Soja: Aprosojas regionais defendem comercialização mais escalonada frente à tendência altista

Publicado em 19/04/2021 14:25 e atualizado em 19/04/2021 15:28

"Vivemos um momento de transição fundamentalista onde o mercado da soja vai perdendo o interesse na safra sul-americana e depositando as atenções para o início de um novo ciclo produtivo na América do Norte. É um período sazonal, gera bastante ansiedade com muitos pontos de indefinições", afirma o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira. 

E para o produtor brasileiro o quadro é o mesmo. Trata-se de um momento de cautela, observação, trava de custos de produção e definição de estratégias para a comercialização do que resta da safra 2020/21 e para os próximos volumes da safra 20201/22. De acordo com o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, cerca de 15% da nova temporada já foi negociada. 

Os patamares elevados refletindo um cenário de fundamentos bastante consolidado pelo quadro de oferta e demanda ajustado são uma realidade já bastante conhecida pelo mercado e pelos produtores, bem como a  alta do dólar que acumula 7,59% até a última sexta-feira (16). De 15 de janeiro a 16 de março, o contrato maio/21 - referência importante para a safra brasileira - acumula uma alta de 1,34, passando de US$ 14,14 para US$ 14,33 por bushel, enquanto o agosto/21 subiu 1,99% no mesmo intervalo, passando de US$ 13,54 para US$ 13,81.

Assim, a combinação de ambos motivou não só bons negócios na última semana - de mais de 1 milhão de toneladas com a safra velha - como sinalizou boas oportunidades também para a safra nova. No entanto, o movimento de vendas antecipadas da temporada 2021/22 é bem mais lento, cauteloso e escalonado do que se observou para o ano comercial anterior.

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O Notícias Agrícolas foi entender como  mercado tem sido observado da ótica dos sojicultores brasileiros neste momento, que é um dos melhores da história da cultura da soja no país, ouvindo os presidentes de diversas unidades estaduais da Aprosoja. 

Paraná

O Paraná já contabiliza entre 50% e 60% da safra 2020/21 comercializada e agora os sojicultores do estado tem evitado novos negócios. "O produtor está muito receoso com contrato futuro. Ele fez bastante na safra passada. 70% dos insumos negociados da safra 2020/21 foram troca e o produtor entende que ele perdeu por conta do preço (mais baixo na época do que os atuais níveis praticados", explica Márcio Bonesi, presidente da Aprosoja Paraná. 

Os indicativos de preços - base cooperativas - estão na casa de R$ 160,00 e milho, R$ 93,00 por saca. 

Assim, para esta nova temporada, o receio continua e o produtor está, portanto, revisando suas estratégias. Parte disso passa pelos problemas que vêm sendo enfrentados pela safrinha de milho. "Milho que está enchendo grão agora passa por uma seca forte, umidade relativa do ar baixa e o milho mais novo exposto à lagarta e percevejo.  E as previsões mostram que não há chuva prevista para os próximos  15 dias. 

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul,  como relata Décio Teixeira, presidente da Aprosoja do estado, os produtores estão bastante atenciosos e cautelosos diante do atual cenário, principalmente com a nova safra dos EUA entrando no radar do mercado.  São referências entre R$ 168,00 e R$ 170,00 por saca. 

Dessa forma, novos negócios se mostram também pontuais com o produtor gaúcho já tendo comercializado boa parte da safra 2020/21. E para a safra 2021/22 não há operações sendo registradas ainda, uma vez que o produtor, para a nova temporada, está ainda mais cauteloso. "E isso mesmo ele sabendo que o mercado está bastante aquecido", diz Teixeira. 

Goiás

"O mercado (2020/21) andou bastante no ano passado, cerca de 60% da nossa safra foi antecipadamente vendida, outros 20% durante a colheita e restam 20% que o produtor busca segurar o máximo  diante deste mercado que continua subindo", relata Adriano Barzotto, presidente da Aprosoja Goiás. 

E esse volume que o produtor agora segura deverá ser destinado a novas vendas no segundo semestre e mais focado no mercado interno. "Sabendo que ainda há oferta para exportação, as indústrias estão mais agressivas e não querem deixar passar esses volumes vendo que o mercado continua subindo", complementa.  Goiás é o quarto estado que mais processa soja no Brasil. Os indicativos de preço para a safra velha tem se mostrado em R$ 161,00 para soja balcão e R$ 168,00 no disponível, em média. 

Para a safra 2021/22, os negócios também se mostram mais pontuais neste momento, uma vez que o sojicultor goiano acredita que possa garantir patamares mais elevados mais a frente diante das sinalizações que o mercado tem oferecido. Ainda segundo Barzotto, há, aproximadamente, 15% da nova temporada já comercializada e o produtor agora acompanha o andamento da safrinha e os reflexos que os preços podem sentir em Chicago do mercado climático norte-americano. As referências de preços estão na casa de R$ 150,00 por saca, mas podem melhorar. 

