China compra quase 700 mil t de soja dos EUA, mas BR ainda é mais competitivo até agosto

Publicado em 23/06/2021 17:05

Nesta quarta-feira (23), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de soja de 330 mil toneladas de soja 2021/22 para a China. Assim, o mercado confirma os novos rumores que circulavam ontem no mercado e leva o acumulado já adquirido pela nação asiática somente nesta semana a 670 mil toneladas. 

"As empresas chinesas estavam ausentes de compras há oito semanas das compras nos EUA. E traders comentam sobre mais vendas hoje, volume de 15 a 20 barcos. As compras estão sendo destinadas para suas reservas", explicam os analistas de mercado da Agrinvest Commodities. 

A compradora dos cargos foi a estatal Sinograin e, como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest, ela chega para marcar o mercado e puxar mais compradoras, inclusive as privadas. "Não foram compras exatamente por necessidade, mas por recomposição de reservas, porque as margens ainda estão muito ruins", diz. 

No entanto, Vanin explica ainda que os volumes que ainda poderiam ser adquiridos para atender a demanda de julho e agosto - de cerca de 8 milhões de toneladas - poderiam ser comprados ainda no Brasil, diante de uma competitividade que nestes meses segue mantida. A frente, para cumprir setembro, outubro e novembro a soja norte-americana ficaria mais barata e deve seguir atraindo a demanda da nação asiática. 

No período de janeiro a maio, a China importou 38,240 milhões de toneladas de soja, 13% a mais do que no mesmo período do ano passado. Em maio, o volume importado foi de 9,610 milhões, volume 2,5% maior do que em maio de 2020. Os números partem da Administração de Alfândegas da China. 

Apesar dessa necessidade de mais soja para estar abastecida adequadamente, o analista ainda alerta sobre essas margens muito apertadas para o esmagamento da oleaginosa na China, cenário que tem se dado, principalmente, pelos fretes marítimos muito elevados e pelos preços severamente pressionados do farelo de soja, refletindo o mau momento da suinocultura no país. 

SUINOCULTURA X IMPORTAÇÕES DE SOJA

Também como explica o analista da Agrinvest, as margens do suinocultor chinês estão muito ruins neste momento, com os preços da carne suína tendo acumulado baixa de 60% neste ano. "Os suinocultores estão desovando animais, abatendo animais mais jovens, mais cedo, e descartando matrizes menos lucrativas", diz. Além disso, "os custos para o controle de zoonoses também estão mais altos". 

E devido ao atual momento, o consumo de farelo é menor, o que faz da necessidade por soja também se mostrar mais limitada. 

"É passageiro. A demanda deve continuar normal, mas além de ser sazonalmente menor agora por carnes - que são substituídas, em parte, por frutos do mar neste período de mais calor - a China está reorganizando o mercado  e estas são 'as dores' da reorganização", complementa Vanin. 

A recomposição do plantel suíno no pós pico da epidemia de Peste Suína Africana na China, de acordo com analistas internacionais, também pesa sobre os preços. De janeiro a maio, afinal, a população de suínos na China cresceu 24% e está quase completamente recuperada. No mesmo período, de acordo com um representante do departamento de pecuária do Ministério da Agricultura chinês, aproximadamente 3,5 milhões de porcas reprodutivas foram abatidas. 

Gráfico mostra despencada dos preços do suíno na China
Fontes:Ministério do Comércio Chinês e Bloomberg

Há um efeito manada sendo registrado no mercado chinês de suínos que já provocou prejuízos para cerca de 10% dos suinocultores do país. 

Na Bolsa de Chicago, nesta quarta-feira, os futuros do suíno registraram limite de baixa. 

Leia Mais:

+ Futuros do suíno em Chicago atingem limite de baixa e ameaçam competitividade da proteína brasileira

SOJA BRASILEIRA X SOJA AMERICANA

A recente e acentuada baixa nos preços da soja na Bolsa de Chicago atraíram a demanda chinesa novamente ao mercado norte-americano. Ainda assim, o Brasil segue contando com soja mais competitiva para os importadores, e parte do que eles ainda precisam adquirir para atender suas necessidades no final do ano poderiam ser garantidos no mercado brasileiro. 

As últimas notícias vindas da China e o mercado de commodities têm ampliado seu espaço no macrocenário depois dos anúncios de que o governo segue dando continuidade às investigações sobre preços e comercialização destes ativos. Segundo analistas e consultores, além de economistas, parte das baixas extremamente agressivas entre todas as commodities veio depois dessa  movimentação, intensificando a especulação. 

"O preço caiu bastante e a China entrou comprando. As compras não surpreendem. Ela aproveitou o momento negativo do mercado e entrou comprando. A demanda da China está aí e sempre esteve", explica Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da SAFRAS & Mercado. "Naturalmente, nos últimos meses, vimos menos compras de soja americana porque as compras estavam concentradas aqui no Brasil. E a partir deste momento, em que a safra brasileira já está bem escoada e nos aproximamos da colheita americana é natural que vejamos mais vendas de soja americana para a China". 

Gutierrez destaca ainda a questão cambial e a competitividade mais limitada do produto brasileiro frente à baixa do dólar frente ao real. "Estamos menos competitivos neste momento do que estávamos um tempo atrás, inclusive os prêmios subiram (no Brasil). Nossa soja para julho ainda está mais barata, mas para agosto já está no mesmo valor, inclusive os prêmios estão bem parecidos", diz. 

A partir de setembro, os prêmios para a soja brasileira já são mais elevados e, naturalmente, a soja americana fica mais barata. E embora este seja um cenário em construção, os embarques do Brasil não deverão ser comprometidos. "No curto prazo não precisamos nos preocupar, mas para 2022 é outra coisa, teremos outro câmbio", complementa o analista. 

Os prêmios brasileiros, na referência dos compradores, têm estado na casa de 20 cents de dólar por bushel sobre o valor praticado em Chicago, 75 cents no agosto e 115 no setembro. Nos EUA, são 60 cents no julho, 72 no agosto e 80 centavos de dólar para setembro. 

De acordo com os últimos dados reportados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o Brasil embarcou nas três semanas de junho 7,56 milhões de toneladas de soja em grão. O volume mostra que os embarques nacionais perderam um pouco de ritmom e a projeção de que mais de 12 milhões de toneladas fossem embarcadas no mês pode não se concretizar.  Em receita, o total acumulado chega a US$ 3,65 bilhões. 

"Tivemos um ritmo mais lento em relação às duas semanas anteriores, quando estávamos embarcando em média 637,5 mil toneladas por dia, e agora recuamos para 582 mil. Assim, se reduz o otimismo que esperava por 15 milhões de toneladas no mês. Agora chega a metade deste volume, mas restam apenas oito dias úteis para fechar o mês e estes podem trazer cerca de quatro milhões de toneladas se mantidos os níveis destes últimos dias. Assim, chegaríamos à marca das 11,5 milhões de toneladas, abaixo de 12,7 milhões de junho do ano passado", explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. 

Apesar dessa desaceleração, o acumulado de soja pelo Brasil em todo ano ainda mantém recorde histórico, com 57,8 milhões de toneladas, contra 52,4 milhões do ano passado, neste mesmo período. 

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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