Soja: Atraso da colheita no BR é mais combustível para Chicago, que fecha com quase 30 pts de alta
A quarta-feira (14) parecia ser um dia tranquilo para o mercado da soja na Bolsa de Chicago, mas os preços voltaram a disparar e caminham para encerrar o dia com altas de mais de 30 pontos entre os contratos mais negociados. Assim, o março supera os US$ 14,30 e o julho rompe o patamar dos US$ 14,00 por bushel, com as cotações mais uma vez, refletindo a força dos fundamentos.
Como explicou o analista de mercado da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin, um dos combustíveis para o avanço dos preços neste pregão foi o fato de a China ainda estar com boa parte do foco de sua demanda sobre a oleaginosa dos Estados Unidos, mesmo estando mais caro. "E isso se dá porque o programa de exportações do Brasil está atrasado", diz.
A colheita brasileira ainda acontece de forma apenas pontual, depois que a maior parte das regiões produtoras veio sofrendo com um atraso no plantio em função das adversidades climáticas, principalmente o atraso das chuvas. Assim, os compradores vêm buscando garantir suas compras ainda no mercado norte-americano, até que a colheita se efetive de forma mais intensa no Brasil.
E além de chegar mais tarde, a oferta brasileira vem ainda mais limitada, uma vez que mais de 60% já está comprometida com a comercialização.
"Tivemos um ritmo muito forte (nas vendas antecipadas), com os produtores aproveitando os preços que já eram considerados atrativos no segudo semestre de 2020, e ao mesmo tempo temos vários produtores 'reclamando' dos recursos que deixaram de ser recebidos. As vendas antecipadas ou o comprometimento de parte dessa safra para custear os insumos foram muito inferiores do que os patamares atuais, e isso, provavelmente, vai afetar a próxima negociação", analisa o pesquisador do Cepea, Lucílio Alves, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quinta.
Ele explica ainda que os novos negócios podem ser influenciados em duas frentes. "Do meu ponto de vista, de dificultar novos negócios deste restante de safra por dois motivos: primeiro porque temos um ambiente de preços muito firmes, em dólares, até agosto, e ainda temos um restante da safra de milho que vai contribuir para que o produtor faça caixa. Certamente, os produtores vão negociar esse milho restante e cumprir os contratos já feitos de soja".
Veja a íntegra da entrevista de Lucílio Alves:
+ Soja tem referências acima dos US$ 30/saca FOB Paranaguá, como não se via desde 2013/14
Ainda sobre a demanda pela soja norte-americana, o mercado ainda recebeu bons números das vendas semanais reportados no boletim do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), além das vendas diárias que foram reportadas nos três primeiros dias da semana somando mais de 700 mil toneladas.
Na semana encerrada em 7 de janeiro, os EUA venderam 908 mil toneladas de soja, enquanto as projeções variavam entre 300 mil e 700 mil toneladas. A China ainda se mantém como o principal destino da oleaginosa norte-americana. Dos 60,69 milhões de toneladas estimadas para serem exportadas pelos EUA na temporada 2020/21, o país já comprometeu 55,676 milhões. O volume é 83% maior do que o comprometido no mesmo período do ano passado.
Não só a oferta brasileira atrasada preocupa no Brasil, como também o clima na Argentina ao se observar o cenário da América do Sul. Embora as chuvas tenham se mostrado melhores nos campos argentinos nos últimos dias, as lavouras ainda sofrem, o que fez a Bolsa de Cereais de Buenos Aires a elevarem o índice das que estão em condições ruins ou péssimas de 17% para 19% na semana.
No paralelo, os traders acompanham o macrocenário, a evolução das vacinações, o tom da recuperação econômica global e a movimentação do dólar frente ao reais e outras divisas. Mais fraco, torna os produtos americanos mais atrativos e competitivos. E nesta quinta, somente frente à moeda brasileira, a americana perdeu quase 2%, levando a divisa de volta à casa dos R$ 5,20.