Soja sobe nesta 6ª feira em Chicago, mas ainda acumula baixas de mais de 2% na semana
Apesar da recuperação nesta sexta-feira (22), os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago registraram mais uma semana negativa na Bolsa de Chicago, com perdas acumuladas de mais de 2%. O contrato agosto cedeu 2,18%, passando de US$ 14,66 para US$ 14,34, enquanto a baixa no novembro foi de 2,01%, de US$ 13,42 para US$ 13,15 por bushel. Ao longo do pregão desta sexta, o novembro chegou a trabalhar no vermelho e testou algo ligeiramente abaixo dos US$ 13,00.
Mais uma vez, a semana foi marcada por intensa volatilidade, com o financeiro e o fundamento se revezando como o foco principal do mercado não só da soja, mas de commodities agrícolas. Nesta sexta, a notícia que chegou para complementar o quadro e agitar ainda mais os mercados foi a confirmação de um acordo que garante o escoamento dos grãos ucranianos. Rússia e Ucrânia assinaram acordos com a ONU (Organização das Nações Unidas), mediados também pela Turquia, e a informação pesou, principalmente, sobre os preços do trigo.
Também como vinha sendo pleiteado pelo governo russo, os navios serão inspecionados antes de deixarem a área em um terminal localizado em território da Turquia. A expectativa é de que o acordo permita exportações de 22 milhões de toneladas de grãos ucranianos e outros produtos agrícolas que já estão represados nos portos do Mar Negro desde o início do conflito. No dia 24, a guerra completa cinco meses.
Entenda e veja as expectativas de analistas para o mercado do trigo, que terminou a sessão desta sexta na CBOT com baixas de mais de 40 pontos nos contratos mais negociados - ou mais de 6%:
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A soja, todavia, diferente de outros pregões, não foi contaminada. O mercado se apoiou em um macrocenário ligeiramente mais favorável, menos avesso ao risco, a baixa do dólar - index e comercial frente ao real no Brasil -, como explica a equipe da Agrinvest Commodities, encontrando espaço para um certo respiro e recomposição de posições depois de perdas tão agressivas durante a semana toda.
"A economia global parece cada vez mais provável que entre em uma séria desaceleração, assim como os bancos centrais revertem agressivamente a política monetária muito fraca adotada durante a pandemia para apoiar o crescimento, mostraram os dados", complementa o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa.
CLIMA NOS EUA e DEMANDA
Também por mais uma semana e como é tradicional para este período, entre os fundamentos a atenção maior está sobre o clima nos Estados Unidos agora. As condições esperadas para os próximos dias são melhores agora, com mais chances de chuvas e temperaturas mais amenas em importantes regiões produtoras do país.
O mapa do NOAA, o serviço oficial de clima dos Estados Unidos, traz a previsão atualizada nesta sexta (22) para o intervalo de 23 a 30 de julho, indicando precipitações mais volumosas ainda concentradas no leste do Corn Belt, mas alguns volumes alcançando também estados como o Missouri, Minnesota, Wisconsin e parte das Dakotas.
As temperaturas, porém, deverão seguir elevadas.
"O modelo climático desta tarde indica temperaturas um pouco inferiores às registradas nas últimas semanas, no entanto, continuam altas, beirando a casa dos 32-38°C (90-100°F) no Meio-Oeste e no sul dos EUA. Leves acumulados, de até 50 mm, estão previstos em grande parte das planícies produtoras do país, dentro dos próximos 10 dias. As Dakotas, faixa oeste do Nebraska, sul do Kansas e todo o Texas continuam com previsão de seca", afirma Ginaldo Sousa.
O mercado também esteve atento aos mapas de anomalias para chuvas e temperaturas para todo o mês de agosto reportados também pelo NOAA. As temperaturas tendem a seguir acima da média para o mês inteiro, e as chuvas abaixo no mesmo período, como mostram as imagens abaixo.
"As perspectivas climáticas não são muito favoráveis para a soja, que prospera com chuvas abundantes durante o mês. O calor não é tão preocupante, a soja não se importa com um pouco de calor. Isso garante um olhar atento sobre as previsões para o próximo mês", Karen Braun, especialista em commodities agrícolas da Reuters Internacional.
Sobre a demanda, as notícias foram positivas, porém, insuficientes. Circularam no mercado as informações de que a China teria negociado cerca de 13 navios de soja dos Estados Unidos, além de alguns cargos também do Brasil e da Argentina. No entanto, em anos "normais" de consumo, a nação asiática estaria comprando de 35 a 40 barcos de soja neste momento.
Assim, com uma demanda mais frágil se comparada a anos anteriores, o impacto principal entre as variáveis formadoras de preços se deu sobre os prêmios - em queda no Brasil, na Argentina e nos EUA.
"A China está comprando nos EUA e no Brasil também. Está comprando Brasil para agosto e estão caindo bastante esses prêmios. No CNF, ou seja, no destino, para embarque agosto saiu negócio a 290 centavos acima de Chicago na segunda-feira (19) e nesta quarta (21) negócios foram reportados a 265 cents. Está cainda o prêmio junto com Chicago, ou seja, o flat price - a soma das duas coisas - está caindo", detalha o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities. "No início de junho esse embarque (agosto) tinha oferta do com prêmio de 420 cents com o agosto a US$ 16,20 em Chicago.
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E nesta disputa contará ainda a influência do dólar na formação dos preços. Nesta sexta, a moeda americana fechou próximo da estabilidade, com uma pequena alta de 0,05%, mas ainda sendo cotado a R$ 5,50. Para o produtor brasileiro, a atenção sobre o câmbio deve estar redobrada em um momento onde a volatilidade na Bolsa de Chicago é muito forte e em um momento que é de pressão para os prêmios da soja.