Soja: Exportações seguem fortes e dando importante suporte aos preços no mercado brasileiro
O mercado brasileiro da soja começa outubro com os resultados da balança comercial de setembro e, consequentemente, com bons números para as exportações de soja. De acordo com dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) divulgados nesta sexta-feira (1), os embarques da oleaginosa no último mês foram de 4,83 milhões de toneladas, volume maior do que o de setembro de 2020, quando foram 4,26 milhões. Além de volume maior, o valor da tonelada da soja brasileira ainda apresentou um aumento da 39,2% na comparação anual, passando de US$ 365,40 para US$ 508,80.
Para o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, setembro foi um bom mês para as exportações brasileiras, confirmando as expectativas de o total ser maior do que 2020.
"A demanda ainda existe, temos uma pauta de exportação para atender. Para outubro já temos 2,5 milhões de toneladas já registradas para embarque, o que também é maior do que o ano passado e do que estamos esperando para este ano. E como temos mais soja (agora em 2021) a expectativa é termos mais exportação nos últimos três meses do ano do que tivemos nos últimos três meses do ano passado", explica.
Essa força das exportações, de acordo com o especialista, caminha com o que estava de fato sendo projetado para este ano, o mês que começa hoje pode chegar a três milhões de toneladas e 2021 ainda pode fechar com 86 milhões de toneladas embarcadas. E Gutierrez complementa que essa demanda que o Brasil ainda tem a atender se dá, em sua maior parte, com negócios já feitos, porém, com espaço para que novos ainda possam acontecer.
"É claro que a China já está com praticamente todos os olhos voltados para os EUA, mas ainda temos compras para entregar pra eles e que vamos entregar nos próximos meses até o final do ano. Ainda podemos fazer alguns negócios, mas nossa soja agora está mais cara em relação à americana", afirma.
Ainda assim, esses possíveis novos negócios - e uma força maior da demanda interna no segundo semestre - ajudam na manutenção de preços ainda elevados no mercado brasileiro. Nesta semana, as referências sentiram a pressão do recuo dos futuros em Chicago - de mais de 2% - e do dólar, porém, permanecem em patamares bastante altos.
"Embora o Brasil vá ter estoques mais altos do que os do ano passado, não vão crescer tanto e os prêmios ainda estão firmes, a exportação está segurando os preços de mercado interno. A briga (entre demandas externa e interna) será menor este ano, mas teremos uma demanda para atender. Isso não quer que os preços vão continuar subindo, mas acho que não tem espaço para que caiam muito até o final do ano", detalha o analista.
E assim, a depender de Chicago e câmbio, contabilizando a boa demanda pela soja brasileira, os preços da soja no mercado brasileiro deverão ter bons momentos entre outubro e setembro.
SEMANA DE QUEDAS, MAS COM PATAMARES AINDA ALTOS
Em relação à ultima sexta-feira (24), praças nos principais estados produtores acumularam baixas de mais de 2%, refletindo justamente essa combinação de mercado futuro norte-americano e dólar - que cedeu mais de 1% nesta sexta. Os indicativos, porém, são ainda muito altos e bastante remuneradores, principalmente. Em Ponta Grossa/PR, baixa de 2,89% com a saca passando de R$ 173,00 para R$ 168,00; em Sorriso/MT, de R$ 167,00 para R$ 160,00, queda de 4,19%; Maracaju/MS de R$ 162,00 para R$ 156,00, perdendo 3,70% e Luís Eduardo Magalhães/BA, de R$ 165,00 para R$ 161,00, com queda de 2,42%. A exceção foi Jataí/GO, com estabilidade nos R$ 157,00 por saca.
No mesmo intervalo, o contrato novembro/21 - referente ao mercado spot neste momento - caiu 3,04%, passando de US$ 12,85 para US$ 12,46 por bushel. Na semana, o dólar caiu 0,47% e fechou o pregão desta sexta-feira com R$ 5,36. Somente nesta sessão, porém, a baixa foi de expressivos 1,47%, a maior perda diária desde o último dia 9.
Os estoques finais estimados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) são de 7,5 milhões de toneladas, número com o qual Gutierrez não compartilha. "Não acho que teremos tudo isso. Estamos trabalhando com estoques de 4,8 milhões. De acordo com as nossas projeções de esmagamento, exportação e o que tivemos de estoques iniciais, esperamos este número", diz.
DEMANDA INTERNA
Se as exportações caminham bem e sem surpresas, o mesmo acontece na demanda interna. "Vemos um pouco de pé no freio por conta do biodiesel, mas nada fora da normalidade. E assim, devemos atender nossa expectativas de esmagamento que é de 46,7 milhões de toneladas para este ano, em linha com o total do ano passado, ligeiramente menor".
Gutierrez ainda lembra das paradas que as empresas processadoras fazem no final do ano, porém, que mexem pouco com elasticidade da demanda no processamento.
Todavia, o analista também reitera a comparação dos estoques deste ano com os de 2020, bem menores, na casa de 2,8 milhões de toneladas apenas.
"Foram os mínimos possíveis para podermos virar o ano e em janeiro esmagar alguma coisa. E esse estoque do ano passado explica muito o que aconteceu com os preços, e esse ano teremos estoques ainda apertados, mas não tanto quanto os do ano passado. E isso faz com que os preços possam não continuar subindo, mas ainda garantindo um certo suporte", complementa.