Prêmios da soja testam novas máximas no Brasil, justificando demanda presente e exportações recordes
As vendas semanais de soja norte-americanas para exportação mais uma vez vieram fracas e abaixo das expectativas no reporte desta semana trazido pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta quinta-feira (25). Foram 210,9 mil toneladas apenas, da safra 2023/24, enquanto as expectativas do mercado variavam de 300 mil a 600 mil toneladas. Em toda temporada, o país já comprometeu 41,493,6 milhões de toneladas, bem abaixo do mesmo período do ano passado, quando o total passava de 50 milhões.
Em contrapartida, no Brasil, as exportações de soja são recorde para o mês de abril e também para o acumulado de 2024. De acordo com números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) reportados na última segunda-feira (25), as vendas brasileiras externas, somente neste mês, alcançam 10,209,3 milhões de toneladas, contra pouco mais de 14,3 milhões de todo abril de 2023. São ainda mais sete dias úteis a serem contabilizados, o que poderá garantir, pelo menos, um resultado semelhante ao de um ano atrás.
Já no acumulado do ano, as exportações brasileiras já alcançam 32,3 milhões de toneladas, superando as 30,5 milhões do mesmo período de 2023. Trata-se de um recorde histórico para o período, segundo informa o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Em receita, o faturamento das exportações do complexo soja "na somatória em reais, neste mês, chega a R$ 27,3 bilhões, ainda faltando sete dias úteis deste mês de abril, devendo bater à porta dos R$ 39 bilhões ou mais neste mês", diz. "Isso confirma que as exportações seguem com ritmo acelerado e registrando recorde histórico para um começo de ano. O fato é que a soja segue forte e se configurando como maior produto de exportação do Brasil, desde janeiro embarcando forte, porque a safra começou mais cedo. E agora, os produtores vêm fechando posições para fazer caixa", complementa.
E é este movimento que justifica as máximas que os prêmios vão renovando no mercado brasileiro de soja nas últimas semanas. Segundo as informações da Agrinvest Commodities, novas máximas da temporada foram registradas nesta quinta-feira, com a China, inclusive, bastante ativa em compras no Brasil. "Os prêmios da soja continuam subindo forte no Fob e CFR", afirma Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest. "As margens na China estão boas para junho e julho. No Brasil, as indústrias precisam estender a cobertura".
Vlamir Brandalizze também destacou a expressiva melhora dos prêmios nas últimas semanas, permitindo a formação de preços melhores e um avanço dos negócios com a soja brasileira.
Nesta quinta, segundo o especialista, para a posição maio, no porto de Paranaguá, enquanto o vendedor pedia 15 cents de dólar acima de Chicago, o comprador oferecia menos 5 cents. Há alguns meses, esses valores eram negativos de forma muito mais intensa, com mais de US$ 1,00 por bushel de desconto sobre a CBOT. Para junho, o comprador paga 15 centavos de dólar a mais, o vendedor pede 30; no julho o comprador oferece 25 cents e o vendedor quer 45; no agosto, 30 no comprador e 70 no vendedor.
COMPETITIVIDADE: BRASIL x EUA
Os números e a movimentação dos prêmios mostram também que a competitividade da soja brasileira continua se destacando no mercado internacional, como explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
"Comparando os dois principais portos exportadores de soja (do Brasil e dos EUA) estamos ainda com um desconto, hoje, próximos dos 4% nas ofertas Fob. Os norte-americanos não têm muitas ofertas disponíveis para serem embarcadas por questões logísticas e isso acaba forçando o produto brasileiro. Porém, tradicionalmente, nosso produto pode chegar a ser até 2% mais caro do que o dos EUA, por logística e por prêmio de qualidade. E conseguimos ter um ganho para o comprador asiático", explica o analista.
Assim, mesmo que a soja do Brasil estivesse ainda 2% mais cara do que a dos EUA, ainda assim os compradores da Ásia - em especial a China - têm a preferência pela oleaginosa brasileira. Desta forma, ainda como detalha Pereira, há, atualmente o desconto dos 4%. "Para equipararmos, em uma "competição justa", nossas ofertas podem subir até 6% em relação ao que estã hoje - os 4% para zerar e mais 2% de ágio logístivo e prêmio de qualidade, já que a soja brasileira tem mais proteína - e ainda assim as condições favorecem a aquisição da soja brasileira".
Pereira destaca ainda que o recorde de importação de soja pelos chineses em janeiro - com destaque para o grão brasileiro - fevereiro segundo maior patamar da história, além de números fortes também para março e abril. "Para maio, o mês nem começou, e já estamos com uma fila de embarques recordes de navios para serem descarregados com a nossa soja em território chinês".
O especialista ainda complementa dizendo que, apesar dos estoques de soja da naçõ asiática estarem em seus maiores níveis em 18 meses na zona portuária do país, "esse é um indicativo de que a China não para de comprar porque precisa do produto. Não me assustaria batermos um novo recorde de importações pela China de soja neste ano devido ao apetite e necessidada da gigante asiática".
DEMANDA INTERNA: FORÇA ESPERADA PARA O 2º SEMESTRE
Além da demanda forte na exportação, a demanda interna também se mostra um pouco mais presente neste momento, entretanto, as margens no cenário brasileiro estã ruins.
"As retiradas dos contratos de biodiesel estão muito lentas, pressionando as margens e também o processamento. Há relatos de que uma processadora em Mato Grosso está operando com 50% de sua capacidade porque os tanques estão cheios. Se essa situação for geral, o processamento começará a cair, o que pode começar a a reduzir a oferta de farelo no mercado", explica Eduardo Vanin.
O diretor da Pátria corrobora com a análise de Vanin, e projeta que a demanda interna pela oleaginosa no Brasil deverá assumir um pouco mais de tração no segundo semestre - como acontece todo ano, por fatores sazonais - com, inclusive, a consultoria estimando um crescimento do consumo interno de 56,8 para 57,1 milhões de toneladas. "Não é um salto tão agressivo como se deu de 2022 para 2023 - que foi de quase 10% de incremento, mas é uma elevação dado que a oferta total encolheu neste ciclo safra", afirma.
Matheus Pereira lembra ainda que o consumo interno - não só de soja, mas também de milho - dificilmente apresenta recuos, salvo em anos em que a produção sofra perdas catastróficas.
E as exportações de farelo e óleo de soja pelo Brasil, ambas, estão com volumes maiores do que as do mesmo período do ano passado.