Seminário internacional do açúcar reafirma papel decisivo do Brasil como principal abastecedor do mercado mundial

Publicado em 08/11/2016 14:18
Evento reuniu representantes dos maiores produtores mundiais, foi realizado nesta segunda (7), em São Paulo, promovido pela Canaplan e LMC International, com o apoio da ABAG

Como maior produtor mundial de açúcar, o Brasil continuará tendo papel decisivo no atendimento de uma demanda crescente e deverá retomar, brevemente, investimentos em eficiência e ganhos de produtividade, conforme depoimentos de representantes dos maiores produtores do País. De forma resumida, esse foi o recado dado por executivos de empresas produtoras de açúcar dos cinco grandes produtores mundiais durante o Seminário Internacional do Açúcar 2016 – O Mercado Global de Açúcar Está em Momento de Virada, promovido nessa segunda-feira, dia 7 de novembro, em São Paulo.

Realizado pela LMC International e Canaplan, com apoio da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, o evento reuniu representantes das maiores empresas dos cinco líderes na produção mundial: Brasil, China, Índia, Tailândia e União Europeia, além de especialistas e consultores de várias partes do mundo. “Acredito que o Brasil conseguirá atender a demanda crescente e produzirá o volume de açúcar que o mundo necessita”, afirmou, ao final do encontro, Martin Todd, diretor-gerente da LMC International, uma das maiores consultorias econômicas e empresariais de agronegócios do mundo.

“O que ouvimos aqui, de representantes de algumas das mais importantes empresas do país, é que já foi iniciado um novo ciclo positivo de investimento em aumento da eficiência e da produtividade. A esperada virada já começou e a confiança é realidade no segmento”, resumiu Luiz Carlos Corrêa Carvalho, diretor da Canaplan, que salientou também ter sido alcançado o principal objetivo do evento: reunir representantes das empresas das cinco principais regiões produtoras do mundo.

Na opinião de Carvalho, ficou claro nas apresentações que o consumo mundial de açúcar está elevado e deverá continuar assim. “Temos anualmente uma demanda adicional acima de 3 milhões de toneladas. Obvio que, se o Brasil não consegue aumentar sua produção, ele perde share de mercado para outros produtores. Ou, então, vamos fazer um esforço e ter uma atuação mais agressiva. No caso brasileiro, fica claro que isso vai depender muito da arbitragem de preços entre os mercados aberto, que é o caso do açúcar, e do mercado de etanol, que depende tanto de políticas públicas. Isso ainda gera muitas dúvidas”, comenta o dirigente da Canaplan e também presidente da ABAG. 

Além da posição brasileira, Carvalho afirmou ainda que o evento serviu para que o público tivesse uma visão clara do cenário mundial. “Nesse sentido, a plateia percebeu que hoje existe um grupo de países com limitações econômicas e problemas, como o Brasil e a Índia, nitidamente muito parecidos. Por outro lado, temos países como Tailândia, com forte subsídio e insistindo em expansão”, explicou Carvalho.

O Seminário também evidenciou a expressiva recuperação apresentada pelo setor açucareiro na União Europeia. “Os produtores europeus se fortaleceram, promoveram uma onda de consolidações e estão mostrando ganhos de eficiência e produtividade que os colocam como importantes competidores no cenário mundial”, observou Carvalho, ressaltando a elevada produtividade conseguida pelos produtores europeus de açúcar de beterraba.

A conjuntura do setor da União Europeia foi detalhada num dos painéis do Seminário, que teve a participação de Todd e também de Willian Martin, presidente da National Farmers’ Union. Na análise sobre a situação, foi explicitado que o setor viverá grandes transformações no próximo ano na Europa com o término das cotas de produção de beterraba e o fim do regime de preços fixados, ambas previstas para outubro de 2017. Além disso, há a expectativa de corte nos subsídios aos produtores do Norte da Europa. Em contrapartida, países como França, Alemanha e também a Polônia têm condições de aumentar suas produções. A equação no caso europeu é conciliar os interesses dos produtores de beterraba – 46% deles vinculados a cooperativas – com o dos processadores de açúcar.

