Brasil importa etanol dos EUA em plena safra do centro-sul
Por Chris Prentice e Reese Ewing
NOVA YORK/SÃO PAULO (Reuters) - Usinas e comerciantes de etanol dos Estados Unidos estão correndo para vender biocombustível para o Brasil em um momento em que a oferta apertada e dificuldades de logística no mercado sul-americano oferecem ao maior produtor global da commodity uma rara oportunidade de exportar para o sul durante o pico da colheita de cana, disseram fontes.
Usinas de etanol dos EUA estão produzindo um recorde de 1 milhão de barris por dia, aproveitando oferta abundante e barata de milho, derrubando os preços domésticos para mínimas de três meses.
Os norte-americanos estão recebendo uma inesperada demanda do rival Brasil, onde a produção está ficando abaixo das expectativas, à medida que preços elevados de açúcar têm estimulado as usinas brasileiras a destinar uma fatia maior de cana para a produção do adoçante, em detrimento do etanol.
Isso abriu uma janela de arbitragem em um período incomum do ano, explicitando as diferenças entre as condições de mercado nas duas maiores nações produtoras de etanol.
"Os preços do milho dos EUA estão baixos e o dólar mais fraco, criando uma janela de oportunidade para carregamentos de etanol para o Nordeste do Brasil", disse o especialista Tarcilo Rodrigues, da corretora e consultoria Bioagência.
Rodrigues disse que usinas do centro-sul do Brasil, onde a colheita de cana está no pico, tipicamente embarcam etanol para o Nordeste, que não consegue produzir o suficiente para atender toda sua demanda.
Contudo, a capacidade de tanques nos principiais portos do Sul e Sudeste está atualmente ocupada por importações de diesel da Petrobras, atrapalhando os deslocamentos de etanol pela costa brasileira, acrescentou.
A moagem de cana no Nordeste ainda está a algumas semanas de começar, o que deixa o mercado daquela região apertado no fim da entressafra.
A Raízen, maior produtora global de açúcar e etanol de cana, comprou 55 milhões de litros de etanol dos EUA para o Brasil com embarques previstos entre o final de julho e o início de agosto, segundo três operadores norte-americanos.
Esse volume sozinho já é mais do que o registrado entre julho e agosto desde 2012, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.
Especialistas disseram que importação de etanol para o centro-sul do Brasil é improvável, já que a demanda local é atendida pelas usinas da região.
Contudo, o Norte e o Nordeste do Brasil, com uma demanda anual de 3 bilhões de litros, produz apenas 1 bilhão de litros.
A Bioagência prevê que a importação dos EUA atenda 500 milhões de litros do consumo do Norte/Nordeste. O restante viria do centro-sul.
A Raízen recusou-se a comentar.
Os navios Furuholmen e Ardmore Chinook já estão no porto de Itaqui, no Maranhão, para descarregar etanol para a Raízen, segundo dados da administração portuária e agentes marítimos.
Analistas esperam que carregamentos regulares de etanol proveniente de portos do Golfo do México nos EUA para o Nordeste do Brasil continuem até o início de 2017.