Retenciones: Cálculos de produtor argentino mostram prejuízo de US$ 80 e entrega ao governo de US$ 434/ha com soja
O ano acabou de começar, porém, para o produtor rural argentino há preocupações que já são conhecidas há muito tempo e a mais grave delas, indiscutivelmente, são as retenciones. Os cálculos feitos pelo produtor do sudeste de Córdoba, Néstor Roulet, que foi também 1º vice-presidente da CRA (Confederação Rural Argentina) mostraram que o atual momento da sojicultura argentina vem resultando em um considerável prejúzo para o agricultor e um repasse ao estado, por hectare, de mais de US$ 400,00.
Em seu perfil na rede social X, Roulet traz a imagem de uma planilha detalhada dos impactos da tarifação sobre a produção de soja e diz: "Me diga como você se sente: enquanto o produtor que arrenda a terra e investe para plantar soja com produtividade de 58,33 scs/ha, perde quase US$ 80/ha e o Estado fica com 473,29 U$S/ha. Em 18 milhões de hectares = US$ 7.700.000.000".
As contas feitas pelo produtor e engenheiro agrônomo - que inclusive fez parte do Ministério da Agricultura durante o governo de Maurício Macri -, com base uma tonelada de soja valendo US$ 386,00, e o faturamento bruto de, aproximadamente, US$ 1351,00 por hectare, resultaram em uma margem negativa de US$ 78,90/ha para o produtor e a 'entrega' ao estado de US$ 473,29. Os números foram repercutidos por centenas de outros perfis e por diversos veículos de comunicação argentinos.
E Roulet ainda estende seus números para a área cultivada com soja na Argentina, de 18 milhões de hectares, para chegar à arrecadação estatal, somente com a oleaginosa, de US$ 7,7 bilhões. Assim, sua publicação teve, em um só dia, mais de 30 mil visualizações e, mais importante ainda, chamou mais ainda a atenção de representantes do setor e políticos, todos reforçando que a pressão sobre o governo deve ser intensificada, mais uma vez, para que as retenciones sejam revistas.
Uma das promessas de campanha de Javier Milei, durante a corrida presidencial, foi a extinção da taxa. No entanto, ele vinha explicando que seria inviável retirar as tarifas de uma vez, já que o volume de recursos que o campo resulta ao governo é fundamental para o manter o país em andamento, embora injusto e questionável. O governo de Milei completou seu primeiro ano em 10 de dezembro último com estas promessas renovadas.
"Eu prometi que elas seriam eliminadas na medida em que a Argentina voltasse a crescer. E a economia da Argentina está em um claro processo de expansão. Portanto, na medida em que conseguirmos consolidar esta tendência ao longo do próximo ano, mais a redução das despesas públicas, não tenham dúvidas de que um dos impostos que vamos atacar serão as retenciones, na fonte", disse o presidente em um discurso feito durante um evento na sede da SRA (Sociedade Rural Argentina) no dia em que comemorava o primeiro ano de seu governo.
Paralelamente aos cálculos de Néstor Roulet, governadores de estados importantes na produção agrícola - como Córdoba e Santa Fé - tambén iniciaram 2025 pleiteando o fim das retenciones como ferramenta para a ampliação da competitividade do agronegócio argentino.
Também pelo X, o governador de Córdoba, Martín Llaryora, fez uma publicação afirmando que ainda há tempo para que a Argentina evite uma crise ainda profunda no setor produtivo. "É por isso que apoiamos a reivindicação legítima das entidades agrícolas, que exigem que o governo nacional tome medidas concretas para enfrentar esta difícil situação. O campo precisa urgentemente de uma redução das retenciones às exportações, permitindo que esses recursos retornem a este próspero setor produtivo. Nossos produtores são pilares do crescimento do país há décadas", disse.
Assim, mais um ano se inicia com a incansável luta dos produtores argentinos que buscam, ao menos, estarem em pé de igualdade com seus principais concorrentes, como Brasil e Estados Unidos não só no mercado da soja, mas também milho, trigo, derivados e demais grãos e cereais.