Brasil pode perder venda de soja à China com praga e EUA

Publicado em 06/01/2010 06:55
As perspectivas do mercado para a demanda chinesa por soja em 2010 são positivas, mas a concorrência com a safra norte-americana e o crescimento da ferrugem asiática ameaça o Brasil, que corre contra o tempo para não perder a janela de oportunidade.

O apetite chinês pela oleaginosa irá continuar em 2010. A expectativa é que o país asiático - o maior importador mundial do grão - adquira 12 milhões de toneladas de soja apenas nos três primeiros meses do ano, superando em 1,85 milhão de toneladas o volume adquirido no primeiro trimestre de 2009.

O mercado já se mostra aquecido e, segundo o Centro Nacional de Informação de Grãos e Óleos da China (CNGOIC), são previstas que as importações chinesas de soja em dezembro alcancem um recorde mensal de 4,8 milhões de toneladas. "Com 12 milhões de toneladas de importações no primeiro trimestre de 2010, o abastecimento de soja terá um excedente", disse o CNGOIC em um informativo.

O Brasil corre contra o tempo para aproveitar a retomada da demanda chinesa. Com pouca soja ainda disponível nos armazéns e concorrendo com uma colheita recorde nos Estados Unidos, as exportações do País registraram o pior mês de dezembro desde 2004. No último mês, a receita brasileira com os embarques do grão caiu 70% em relação ao mesmo período de 2008, de US$ 332,3 milhões para US$ 99 milhões. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/Mdic).

Para minimizar problemas de armazenamento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) iniciará na próxima semana a remoção dos estoques de milho dos armazéns para dar espaço à oleaginosa.

Em relação à concorrência com a soja dos Estados Unidos, a expectativa é que o cenário possa se reverter com a entrada da safra brasileira. A demanda pela soja norte-americana começa a dar seus primeiros sinais de desgaste. O relatório de inspeções de exportações divulgado na última segunda-feira pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) trouxe informações baixistas para a comercialização da soja. Segundo o órgão, os embarques do grão pelos portos norte-americanos totalizaram 877,4 mil toneladas na semana encerrada em 31 de dezembro. O volume ficou abaixo das expectativas do mercado, que iam de 1,1 milhão de toneladas a 1,5 milhão de toneladas.

Ferrugem e plantas precoces

Um fator que recebe atenção cada vez maior no decorrer da safra atual de soja no Brasil é a alta incidência da ferrugem asiática, que pode ainda resultar na quebra da produção em algumas regiões.De acordo com os dados da terceira edição do Projeto Antiferrugem da Associação dos Produtores de soja do Mato Grosso (Aprosoja/MT), de novembro de 2009 até o final da manhã de ontem, 76 focos da doença já haviam sido confirmados no estado, que é o principal produtor nacional. Na safra anterior haviam sido registrados três casos.

Segundo Glauber Silveira, presidente da Aprosoja, o clima tem favorecido o aparecimento da doença. "A abundância de chuvas é o fator de maior peso na safra atual para o aparecimento da ferrugem na maioria das regiões produtoras", disse. O produtor alerta ainda que "em algumas regiões a colheita já começou, isto também facilita a propagação do fungo e favorece o surgimento da ferrugem".

Em outras regiões também é possível observar a expansão da doença nas lavouras. A situação mais drástica é vista em Goiás, onde já existem 145 casos nesta safra. O Paraná contabiliza 65 incidências da ferrugem, Mato Grosso do Sul tem 46, Minas Gerais e Tocantins apresentam 8 casos, Rio Grande do Sul e São Paulo contam 6 casos cada.

Outro problema que vem assustando os produtores é a antecipação das floradas e o pouco crescimento das plantas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) chegou a divulgar em seu site um alerta sobre o problema. A preocupação dos produtores e técnicos é de que as lavouras atingidas pela situação anômala de florescimento não consigam atingir as mesmas produtividades que foram alcançadas nos resultados dos anos anteriores. (Priscila Machado)

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Fonte: DCI

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