Soja: "China vai continuar comprando soja da atual safra do Brasil", diz diretor da Labhoro

Publicado em 26/04/2021 12:22 e atualizado em 26/04/2021 15:24

Embora as condições de clima estejam no centro das atenções do mercado de grãos, a demanda chinesa por soja também continua a ser acompanhada muito de perto pelos traders. O objetivo agora é entender onde as próximas compras serão feitas pela nação asiática diante da disparada das cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago, as quais estão em suas máximas desde 2013. 

"A China não deve comprar soja (2020/21) até setembro nos Estados Unidos porque está muito mais cara do que o produto do Brasil", explica Ginaldo Sousa, diretor geral do Grupo Labhoro. O especialista afirma ainda que, além dos preços, os chineses agora estão bem abastecido e não precisam "correr" para garantir grandes compras da commodity. 

Sousa complementa citando as questões dos prêmios para a soja norte-americano, atualmente na casa dos 75 centavos de dólar por bushel sobre as cotações praticadas no mercado spot em Chicago no Golfo, enquanto no Brasil esses valores ainda testam posições na casa de 15 centavos negativos, o que segue, portanto, sendo um diferencial importante na tomada de decisão por parte dos compradores. 

"A China deve consumir, pelo menos, 105 milhões de toneladas de soja e não vai deixar de comprar do Brasil. Essa demanda não vai cair porque já está programada", afirma o diretor da Labhoro. No entanto, se tratando de China é difícil prever o quanto ainda deverá ser adquirido nestes próximos meses. 

Ainda assim, Sousa afirma que o volume de aproximadamente 30% da soja 2020/21 do Brasil ainda a ser comercializada nos próximos meses não será comercializada com dificuldade. "E o produtor não precisa se preocupar, os preços, nesse momento, não vão ceder fortemente", diz. "A tendência é de que busquem os US$ 16,00 em Chicago e no mercado físico americano a soja está valendo ouro". 

E mesmo que o Brasil tenha um volume de soja a ser exportado um pouco maior do que o inicialmente projetado, em função da redução do mandatório do biodiesel de 13% para 10%, o mercado não deve ser impactado de forma agressiva, ainda segundo o diretor da Labhoro. "Mesmo que tenhamos de 2 a 3 milhões de soja a mais para ser exportada não será um problema", explica.  

O mapa abaixo mostra o fluxo intenso de navios carregados com soja saindo do Brasil com origem China em 23 de abril. E além deste produto já em trânsito, o lineup brasileiro ainda indica cerca de 13 milhões de toneladas a serem embarcadas nos próximos 30 a 45 dias, contabilizando os navios já sendo embarcados, mais os que estão em fila, os atracados e os já nomeados, segundo informações apuradas junto da Pátria Agronegócios. 

"E esse é um recorde para o período", diz Matheus Pereira, diretor da consultoria. "Entretanto, já vemos uma queda em relação ao pico observado em março, de 19 milhões de toneladas, quando o número ainda refletia um ritmo mais lento dos embarques (por conta do atraso na colheita e das adversidades climáticas na época). Trata-se de uma desaceleraçã da demanda sazonal, nada para se assustar.  Esse é um movimento completamente normal, esperado e alertado pela Pátria", afirma.   

Fluxo de navios carregados com soja saindo do Brasil - Fonte: Refinitiv - LSEG

CONSUMO DE SOJA X SETOR DE RAÇÕES

Desde o início do ano, o governo chinês vinha sinalizando pedidos aos especialistas em nutrição animal do país por uma reformulação nas rações, utilizando menores quantidades de milho e farelo e óleo de soja em razão dos preços altos de ambos os produtos, em especial do grãos, que testou níveis recordes no mercado chinês no último ano e no começo de 2021. 

Na última quarta-feira (21), a China, inclusive, emitiu novas diretrizes fazendo essa recomendação de uma menor utilização destes dois insumos e que produtos alternativos deveriam entrar na formulação das rações, como trigo, sorgo, mandioca e arroz, além de outros farelos como os de algodão, amendoim ou palma, entre outros. 

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Ainda assim, também como explicou Ginaldo de Sousa, essa não deve ser uma condição de efeitos a serem observados agora. "Isso não muda o mercado agora, mas no médio/longo prazo. Por agora a China não deve comprar menos", diz. "É natural que esse movimento aconteça (por parte do governo chinês) porque as margens estão mais apertadas agora, mas isso não será refletido agora". 

E mesmo que haja preocupação ainda em 2021 com impactos causados pela Peste Suína Africana na nação asiática, não se trata de um cenário semelhante aos picos da zoonose em anos anteriores, principalmente em 2019. Inclusive, dados apurados pela Agrinvest Commodities mostram que a população de matrizes no país subiu de 24 milhões para 38 milhões de cabeças de setembro de 2019 a dezembro de 2020. 

"Nesse período, a China bateu recorde de importações de soja, carnes, óleos e cereais", explicam os analistas da consultoria. "A China está utilizando mais trigo e cevada em suas rações, produtos que apresentam desconto de 10 a 15% em relação ao milho. Há uma queda no uso de farelo e um aumento no uso do óleo de soja nas rações. E, atualmente, os estoques de farelo estão em 700 mil toneladas, um nível confortável, enquanto os estoques de óleo estão em 595 mil toneladas e marcam suas mínimas em sete anos para essa época do ano", completam. 

O que acende um leve sinal de alerta, por outro lado, é a queda que o abate de suínos registrou no primeiro trimestre de 2021 na China. "A queda foi de mais de 10% entre o 4º trimestre de 2020 e o primeiro deste ano", explica a Agrinvest, trazendo para análise um desempenho mais fraco das produtoras de carne suína no país, o que teria sido reflexo da combinação das zooonoses - principalmente a PSA -, uma demanda interna menor durante o feriado do Ano Novo Lunar e mais o encarecimento do milho. 

E sobre os preços altos do cereal, os alertas passam também pela preocupação com a segunda safra do Brasil - em função da falta de chuvas e do plantio realizado fora da janela ideal - com as notícias, inclusive, já chegando ao mercado, às análises e à imprensa internacional. 

"Sabemos que há uma demanda global monstruosa por grãos para ração agora e as pessoas estão começando a se perguntar o que acontecerá se a safra do Brasil for curta. Cada dia sem uma boa chuva chegando em suas lavouras parte do potencial produtivo se perde"., diz à agência Bloomberg Joe Nussmeier, corretor da Frontier Futures em Minneapolis, nos EUA. 

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o analista de mercadoRoberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora, traçou os principais pontos de desatque do atual momento do mercado do milho e mostrou que a trajetória nas cotações do cereal tende a continuar. O cenário do último ano foi de demanda aquecida e preços em alta no mercado internacional. E assim deve se manter para o 2022, com agravante das preocupações com a oferta da safrinha brasileira e da safra dos Estados Unidos.

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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