Demanda por soja na China está enfraquecida e além de Chicago, derruba também prêmios no BR

Publicado em 18/07/2022 16:24

Dados reportados pela Administração Geral das Alfândegas da China nesta segunda-feira (18) mostraram que as importações agrícolas do país no primeiro semestre de 2022 não foram tão fortes quanto as do ano passado, no mesmo período. Os números são mais um reflexo da economia global descompassada e das preocupações com o crescimento mais contido se traduzindo em um consumo também mais tímido, como explicam analistas e consultores de mercado. 

A China importou, de janeiro a junho, menos trigo, milho cevada, carne suína, açúcar e soja na comparação anual, e o destaque positivo foi apenas o sorgo, onde as compras foram 26% maiores, somando 6,020 milhões de toneladas no período. Também do lado positivo estiveram as compras de carne bovina, que foram de 1,17 milhão de toneladas no intervalo, 2,4% maiores na comparação com 2021. 

A tabela abaixo mostra as informações compiladas pela especialista internacional em commodities, Karen Braun:

Importações Agrícolas da China
Tabela: Administração Geral das Alfândegas da China + Karen Braun

As importações de soja da nação asiática foram de 46,290 milhões de toneladas na primeira metade deste ano, volume 5,5% menor do que o observado na primeira metade de 2021. Ao lado dos temores todos que rondam a economia global, afinal, a China ainda passou por novos surtos e picos de Covid-19 este ano, impôs severos lockdowns a uma imensa parcela de sua população e os impactos de suas últimas medidas continuam a ser sentidos. Ainda assim, o mercado segue esperando um novo fôlego da demanda chinesa pela oleaginosa, uma vez que ela o gigante ainda precisa vir a mercado para estar abastecido nos próximos meses. 

A grande questão que o mercado se faz agora é como a China fará para encaixar todas as peças do quebra-cabeça. De um lado, precisa fazer algumas compras nos próximos meses, de outro, ainda sente a pressão de margens de esmagamento que não estão em seu melhor momento, o que a faz buscar planejar suas novas aquisições onde a oleaginosa estiver mais atrativa necessariamente.

"Na semana passada, traders falaram em apenas algo entre seis e oito navios negociados para China, sendo cinco do Brasil, dois tendo sido negociados na sexta-feira. O ritmo está muito lento. Provavelmente, o processamento de soja entre setembro e novembro será muito menor do que o esperado", afirma o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities. Tradicionalmente, em anos 'normais', a China estaria comprando mais do dobro de navios de soja neste momento do ano. 

Na análise e nos cálculos de Vanin, o país, adquirindo menos de dez navios de soja por semana, deverá processsar também bem menos da oleaginosa do que em anos anteriores. Seus números preliminares apontavam 5,5 milhões para setembro e 10 milhões de toneladas para outubro, o que pode não se confirmar. A luz no fim do túnel, também já alertada por ele em outras ocasiões, poderia ser a suinocultura, que vem buscando uma retomada e refletindo em uma boa alta nos preços do suíno no mercado local. 

"Dados oficiais falam em crescimento da população de matrizes de suínos em 2% em junho na comparação mensal e crescimento da população de animais em 2% no 2º trimestre. Mesmo com o crescimento, não há reação no consumo de ração e farelo de soja. A única explicação continua sendo a redução do peso de abate", afirma o executivo.

Enquanto isso, as últimas semanas foram de dados negativos para as compras pela China de soja norte-americana. Por três semanas, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe vendas semanais de soja para exportação negativas, com cancelamentos e buybacks, por parte da nação asiática, também ajudando a justificar a migração de suas compras para o mercado brasileiro. 

E em seu último boletim mensal de oferta e demanda, em 12 de julho, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reduziu suas estimativas para as importações totais chinesas de soja tanto na temporada 2021/22, quanto 2022/23, para 90 e 98 milhões de toneladas, respectivamente. Em junho, os números de 92 e 99 milhões. 

BRASIL X EUA

Ainda segundo o analista da Agrinvest, atualmente, a a soja brasileira é mais é mais competitiva em relação à americana em 20 centavos para agosto e 15 centavos para setembro CFR China. E parte deste recuo se deu pela baixa dos prêmios no mercado brasileiro. "Na semana passada os prêmios para embarque agosto recuaram 16 centavos por bushel. O flat price caiu mais de 60 centavos", detalha Vanin. "A queda dos prêmios está fazendo seu trabalho para atrair a demanda", completou, acrescentando ainda um gráfico comparando as margens de esmagamento com a soja saindo dos portos do Pacífico, do Golfgo e de Santos. 

Margem de esmagamento da soja na China - Gráfico: Eduardo Vanin/Agrinvest Commodities

E o Brasil ainda tem um bom volume de soja 2021/22 para negociar e atender à China com competitividade. Segundo cálculos da Brandalizze Consulting, são, aproximadamente, 40 milhões de toneladas ainda a serem negociadas pelos sojicultores nacionais. 

"Este é um grande número para o mercado porque o consumo interno no segundo semestre deve
ficar na casa das 16 a 17 milhões de toneladas. Assim, teríamos de 23 a 24 milhões de toneladas livres para serem negociadas e que terão que ter destino à exportação na forma do grão ou derivados -  farelo e óleo. Com esse volume para negociar, há certa tranquilidade entre compradores, que vão levando das mãos para boca no mercado interno", explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado.

DEMAIS PRODUTOS

Todo esse conjunto de fatores que atingiu o coração da demanda por soja chegou também aos demais produtos agrícolas, já que nos últimos seis meses boa parte deles registrou uma elevada média - incluindo recordes batidos - de preços, afastando os compradores. A guerra entre Rússia e Ucrânia, que completa cinco meses no dia 24, foi mais um catalisador dos recentes avanços, em especial no milho e no trigo. 

Assim, no primeiro semestre deste ano, as importações de milho pela China somaram 13,590 milhões de toneladas, 11% menores do que há um ano. Já as compras de trigo registraram uma diminuição de 8% na comparação anual, somando 4,940 milhões de toneladas. 

O destaque, todavia, se dá para a carne suína. Nesta primeira metade de 2022, as compras da proteína foram de 800 mil toneladas, 65% menores do que no primeiro semestre do ano passado. Assim, as expectativas indicam que o segundo semestre exija importações um pouco mais robustas para que a demanda possa ser atendida, segundo explicou, em entrevista ao Notícias Agrícolas, o analista de proteína animal do Rabobank, Wagner Yanaguizawa. 

Entretanto, o executivo afirma também que, mesmo com essa retomada, o saldo do ano cheio ainda deverá ser de importações chinesas de carne suína 36% menores neste ano. O USDA estima um recuo de 39%. 

Reveja a entrevista do analista do Rabobank:

Outro número que chama a atenção é o do óleo de soja. De janeiro a junho, as compras do derivado somaram 130 mil toneladas, 80,6% menos do que há um ano. Já de óleo de palma, as importações da nação asiática foram de 560 mil toneladas, apresentando um recuo de 73,1% se comparadas ao primeiro semestre de 2021. 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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