China derruba flat price da soja (Chicago + prêmio) nas principais origens com demanda mais fraca

Publicado em 21/07/2022 16:29 e atualizado em 21/07/2022 17:28

As últimas notícias sobre a demanda chinesa por soja chamaram a atenção nesta semana. Traders confirmaram a negociação de pelo menos 13 barcos de produto norte-americano por parte da China, que busca garantir a cobertura de pelo menos uma parcela do que ainda precisa para os próximos meses. E como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, apesar das compras, os prêmios para a soja - não só dos EUA, mas também do Brasil - têm caído expressivamente. 

"A China está comprando nos EUA e no Brasil também. Está comprando Brasil para agosto e estão caindo bastante esses prêmios. No CNF, ou seja, no destino, para embarque agosto saiu negócio a 290 centavos acima de Chicago na segunda-feira (19) e nesta quarta (21) negócios foram reportados a 265 cents. Está cainda o prêmio junto com Chicago, ou seja, o flat price - a soma das duas coisas - está caindo", detalha. "No início de junho esse embarque (agosto) tinha oferta do com prêmio de 420 cents com o agosto a US$ 16,20 em Chicago. 

No entanto, este não é um movimento para este momento do ano. Afinal, embora os 13 navios tenham chamado alguma atenção do mercado, em anos 'normais' de demanda do gigante asiático, algo entre 35 e 40 barcos estariam sendo comprados. Mais do que isso, sazonalmente, o país se aproxima do pico de consumo de farelo - como mostra o histórico - o que poderia não se confirmar agora em 2022 diante de todas as dificuldades que o país vem enfrentando no complexo soja, em especial com as margens negativas no processamento do grão. 

"A queda no flat price ela vem acontecendo porque a demanda é baixa, é pequena, porque as margens são ruins e porque ainda temos oferta. Está caindo (o flat price) no Brasil, na Argentina e também nos Estados Unidos. Quem quer vender soja hoje tem que correr atrás de logística, ou seja, tem que ter colocação lá no destino. E como a demanda está pequena, tem mais oferta do que demanda e isso porque as margens ainda continuam bastante negativas, apesar da grande queda", complementa o analista. 

De junho até agora, os preços da soja, posto China, já se mostram, aproximadamente, US$ 100,00 mais baixos por tonelada, o que não ajudou, porém, em uma melhora da margem. Ainda segundo Eduardo Vanin, essa manutenção do mau momento das margens se dá com uma baixa entre os preços dos derivados da oleaginosa tendo acontecido mais rápida e intensamente do que o preço da soja importada. 

Do pico testado em junho até agora, o óleo de soja já cedeu quase 30%, enquanto no farelo de soja as perdas foram de 12% a 15% no mesmo período. Os estoques de ambos os produtos continuam bastante elevados no país, mesmo diante de boas vendas de farelo em junho, registrando o maior volume desde agosto do ano passado. Já em julho, as vendas voltaram a recuar agressivamente. 

"A taxa de esmagamento acima de 60% e a baixa demanda por farelo têm pressionado os basis internos do farelo, que já estão negativos no Sul da China", diz Vanin. 

Por outro lado, os estoques de soja em grão continuam caindo. No primeiro semestre de 2021, as importações chinesas da commodity foram 5,5% menores do que no mesmo período do ano passado. E, ainda como mostram os cálculos da Agrinvest, o país ainda precisa comprar de 10 a 11 milhões de toneladas de soja para garantir sua cobertura. Até o final de fevereiro, esse volume chega a algo de 30 a 32 milhões de toneladas. "Esse volume pode variar bastante dependendo do ritmo de esmagamento. Com as margens negativas de hoje parece que pode ser menor", afirma o analista.

PARA O PRODUTOR BRASILEIRO

Para o produtor brasileiro, as perguntas são sobre como ficará a formação dos preços e qual o volume que que o Brasil terá disponível para atender a esta demanda. Já é sabido que o país não será um exportador de soja em janeiro como como foi neste ano. 

"Do estoque de passagem que tínhamos de 2021 para 2022 a China comprou bastante para embarque janeiro no Brasil. Tìnhamos competitivdade e, lembrando, que os EUA atrasaram os embarques por conta do furacão Ida. Provavelmente, este ano não será assim porque temos menos soja. E naturalmente nossa soja ficará mais cara do que a americana", explica Eduardo Vanin. 

Na última segunda-feira, o Brasil negociou mais de um milhão de toneladas de soja e depois o mercado foi adotando um ritmo menos intenso, como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. 

"Os vendedores continuam segurando grandes volumes de soja, que neste momento podem estar na faixa das 39 milhões de toneladas. Temos muito para atender o mercado interno, que neste restante de ano irá consumir de 15 a 17 milhões de toneladas", diz. E será essa demanda interna que irá competir com a exportação a soja restante da safra 2021/22 do Brasil. 

E nesta disputa contará ainda a influência do dólar na formação dos preços. Nesta quinta, a moeda americana voltou a subir e alcança o patamar dos R$ 5,50, fator que favorece os indicativos para o produto brasileiro, ajuda em sua competitividade, porém, com as perdas acentuadas em Chicago, o impacto acaba sendo limitado. 

Nos últimos 30 dias, de 21 de junho a 21 de julho, enquanto o dólar subiu 7%, passando de R$ 5,14 para R$ 5,50, os contratos agosto e novembro da soja negociados em Chicago despencaram mais de 10%. O agosto cedeu 11,26%, caindo de US$ 15,98 para US$ 14,18, enquanto o novembro foi de US$ 15,10 para US$ 13,01 por bushel. Assim, é no prêmio - no Brasil ou no destino - que poderão se dar as próximas oportunidades do produtor brasileiro. 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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