Soja 23/24 do Brasil oferece boas relações de troca, otimizam custos de produção e chance de negócios
As atenções do produtor brasileiro de soja têm de estar divididas entre diversas frentes agora. Se para a safra 2022/23 estão em foco a conclusão do ciclo e na comercialização - que está atrasada em relação ao ano passado e à média dos últimos cinco anos -, para a safra 2023/24, olho vivo nos custos de produção. E as notícias, neste último caso, já são mais positivas, depois de a última temporada ter sido a mais cara - e talvez uma das mais desafiadoras da história em função dos contextos político e econômico globais - com a indicação de uma possibilidade de custos menores.
Números divulgados nesta semana pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) mostraram que a nova safra de soja do estado deverá ser 4,8% menor e está previsto, ao menos até este momento, em algo como R$ 4674,42 por hectare. "Essa redução foi pautada pela queda nos preços dos insumos em relação à safra 2022/23, principalmente as despesas com macronutrientes, apresentando uma baixa de 24,14%, e com sementes, com um recuo de 13,18%", explicam os especialistas do instituto.
Com estas primeiras projeções, o chamado Custo Operacional Efetivo (COE) sinaliza uma ligeira redução de 0,42% em relação a 2022/23 e ficou em R$ 6240,60 por hectare.
"Para que o produtor de Mato Grosso consiga custear o seu COE é necessário que venda sua produção por, pelo menos, R$ 106,66 por saca, uma redução de 0,42% em relação ao ponto de equilíbrio (PE) da safra 22/23", afirma o Imea. "Apesar disso, vale ressaltar que o ponto de equilíbrio ainda está 37,15% maior que avmédia das últimas três safras".
Os primeiros levantamentos de 2023 do analista de fertilizantes Jeferson Souza, da Agrinvest Commodities, mostram que os principais grupos de produto apontam para preços mais acomodados ou, ao menos, estagnados neste ano. Até o último dia 18, os dados apurados pelo especialista apontam para a comercialização dos fertilizantes para a soja 23/24 ultrapassam 50% em Mato Grosso. Para Goiás, sua estimativa é de que as compras de insumos já tenha alcançado algo como 30%.
"Esse movimento é um reflexo direto da melhora no poder de compra do produtor brasileiro. A Relação de troca da próxima safra melhorou muito em relação ao ano passado. Assim, a comercialização dos fertilizantes para a soja voltou a avançar e se aproximar da média", explica Souza.
Em suas últimas entrevistas ao Notícias Agrícolas, o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, tem destacado essa força dos negócios com soja acontecendo com as trocas por insumos para a safra 2023/24, mais do que vendas diretas, justificando, inclusive, a comercialização mais lenta da temporada 2022/23.
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Outro exemplo é o cloreto de potássio. O fertilizante foi o ponto focal da crise do setor que se instalou no mundo de meados de 2021 até quase o final de 2022, se intensificou com o início do guerra entre Rússia e Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado. A oferta se restringiu muito, as incertezas sobre os volumes vindos da Rússia e da Belarus foram crescendo, a logística ficou comprometida e cara, levando o produto a patamares historicamente altos.
Já no começo deste ano, ainda segundo explica Jeferson Souza, nos últimos 30 dias, até 13 de janeiro, os preços do KCl - custo e frete Brasil (CFR)- praticamente se estagnaram. "Do lado das compras, também senti que os produtores ficaram um pouco mais cautelosos nas posições para 2023/24".
Assim, o gráfico abaixo - com dados compilados pelo analista da Agrinvest Commodities - mostra que a relação de troca entra a soja e o cloreto de potássio está mais baixa do que a do ano passado, porém, ainda acima da média dos últimos anos. Com base Porto de Paranaguá, a relação de troca soja x KCl está em cerca de 20 sacas por tonelada, contra 30 sacas no mesmo período do ano passado. E a média histórica é de 18 scs/t.
"É uma mudança pequena, mas importante. Só que temos que observar que ainda estamos acima da média histórica", afirma o analista, que complementando que para o MAP, por exemplo, o quadro é semelhante, com relações de troca também acima da média ainda. "É um cenário muito melhor do que o do ano passado, mas continua superior à média". E para que a média seja alcançada, muito também dependerá do comportamento dos preços da soja.
"Mesmo que o Brasil importe o mínimo possível (de KCl), em janeiro e fevereiro, temos estoques muito parecidos com os de 2021 e 2022, isso, de certa forma, é um fator tranquilizador, que pode frear um aumento abrupto das cotações. Então, neste primeiro bimestre, acredito que os preços vão testar essa certa estabilidade", diz. Além disso, Souza ainda destaca o movimento de Belarus na tentativa de encontrar alternativas para escoar sua produção de fertilizantes.
Antes de ser sancionada, o país era responsável pelo embarque de 20% de todo o consumo mundial de cloreto de potássio. Em 2022, o KCl bielorusso representou 9% do total importado desta matéria-prima pelo Brasil. Em 2021, o número foi de 19%.
Além dos fertilizantes, os agroquímicos, como destaca Souza, também dão oportunidades interessantes ao produtor brasileiro da oleaginosa. "Os preços dos agroquímicos também recuaram nos últimos meses. Isso é muito importante para os produtores analisarem seus custos para a safra 2023/24. Atualmente, a relação de troca entre a soja e o glifosato já se aproxima da média dos últimos anos", orienta o analista.
Neste contexto, analistas e consultores de mercado seguem trazendo os alertas importantes sobre as janelas de negócios que poderão ser abertas na sequência, porém, sempre com a necessidade de um constante monitoramento das relações de troca.