Bahia

Na Bahia, a comercialização da safra 2020/21 passa de 70%, conforme relata Alan Juliani, presidente da Aprosoja BA. "Os produtores, como os preços estão firmes e com tendência de alta, estão segurando um pouco mais para terminar sua comercialização para melhorar nossa média. Porque foi vendido cerca de 55% naqueles preços iniciais de até R$ 100,00, então precisamos de um preço melhor no final para comercializar o restante da safra", explica. 

O percentual da safra 2021/22 comercializada no estado já chega a 18%, com movimentos um pouco mais devagar do que o vinha sendo registrado no ano passado. "Os produtores estão fazendo seus custos, cada um analisando seus gastos, seus números e comercializando, mas um pouco mais em câmera lenta, o que é bom, dando mais tempo para cada um refletir sobre seus negócios", relata Juliani. 

Tocantins

Os preços da soja disponível no Tocantins, em média, têm variado entre R$ 158,00 a R$ 162,00 por saca no mercado disponível, e os negócios também são, como nas demais regiões do país, mais pontuais, com os produtores cautelosos e observando este momento.

"Sobre a safra 2021/22 , a maior parte dos custos já foi  travada,  houve bastante propriedades que já travaram em dezembro, quando o mercado de adubos deu uma baixada e assim os custos ficaram melhores do que os observados neste ano", explica Dari Fronza, presidente da Aprosoja Tocantins.  

"Acredito que com essa chacoalhão que tomamos este ano vai fazer muitos procurarem a mexer com a bolsa daqui em diante. E temos que destacar que hoje o mercado está bom, os custos estão, praticamente, a mesma coisa dos outros anos, o maior problema é se os preços baixarem muito, porque os produtores estão fazendo trocas com soja e de R$ 145,00 a R$ 147,00. Então isso preocupa", completa. 

Piauí

No Piauí, a colheita está praticamente finalizada e com uma produção de soja cerca de 10% maior do que a safra anterior.  Os preços seguem atrativos e as relações de troca bastante interessantes (para a safra 2021/22), como relata o presidente da Aprosoja do estado, Alzir Pimentel Aguiar Neto. 

"Temos conseguido não só ter uma boa margem, mas também conseguido investir na região, em infraestrutura e mostrar mais uma vez a pujança e a vocação que o cerrado piauiense tem para o agronegócio", diz. 

Da safra nova, ainda de acordo com o presidente, cerca de 40% já foi comercializada frente aos bons preços e boas oportunidades que o produtor do estado tem observado. E a estimativa é de um aumento de 5% na produção da oleaginosa, pelo menos. 

Pará

No Pará, os trabalhos de colheita 2020/21 estão em andamento, caminhando para a fase final e com indicativos de preços entre R$ 162,00 e R$ 164,00, segundo Vanderlei Silva Ataídes, presidente da Aprosoja PA. Já da safra 2021/22 poucos negócios têm sido relatados. 

São Paulo

Antecipadamente, São Paulo vendeu cerca de 50% da safra 2020/21 e, assim como em outros estados, a preços distantes dos observados neste momento do mercado, onde as referências estão na casa dos R$ 160,00 por saca.   "Todo esse aprendizado fez o produtor ficar receoso em vender antecipadamente em São Paulo. Assim, esse é um bom momento para o produtor realizar suas vendas pouco a pouco. O foco agora está no desenvolvimento da safrinha", explica Gustavo Chavaglia, presidente da Aprosoja SP. 

Assim, a orientação do presidente aos produtores paulistas é de que as compras dos insumos sejam feitas aos poucos, negócios escalonados e planejamento alinhado com o desenvolvimento das lavouras. "É questão de precaução, tocar de forma mais pausada as compras de insumos e os negócios futuros". 

Minas Gerais

Diante do atual quadro de estoques mundiais apertados de soja e milho, as tendências também sinalizam preços sustentados para os preços de ambos os produtos no mercado brasileiro, segundo o presidente da Aprosoja Minas Gerais, Fábio Salles Meirelles Filho.  Assim, com cerca de 55% da safra 2020/21 já comercializada, "que quiser negociar o volume que ainda resta pela frente é preciso que se faça hedge. Tem que se profissionalizar, buscar um consultor, informação de uma forma geral", orienta Filho. 

Assim como se deu em outros estados, algumas poucas vendas da safra 2021/22 também foram registradas diante de uma necessidade de trava em seus custos de produção.  Assim, aproximadamente um terço da nova temporada já foi comercializada e comprometida em relações de troca com insumos.  E assim, a questão cambial é uma das que exige mais intenso monitoramento. 

"O mercado apresenta uma insegurança bastante grande", afirma o presidente da Aprosoja MG. 

Leia Mais:

+ Fertilizantes: Relações de troca com a soja ainda são saudáveis, mas já foram melhores

+ Custos safra 2021/22: Fosfatados têm maior valor desde 2008, aponta série histórica do Cepea

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agricolas

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