Quebra na safra brasileira pode causar déficit mundial na oferta de cana-de-açúcar
A imprensa internacional começa a observar a redução na produção de cana-de-açúcar no Brasil e indicar o risco de um déficit global. De acordo com a Bloomberg, uma safra menor no Brasil, que é o maior produtor e exportador, poderá deixar a produção mundial com déficit de 900 mil toneladas para atender a demanda global no ano comercial que se encerra em 30 de setembro.
De acordo com Bruno Lima, consultor sênior de gestão de risco da FCStone do Brasil, a redução na próxima safra deve ser ainda maior. A trader Copersucar SA prevê que o açúcar no mercado futuro deve subir 14% até o final do ano, a 20 centavos de dólar a libra-peso. Um rally estendido deve elevar os preços para compradores, entre eles a Nestlé SA, além de aumentar os lucros da refinarias depois que anos consecutivos de produção excedente forçaram dezenas de usinas a fecharem suas portas.
O produtor de cana José Rodolfo Penatti afirma que este deve ser o primeiro ano de déficit de produção em quatro anos. A família de Penatti cultiva soja desde 1950 em uma área de 60,7 hectares, no estado de São Paulo.
Ele explica que depois da forte seca que assolou a região Centro-Sul do país entre janeiro e março deste ano, o caule da cana está com metade da altura normal de 3 metros, para o período, além disso, estão marrons ao invés de verdes. “É o pior cenário que eu já vi”, afirma o produtor, que acredita que irá perder até 20% de sua safra.
Peter Sorrentino, gerente da Huntington Asset Advisors em Cincinnati, Ohio, afirma que o mercado foi pego de surpresa com as notícias de quebra de safra. “Não são necessárias grandes variações climáticas para causar mudanças significativas nas projeções de safra. O mercado ficou em baixa por muito tempo, os investidores e a indústria estão reagindo ao alto potencial de perda”.
Rallies de preços
O açúcar já subiu 13% desde o final de janeiro na Bolsa de Nova Iorque (Ice Futures US).
O Brasil, que respondeu por 28% da produção global no ano passado e 57% das exportações, teve seu verão mais seco em pelo menos 70 anos na região Centro-Sul. A seca danificou safras de café, laranja e cana-de-açúcar.
Entre dezembro e janeiro, as precipitações em São Paulo estavam em apenas 25% do nível normal, limitando o crescimento das plantas e causando erosão dos campos, segundo Drew Lerner, presidente da empresa de serviços meteorológicos da World Weather Inc., baseada em Overland Park, Kansas.
A produção de cana na região Centro-Sul, que responde por 90% da produção brasileira, poderá ter queda de 5,2% para 565 milhões de toneladas, segundo Julio Maria Borges, consultor da JOB Economia & Planejamento.
Aumento da demanda
A demanda global por cana-de-açúcar deve atingir um volume recorde de 167,6 milhões de toneladas no ano comercial que termina em 30 de setembro. Em duas décadas, a demanda aumentou 48% de acordo com informações do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Na safra 2014/15, a demanda deve ultrapassar a produção em até 8 milhões de toneladas, segundo a Copersucar.
Produtores do Brasil, México e China não receberam incentivos para aumentar sua produção quando os preços despencaram 59%, depois de atingir a maior alta em 30 anos em fevereiro de 2011. De lá para cá, os custos de refinação também subiram, de acordo com Jonathan Kingsman, fundador da empresa financeira Kingsman SA, uma unidade da multinacional McGraw Hill Financial Inc.
Desde 2010, pelo menos 44 usinas de açúcar fecharam, de acordo com Norberto Zaiet, vice-presidente do Banco Pine, baseado em São Paulo.
De acordo com informações do USDA, os estoques mundiais de açúcar são grandes e devem atender a demanda de compradores.
Por outro lado, os estoques poderão ficar mais apertados à medida que mais cana é usada na produção de etanol, que oferece melhores retornos que o açúcar. A empresa de energia Raízen, formada a partir de uma joint venture entre a Royal Dutch Shell Plc. e Cosan AS., informou que até 58% da safra brasileira de cana deve ser convertida em etanol. Esta seria a maior taxa em cinco anos, segundo a Unica (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar).
Informações: Bloomberg
Tradução: Fernanda Bellei