Soja BR: De norte a sul do país, safra sofreu problemas, oferta será menor e muito disputada, avaliam especialistas
Excesso de chuvas alaga campos em MT - Safra 2021 - Foto: Claudeir Pires
"Haja coração! É muita emoção para uma safra só!", diz o especialista em soja e CEO da Academia da Soja, Claudeir Pires, direto do Rio Grande do Sul ao Notícias Agrícolas neste 5 de março de 2021, reforçando a irregularidade como a principal marca desta temporada. De norte a sul do país, intempéries climáticas foram registradas e, de alguma forma, as lavouras de soja sentiram.
Os problemas registrados no início do plantio, com a falta de chuvas em importantes regiões produtoras do país, foram se estendendo durante o desenvolvimento e culminam neste momento da colheita, já bastante atrasada em relação a anos anteriores.
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O quadro já tem, inclusive, feito algumas consultorias revisarem seus números para a safra brasileira, como a Pátria Agronegócios, que agora espera a produção de soja do Brasil em 128,57 milhões de toneladas, contra seu número anterior de 129,8 milhões.
Diante dos problemas causados pelo clima, a consultoria já estima uma produtividade 1,3% menor no Tocantins; 4,9% menor no Maranhão; 3,8% no Piauí; 2,6% na Bahia; 7,7% em Mato Grosso; 7,6 no Mato Grosso do Sul; 3% no Goiás e 11,3% no Paraná.
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Na imagem abaixo, veja os números de todos os estados complilados pela Pátria.
No início da semana, o diretor da Pátria deu uma entrevista ao Notícias já afirmando que a safra brasileira será maior este ano em função de uma área que cresceu de forma significativa em relação a anterior, mas não por incremento de produtividade.
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Já foram registradas secas, veranicos, abortamento de vagem em alguns estados e agora o excesso de chuvas é o que mais preocupa. "As colheitadeiras atolam, a soja está pronta na lavoura, mas começa a brotar na vagem e isso significa perda de produtividade. Na análise da Academia da Soja acreditamos que não chegaremos a 130 milhões de toneladas", afirma Pires.
Durante toda a semana, o Notícias Agrícolas veio noticiando os relatos e análises de produtores rurais e lideranças da sojicultura brasileira sobre o atual momento da safra. As imagens na sequência ilustram a amplitude dos problemas e, acima de tudo das preocupações dos produtores.
Soja na região de Sinop/MT
Soja na região de Araguacema/TO
E vivendo a situação ao lado dos sojicultores, fazendo um tour por campos de soja de norte a sul do Brasil, o especialista volta a afirmar que há uma necessidade, maior a cada safra, de que os produtores invistam em boas ferramentas de previsão do tempo, que possam lhes oferecer dados cada vez mais personalizados para o seu município e propriedade.
"A Academia da Soja preconiza os quatro pilares para a produtividade, que são: solo - correção e fertilidade do solo; genética - escolha da melhor variedade de acordo com as condições edafoclimáticas de cada microregião; manejo - entrar cada intervenção feita no tempo correto, plantabilidade bem feita; e o clima - esse não temos como controlar. Então, temos como fazer bem feito os três primeiros para estar menos suscetível às intempéries climáticas, essa é a lógica da boa produtividade", orienta Pires.
Mais do isso, o CEO da Academia da Soja lembra que com as previsões mais detalhadas, o produtor pode ainda definir o melhor momento para a dessecação de suas lavouras, buscando evitar perdas de produtividade tão severas como as que têm sido registradas nesta temporada.
As previsões continuam sinalizando a chegada de mais chuvas aos estados da região Matopiba e mais o Pará e Mato Grosso deverão receber mais chuvas nos próximos sete dias e, na sequência, as precipitações deverão dar uma trégua de, aproximadamente, quatro dias.
Abaixo, ouça a análise completa de Claudeir Pires, com exclusividade ao Notícias Agrícolas
No Rio Grande do Sul, onde, ao contrário do centro norte, as chuvas eram muito esperadas, as chuvas voltaram nos últimos dias, trazendo alívio às lavouras de soja.
"Algumas lavouras ficaram 15, 16 dias sem chuvas, mas choveu nos últimos dois dias, chuvas de 30 a 70 mm e ajudaram na recuperção", diz o presidente da Aprosoja Brasil, Décio Teixeira.
Poucos produtores conseguiram plantar em outubro em função da baixa umidade e "isso foi providencial", segundo Teixeira, já que em novembro praticamente não houve precipitações. Assim, a colheita no estado gaúcho deverá começar a partir do dia 20 e "a safra deverá ser bem boa, tudo como esperado", acredita o presidente. "Está tudo caminhando bem".
"A soja plantada mais tardiamente aqui no Rio Grande do Sul está se desenvolvendo muito bem e as previsões são de chuva para os próximos 15 dias, o que para lavouras neste estádio fenológico é muito bom (R4 e R5)", afirma Pires.
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Soja pronta para ser colhida e a chuva chegando no RS - Foto: Claudeir Pires
O especialista destaca ainda as perdas de aproximadamente 30% nos primeiros lotes de soja colhidos no Paraná. Veja as imagens:
Grãos da primeira soja colhida no PR - Fotos: Claudeir Pires
IMPACTOS SOBRE O MERCADO
Um dos fatores mais frequentemente monitorados pelo mercado da soja tem sido essa fase final da safra brasileira diante dos atuais problemas. Na Bolsa de Chicago, os futuros seguem buscando se consolidar acima dos US$ 14,00 por bushel com, além de outros fundamentos e fatores ligados ao macrocenário, a oferta podendo ser ainda mais limitada no Brasil.
Já há produtores sofrendo a falta de soja de qualidade, padrão exportação, para cumprir seus contratos, inclusive internamente. "Tecnicamente, nesta fase só nos resta torcer. O que as empresas podem fazer é um blend, ou seja, misturar um pouco dessa soja (tipo 2), com muita soja tipo 1 para conseguir honrar seus contratos", acredita Claudeir Pires.
Assim, o impacto sobre a formação dos preços da soja no mercado brasileiro é inevitável. "Vejo a soja com um viés para alcançar os R$ 200,00 por saca, talvez não com tanta velocidade, e temos batido nessa tecla desde outubro do ano passado. Puxamos o freio de mão na comercialização futura, não estamos recomendando vendas desde outubro nem para a safra colhida em 2021, nem para safra futura. Não há necessidade de venda, a não ser por necessidade financeira", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios.
Assim, o analista afirma ainda que há espaço para boas e fortes altas para a soja brasileira baseadas nos três pilares de formação de preços: câmbio, Chicago e prêmios.