Soja tem semana de pouco avanço na colheita e nos negócios; pressão nos prêmios e no dólar sob atenção
Os novos números da Pátria Agronegócios divulgados nesta sexta-feira (3) apontam a colheita brasileira da soja alcançando 9,86% da área e os dados ainda apontam para atrasos consideráveis em relação ao ano passado e à média dos últimos cinco anos. Em 2022, neste mesmo período, já havia 20,4% da área colhida e a média plurianual é de 12,51%.
Diferente de outros anos, em que o Mato Grosso geralmente lidera os trabalhos de campo, nesta temporada quem está na frente é o estado de Rondônia, com 37% da área já colhida. Já a colheita mato-grossense está em 24,8%, contra 45,6% de 2022 e 30,13% de média.
"No Mato Grosso, a aceleração desta semana ainda foi "comedida", afirma a Pátria. Todavia, a consultoria explica ainda que "os resultados de campo seguem satisfatórios, especialmente no Centro do Brasil. Relatos de alguns talhões com produtividades recordes".
Por outro lado, ainda segundo a apuração da Pátria, há também relatos ruins, "bem decepcionantes em partes do sudoeste de Goiás e do Mato Grosso do Sul".
Os modelos climáticos do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) apontam para muita chuva no Centro-Sul do Brasil nas próximas 24 horas, com chuvas volumosas sendo esperadas para São Paulo e Mato Grosso do Sul. As precipitações esperadas para ambos os estados pode chegar a 40 mm nas próximas horas. Mato Grosso também deve receber volumes intensos, os quais poderiam alcançar os 60 mm e, se confirmando, continuar a prejudicar o bom avanço da colheita da soja nestes estados.
Algumas chuvas são esperadas também para o Rio Grande do Sul, ainda de acordo com os mapas do Inmet, mas ainda de forma irregular, mal distribuídas e de vlumes insuficientes para mudar o quadro da safra gaúcha. Imagens recebidas pelo Notícias Agrícolas mostram que as lavouras de soja e milho continuam sofrendo com a agressividade da seca.
Em Lagoão, no Rio Grande do Sul, não chove de forma significativa desde 12 de dezembro e "as lavouras de soja na localidade estão comprometidas em função da falta de chuvas, com o produtor rural até já considerando não colher", segundo relatou Rudinei Erpen, produtor rural local. "A colheita na localidade está prevista para iniciar na metade de março".
Em Passo Fundo, também no Rio Grande do Sul, as perdas nas lavouras de milho variam de 40% a 70% e ficou 20 dias sem chuvas significativas até a última quinta-feira (2). Os campos de soja também têm prejuízos, porém, ainda sem ser possível contabilizá-los.
SOJA DE POUCOS NEGÓCIOS NO BRASIL
Na Bolsa de Chicago, a semana foi de volatilidade para os futuros da soja, os quais encerraram o pregão desta sexta-feira (3) com pequenas baixas de 1,50 a 2,25 pontos nos principais vencimentos. Ainda assim, os preços terminaram o dia acima dos US$ 15,00 por bushel nas posições mais curtas. O maio/15, na semana, subiu 1,40% para fechar em US$ 15,25 e o julho acumulou um ganho de 1,94%, chegando a US$ 15,16.
Em contrapartida, os prêmios cederam agressivamente no mesmo período, marcando baixas de até 34% entre os indicativos das principais posições. Com referência no porto de Paranaguá, o fevereiro saiu, na última sexta (27), de 61 cents de dólar sobre os valores praticados em Chicago para 40 centavos; o março caiu de 34 para 24 cents e o abril, de 25 para 23 cents.
Além dos prêmios, cedeu também o dólar até a chegada da nova alta nesta sexta-feira, de mais de 2%, levando a moeda americana de volta aos R$ 5,15. E assim, com dois dos três fatores de formação dos preços da soja brasileira em queda, o mercado brasileiro registrou poucos novos negócios nos últimos dias.
"O mercado da soja foi um mercado bem frio aqui no físico brasileiro, desestimulado pelas quedas, principalmente, dos prêmios de exportação e do dólar. O produtor do Brasil, que está historicamente atrasado em suas vendas, depositava muita esperança que esta semana pudesse ser mais agitada para avançar com as vendas, mas infelizmente não. O produtor rural continua retraído, avançando colheita e, infelizmente, com poucas oportunidades de novas vendas. Aqueles que não se prepararam estão pegando um mercado bem frio", explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
A iminente chegada de uma safra recorde de soja do Brasil tem deixado o mercado bastante atento, uma vez que a pressão sobre os preços já pode ser sentida. Segundo o relato de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, há produtores que têm vindo a mercado na tentativa de evitar referências ainda mais baixas.
"Os produtores têm vindo para o mercado para fazer posições porque a comercialização está atrasada e o setor teme que quando vier à safra efetiva, em duas semanas a diante, teremos uma inundação de soja", explica o consultor, complementando que este volume deve afetar ainda mais as altas dos fretes, além de poder pressionar ainda mais os prêmios, "que já estão baixos".
O consultor afirma que há também os produtores que vêm aproveitando o atual momento e os atuais níveis de preços que vem sendo praticados, inclusive parqa trocas por insumos "porque a relação está bem favorável e muito melhor do que estava no ano passado", diz. "Desta forma, boa parte dos negócios vem sendo atrelados a insumos, porque os produtores não têm mostrado muito interesse em
vender e ficar com dinheiro parado, temendo pela economia brasileira que pode dar sustos neste ano".