cheia garantida.
“Na Europa as chuvas estão voltando e os analistas lá pensam que se continuarem e o solo carregar mais umidade que compense o forte calor dos últimos tempos, a qualidade da beterraba açucareira não estará tão comprometida”, adianta Ana Cláudia.
Nesse pacote de más notícias para o principal produto do setor sucroenergético brasileiro, a Tailândia está “vindo para entrega de outubro”, ou seja, vai entrar pesando mais nesta tela de Nova York, posto que os prêmios caíram muito, de US$ 80 para um dígito. “Se se confirmar a maior entrega da Tailândia, é sinal de falta de apetite do mercado físico pelo açúcar”, ou seja, mais oferta perambulando sobre as cotações.