O painel que tratou do mercado chinês e teve como participantes Gareth Forber, diretor de pesquisa de açúcar da LMC International, e Mauricio Nabuco Sacramento, diretor no Brasil da COFCO, foi destaque o peso da China como maior importador de açúcar do mundo, que deverá passar de 10,3 milhões de toneladas, em 2015, para 15,4 milhões de toneladas, em 2017. Uma dúvida sobre os efeitos desse grande mercado sobre o conjunto da produção mundial é a incerteza sobre qual o comportamento do governo chinês em relação ao real volume dos seus estoques. Algumas estimativas indicam que a China possui estoques da ordem de 6 milhões de toneladas. Outra dúvida sobre o comportamento do mercado chinês são os relativos aos problemas salariais e de mão de obra enfrentados, pois há um contínuo processo de deslocamento populacional do campo para as cidades, fatores que tendem a aumentar os custos de produção.

Também com a presença de Forber, o painel que abordou a situação do mercado indiano contou com uma palestra de Ram Tyagarajan, presidente da Thiru Arooran Sugars, uma das maiores produtoras da Índia. Apesar de o produtor de açúcar indiano ter hoje uma rentabilidade que chega a ser 155% maior na comparação, por exemplo, com o algodão em alguns estados daquele país, a produção de açúcar  enfrenta problemas semelhantes aos do Brasil: interferência excessiva dos governos na política de preços e dificuldades em relação a financiamentos para a ampliação e modernização das usinas.

“Temos necessidade urgente de investir em modernização do processo de plantio e colheita, mas os bancos não confiam em nos conceder empréstimos”, comentou Tyagarajan, acrescentando que o açúcar tem uma grande interferência governamental na formação dos preços. Um exemplo é que 10% da produção de açúcar é obrigatoriamente distribuída à população por um preço que não tem correção desde 2003. De acordo com Forber, há também incertezas climáticas que afetam a produção. “Para este ano, por exemplo, o ciclo de chuva foi favorável nas principais regiões produtoras, mas mesmo assim pairam dúvidas quanto ao potencial da próxima safra”, comentou.

A situação da Tailândia foi relatada por Amporn Kanjanakumnerd, diretora de operações da Mitr Phol, uma das maiores produtoras de açúcar daquele país. Participou também Martin Todd, da LMC International, que fez um apanhado da situação tailandesa. Segundo ele, em função da política de estímulo, houve uma onda de novas usinas. “Atualmente a Tailândia está numa posição invejável por se localizar próximo dos grandes consumidores da Ásia e também por ser um dos poucos países com capacidade de expansão de sua produção”, analisou Todd.

Em seguida, Amporn fez um apanhado histórico da produção de açúcar na Tailândia, destacando a necessidade de modernização do parque produtor. “Atualmente, apenas 10% da nossa safra é completamente mecanizada. No caso da colheita, somente 20% é feita com máquinas e nosso índice de queimada ainda atinge 60% da produção. Temos como meta reduzir as queimadas em 20% até 2020”, relatou a produtora tailandesa.

Ao final do Seminário, um painel reuniu os executivos das maiores empresas que atuam no segmento de açúcar e etanol no Brasil. Mediado por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o painel analisou o real potencial de retomada dos investimentos em melhoria na eficiência e na produtividade dos produtores. Quase todos os participantes destacaram aspectos importantes dos avanços alcançados pelo setor, como regiões onde é possível colher 700 toneladas por dia com uma única máquina, a perspectiva concreta do etanol de segunda geração ou do plástico verde, as pesquisas que vão na direção da semente de cana ou da cana geneticamente modificada para evitar pragas, aperfeiçoamentos que deverão alavancar os índices de produtividade nos próximos cinco anos, auxiliando na competitividade do açúcar brasileiro no cenário internacional.

De toda forma, para se conseguir consolidar essas conquistas, outros participantes reforçaram a necessidade de haver: uma política clara de preço dos combustíveis, que não fique mais abaixo da paridade do mercado internacional; um debate transparente sobre os incentivos em relação ao etanol na questão do crédito de carbono decorrente do uso do combustível menos prejudicial ao ambiente e à saúde do homem; uma efetiva discussão sobre ganhos de produtividade, que precisa ser feita pelos produtores; e regras claras em relação ao setor elétrico. Participaram do Painel coordenado por Carvalho: Fernando Antonio Barros Capra, da Clealco; Geovane Consul, da Bunge; Luis Henrique Guimarães, da Raizen; Luis Roberto Pogetti, da Copersucar; Luiz de Mendonça, da Odebrecht Agroindustrial; Marcelo Andrade, da COFCO; e Pedro Mizutani, da Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar.

Fonte: Abag

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