USDA indica área recorde e soja fecha com mais de 40 pts de baixa na CBOT. O que o mercado espera agora?

Publicado em 31/03/2022 17:00 e atualizado em 31/03/2022 18:09

As novas projeções de área trazidas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para a safra 2022/23 dos Estados Unidos pesaram diretamente sobre as cotações dos grãos na Bolsa de Chicago, em especial a soja. Os futuros da oleaginosa terminaram o dia com perdas de mais de 40 pontos entre os principais vencimentos, levando os contratos abaixo dos US$ 16,00 por bushel, à exceção do maio, que encerrou o dia com US$ 16,18. 

A estimativa de 36,38 milhões de hectares (91 milhões de acres) é recorde para a soja norte-americana e indica um aumento de 4% em relação ano ano passado, bem acima das expectativas do mercado. Ainda de acordo com as estimativas do USDA, a área dedicada à oleaginosa deverá aumentar ou se manter estável em 24 dos 29 estados que têm a cultura no país. 

As expectativas do mercado variavam de 34,8 a 37,31 milhões de hectares, com média de 35,91 milhões. No Outlook Fórum do USDA, em 24 de fevereiro, o número veio em 35,61 milhões de hectares, já superando a área da safra passada, de 35,29 milhões. 

Assim, o Notícias Agrícolas foi ouvir os analistas e consultores de mercado para entender o que poder ser observado a diante no mercado de grãos a partir da divulgação destas novas estimativas. Afinal, o mercado ainda vai receber outros três austes nestes números de área nos EUA. 

Luiz Fernando Gutierrez, Safras & Mercado

Para Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado, o relatório confirmou o viés que vinha sendo esperado pelo mercado de mais área de soja e menos de milho, porém, surpreendeu com a intensidade do aumento destinado à oleaginosa, a qual poderia ser maior do que a do cereal a ser confirmada. "Isso pode ser histórico, o produtor americano plantando mais soja do que milho, o que é muito interessante. O mercado não esperava um aumento tão grande na área de soja e nem um corte tão grande na área de milho", diz. 

Gutierrez lembra ainda que há outros fatores - como a guerra na Ucrânia - que ainda poderiam promover mais área dedicada ao milho pelos produtores norte-americanos. Por outro lado, os mesmos poderiam estar olhando mais para a soja também pelo atual momento dos fertilizantes, onde a oferta é escassa e os preços se seguem em patamares historicamente altos. 

Agora, o mercado passa a acompanhar os trabalhos de campo nos EUA, as questões de clima e ao se confirmar essa área recorde e usando uma média de produtividade, em uma safra sem grandes problemas, seria uma colheita próxima de 126 milhões de toneladas. Com a produtividade máxima sendo registrada no país, a safra 2022/23 poderia alcançar algo entre 128 e 128,5 milhões de toneladas. 

Com isso, "teríamos um ambiente negativo para os contratos futuros em Chicago, porque além de um aumento do potencial produtivo americano, o USDA também trouxe estoques trimestrais acima do esperado, e com esse número não concordo tanto. A demanda pela soja americana vem crescendo pela quebra na safra da América do Sul, e faria mais sentido ele fazer um corte maior ou trazer estoques menores do que o mercado estava esperando", diz. 

Com esses números, os preços nos contratos mais distantes, já se referindo à temporada 2022/23 nos EUA, deverão se aproximar mais dos US$ 14,00 por bushel na CBOT. 

"O mercado agora vai começar a olhar para o clima nos EUA, o plantio começa em mais algumas semanas, e aí tudo pode acontecer. O clima será fundamentalpara entendermos qual será a produção americana e para que lado o mercado vai", afirma o analista. 

Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios

"Até janeiro, a maior parte das consultorias acreditava em uma área maior de soja e menor de milho por conta dos preços dos fertilizantes. Produzir milho nos EUA é mais do que o dobro do que produzir soja por conta da adubação. Então, essa alvancagem do custo de produção acabava migrando a intenção de plantio do produtor americano e o mercado tinha isso em consenso", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios. 

No entanto, com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia explodiu, em 24 de fevereiro, e promoveu uma alta expressiva nos preços dos cereais - milho e trigo - o que levou o mercado a ver uma melhor possibilidade de rentabilidade do produtor nos Estados Unidos, a qual poderia se traduzir em mais área destinada ao milho. 

"Mas, temos que lembrar de qual é o mecanismo de produção norte-americano. O produtor que está colocando semente no chão agora é um produtor que se planeja na colheita do ano passado. Então, não são decisões tomadas da noite para o dia e que são facilmente alteradas. A realidade que o USDA nos trouxe hoje é uma realidade que o mercado já entendia até janeiro", afirma Pereira. 

Trata-se, na análise do diretor da Pátria, de um relatório conservador partindo do USDA, confirmando uma realidade já esperada pela maior parte do mercado. As mudanças de uma cultura para outra são complexas e levam tempo, o que não poderiam acontecer desde que o conflito entre russos e ucranianos se iniciou, puxando os preços dos grãos. 

"Um terço das áreas de milho nos EUA começam a ser preparadas na colheita da safra anterior, com implementação mecânica de nitrogênio, porque lá eles não têm fixação biológica como temos por aqui", completa. 

Vlamir Brandalizze, Consultor de Mercado da Brandalizze Consulting

"O USDA veio com números bem divergentes das expectativas do mercado, que esteve nervoso hoje", afirmou Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. "Deu um banho de água fria na soja, o mercado já vinha na calmaria, no Leste Europeu a situação já melhorou um pouco", e será preciso acompanhar, completou. 

E esses dados, ainda como acredita Brandalizze, irão ajudar a direcionar as cotações e o mercado, que já tem um viés de baixa neste momento. Afinal, a área estimada pelo USDA indica uma possibilidade de safra nos EUA na casa de 130 milhões de toneladas. "É uma das maiores áreas de soja da história americana e isso vai trazer uma pressão sobre as posições", disse o consultor. 

"No somatório de milho e soja há um incremento em relação ao ano passado, e parte disso se dá sobre áreas de proteção ambiental, e os EUA buscam esse avanço na área justamente por conta da crise no abastecimento mundial. Haverá queda na produção de trigo no Leste Europeu, de trigo e girassol na Ucrânia, grandes regiões produtoras deverão estar fora da janela e por isso os produtores americanos apostando fortíssimo no avanço da soja, em função dessa demanda potencial grande e nos altos custos de produção do milho", detalha Vlamir Brandalizze. 

Aaron Edwards, consultor da Roach Ag Marketing

Embora o USDA tenha surpreendido com o tamanho do aumento da área plantada com soja na safra 2022/23 em seu boletim desta quinta-feira, para Aaron Edwards, consultor de mercado da Roach Ag Marketing, acredita que os quase 50 pontos que a soja perdeu nesta sessão possam ser recuperados mais adiante e que ainda serão necessários mais informações para que se defina uma clara tendência baixista para o mercado. 

"É uma situação de muita cautela. Se a norte-americana for boa, se o mundo se acalmar geopoliticamente, se o Brasil conseguir os fertilizantes que precisa, a tendência seria, gradativamente, o mercado se tranquilizar. Mas havendo qualquer problema ainda poderia ser muito explosivo para cima", afirma Edwards. 

Acompanhe a entrevista de Aaron Edwards ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira no fechamento do mercado em Chicago:

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Fonte: Notícias Agrícolas

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