Bendito grão: soja é a ‘estrela’ dos portos brasileiros
A safra brasileira de grãos 2020/21 mostra que o país deve ter uma produção recorde no período. A produção está estimada em 268,7 milhões de toneladas, volume 4,2% maior que o recorde da safra 2019/20, que totalizou 257,7 milhões de toneladas de grãos. A produção para a safra de soja de 2020/2021 é estimada em 133,7 milhões de toneladas. Os dados foram levantados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O Brasil é o maior produtor mundial de soja, seguido de Estados Unidos e da Argentina. O produto lidera a lista de grãos que são comercializados pelo país. Os portos de Santos (SP), Paranaguá (PN), de acordo com dados da Antaq, são os principais canais de escoamento da soja brasileira. No entanto, a exportação de soja pelo chamado Arco Norte, formado por um conjunto de portos que abrange desde Rondônia até o Maranhão, cresce aceleradamente.
Mais de 70% da produção nacional é destinada ao mercado externo. A China é o principal destino da soja: o mercado chinês adquiriu 85% das exportações brasileiras do grão no ano passado. A soja é o principal produto exportado pelo Brasil, sendo que US$ 14 de cada US$ 100 exportados são oriundos do produto. A oleaginosa responsável boa parte do superávit de US$ 48 bilhões de 2019 e dos mais de US$ 300 bilhões acumulados nos últimos anos em reservas cambiais.
No Brasil, a área destinada ao plantio da soja, em 2020, foi de 38,44 milhões de hectares, o que representou um aumento de 4% em relação a 2019, quando foram cultivados 36,95 milhões de hectares. Mato Grosso segue na liderança da produção nacional, seguido do Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul.
O transporte da oleaginosa é feito pelos modais rodoviário, ferroviário e, principalmente na região norte, hidroviário. O transporte rodoviário perdeu espaço em 2020. Segundo um estudo feito entre o Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a dependência do transporte rodoviário para a movimentação de soja caiu de 74,7% em 2010 para 67,4% em 2019. Além disso, a movimentação de milho também teve uma queda de 83,8% para 69,2% no mesmo período.
O presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Francisco Pelucio, acredita que essa queda está relacionada à falta de investimento necessária nas rodovias nacionais, apesar de reconhecer o emprenho do Ministério da Infraestrutura. “Apenas em 2020, foram mais de mil quilômetros de novas estradas em todas as regiões do país, além de 12 concessões. No entanto, acreditamos que o governo federal precisa disponibilizar um maior investimento para que a pasta continue realizando um trabalho efetivo e consequentemente melhore os níveis das estradas brasileiras", afirma.
PORTOS
O volume de cargas que passou pelo de porto de Santos, em 2020, foi de 146,6 milhões de toneladas, com uma alta de 9,4% sobre o ano anterior, de acordo com a gerência de inteligência de mercado e estatística da Santos Port Authority (SPA). As exportações do açúcar, complexo soja, álcool, celulose, óleo combustível, e óleo diesel e gasóleo apresentaram os maiores crescimentos. Nos desembarques, o adubo teve o maior avanço, com 6,5 milhões de toneladas, alta de 16,3% em relação a 2019.
Pelo porto de Santos, passaram mais de 27,9 milhões de toneladas de complexo de soja em 2020, o que significa um incremento de 11,4% em relação ao ano anterior. A maior parte foi em grãos de soja a granel, com 21,09 milhões de toneladas e um crescimento de 12,5%; seguido pelo farelo a granel, com 6,6 milhões de toneladas e uma expansão de 9,2%, em comparação a 2019.
Os portos de Paranaguá e Antonina movimentaram 57,33 milhões de toneladas em 2020, o que corresponde a uma alta de 8% em relação ao ano anterior, segundo a empresa pública que administra os portos de Paranaguá e Antonina. De acordo com Luiz Fernando Garcia, diretor presidente da Portos do Paraná, a marca histórica foi resultado do momento positivo do agronegócio brasileiro. “O cenário foi muito bom e se mantém promissor para 2021. Apesar do plantio tardio da soja, nossa programação mostra que teremos movimento intenso já no primeiro trimestre”, comenta.
“O preço deve continuar atrativo e a demanda mundial por alimentos segue alta. Os portos se preparam para a retomada dos embarques de soja, que ficam mais fortes a partir de fevereiro. Além disso, produtos como açúcar, farelo, frango congelado e outras carnes, devem manter o ritmo de exportações”, completa Garcia.
De soja, em 2020, foram 14,26 milhões de toneladas exportadas pelo porto de Paranaguá. O volume é 26% maior que o registrado em 2019, com 11,29 milhões de toneladas. O principal destino da soja que sai de Paranaguá é a China, com 90% do total, além de Paquistão, Bangladesh, Tailândia e Noruega.
O Porto do Itaqui, no Maranhão, é um dos principais portos do Arco Norte em exportação de soja, e ampliou a operação com a oleaginosa e também com milho e farelo na safra 2019/20. O volume de soja movimentado em 2020 por Itaqui foi de 8,64 milhões de toneladas, o que corresponde a um aumento de 7% em relação ao ano de 2019.
A soja escoada pelo Porto do Itaqui é produzida principalmente nos estados que integram o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia e nordeste do Mato Grosso) e a maior parte da carga se destina para a China. O Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) iniciou a operação da sua segunda fase em setembro de 2020, com objetivo de ampliar a capacidade de movimentação de grãos (soja, milho e farelo) para 17 milhões de toneladas – em 2019, foram 10 milhões de toneladas exportadas.
Segundo o diretor de operação e planejamento do porto do Itaqui, Jailson Luz, a movimentação efetiva de grãos por Itaqui deve se aproximar dos 17 milhões de toneladas gradualmente, ao longo dos próximos três a quatro anos. O crescimento virá tanto do incremento na produção no Centro-Norte do país quanto da atração de cargas que descem para portos do Sul e Sudeste. Além da liderança em soja, o porto é o terceiro maior do Arco Norte em milho e o quarto em farelo.