Exportação de soja pela hidrovia do rio Paraguai é retomada em Porto Murtinho
Considerada um importante hub logístico e entrada da Rota Bioceânica, Porto Murtinho começa a operar seu maior terminal portuário com a primeira exportação de soja deste ano para a Argentina pela Hidrovia do Rio Paraguai. Após paralisação da navegação no segundo semestre de 2021, por conta da seca na bacia do Pantanal, a FV Cereais iniciou no último sábado (26) o carregamento de um comboio de 12 barcaças com 23 mil toneladas.
A retomada do transporte hidroviário em Mato Grosso do Sul iniciou-se em janeiro, com a saída de minério de ferro do Morro do Urucum, em Corumbá, pelo porto da Granel Química, que fica no município vizinho de Ladário. Na sequência, com a elevação do nível do rio em Porto Esperança, a Vale ampliou a capacidade de exportação a partir do seu terminal Gregório Curvo. Dependendo das condições de navegação, os portos estimam operar até setembro.
Primeiro carregamento de soja em barcaças começou no último dia 26: carga descerá o Rio Paraguai até San Lorenzo, Argentina
Com a concentração de chuvas com maior intensidade nas cabeceiras do Rio Paraguai, em Mato Grosso, as perspectivas de movimentação de cargas pela hidrovia são maiores do que nos últimos dois anos, período de seca intensa na região. Este ano, o nível do rio chegou a 4,69m na régua de Cáceres (MT), superior a 2019-2021, com estimativa de atingir acima de 3m em Ladário, no meio do ano. Em 2019, Ladário teve a máxima de 3,92m, e Porto Murtinho, 4,16m.
A FV Cereais reiniciou as operações com um volume de carga para navegar com calado de oito pés (2,43m), enquanto a régua do Rio Paraguai no local registrava 2,66m. O terminal projeta exportar 450 mil toneladas de soja em fase de contratação. A Granel Química opera a partir de um calado de sete pés (2,10m), superior em relação a régua oficial, instalada na Marinha, logo acima, onde o rio está a 1,80m, e deve movimentar 2 milhões de toneladas de minério de ferro.
O melhor caminho
O cenário mais favorável ao transporte fluvial é animador, segundo o secretário Jaime Verruck, da Semagro (secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultur Familiar), após um período de prolongada estiagem. “A retomada dos negócios pela hidrovia é um fator muito importante para a nossa economia e para o setor produtivo, pois a hidrovia tem um papel fundamental para a logística sul-mato-grossense”, pontua.
Verruck disse que o fomento à navegação comercial é resultado de um trabalho de longo prazo realizado pelo Governo do Estado ainda em 2015, quando o governador Reinaldo Azambuja assumiu o cargo, visando potencializar uma via natural de transporte e com menor custo, beneficiando regiões de vocação, como Corumbá e Porto Murtinho. “O governador entendia que seria um grande fator de desenvolvimento, como está se concretizando”, afirma.
A viabilidade da hidrovia e os novos investimentos em terminais em Porto Murtinho, na avaliação do secretário, é o coroamento do programa do governo estadual de incentivos fiscais e de estímulo ao modal em um Estado que expandiu em 1,5 milhão de hectares a sua produção de grãos em sete anos. Murtinho terá dois novos portos, com investimentos de R$ 400 milhões, e o empreendimento do Estado (APPM), inativo, irá a leilão nos próximos meses.
“A nossa capacidade de atrair novos empreendimentos para desenvolvimento desse eixo logístico tornou Porto Murtinho uma saída competitiva para a exportação de soja”, enfatiza Jaime Verruck. “O reinício das operações no porto do grupo FV Cereais é um marco, reafirmando as convicções do governador Reinaldo Azambuja e do governo de que este é o melhor caminho da política de expansão do agronegócio e da indústria em nosso Estado.”
Novos embarques
A chegada do comboio com 12 barcaças ao terminal da FV Cereais gerou muita expectativa, o que se concretizou na noite do último dia 25. Logo ao amanhecer de sábado (26), a área operacional do terminal entrou em atividade para liberar o primeiro embarque do ano para San Lorenzo (Argentina), o que se efetivou somente no período vespertino após ajustes no sistema. O terminal tem capacidade para movimentar mil toneladas de soja por hora.
O fluxo de cargas não depende apenas das condições do rio, mas também do mercado e cotação do dólar para os contratos longos”, informa Genivaldo Santos, gerente operacional da unidade da FV Cereais. “A expectativa é muito boa, considerando, principalmente, a crise na Argentina, que teve uma queda de 50% na sua produção”, cita, anunciando mais dois embarques para abril, de 50 mil toneladas, para os períodos de 5 a 10 e 15 a 20 daquele mês.
A soja estocada no armazém do terminal, com capacidade para 30 mil toneladas, é procedente das lavouras da região de Bonito, novo polo agrícola, distante 250 km de Porto Murtinho. O terminal voltou a operar com 38 trabalhadores, entre funcionários e temporários, e deve abrir novos empregos com o aumento do fluxo de cargas. Em 2021, a unidade iniciou os embarques em fevereiro e exportou no ano 250 mil de um total de 400 mil toneladas contratadas.
O terminal da FV Cereais foi inaugurado em 2020 com um investimento de R$ 110 milhões. O grupo, um dos maiores exportadores do Estado, com sede em Dourados, pretende ampliar a unidade com uma segunda planta, para fertilizantes, e dobrar a capacidade atual do armazém de grãos e açúcar – projetos adiados para 2023, ao custo de R$ 90 milhões. A meta do empreendimento é atingir 1,5 milhão de toneladas/ano, adianta Peter Feter, um dos sócios.