Grandes empresas de alimentos pedem que tradings de soja ajudem a salvar o Cerrado
Por Stephen Eisenhammer
SÃO PAULO (Reuters) - Um grupo de empresas internacionais que inclui Tesco, Walmart, Unilever e McDonald's pediu nesta terça-feira que grandes tradings de commodities parem de trabalhar com soja associada ao desmatamento do Cerrado brasileiro.
O grupo de 163 companhias, signatárias da Declaração de Apoio ao Manifesto do Cerrado, disse que escreveu em novembro às tradings Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Louis Dreyfus, Cargill, Cofco International e Glencore pedindo para que elas deixem de obter soja, direta ou indiretamente, de áreas desmatadas no Cerrado após 2020.
Nenhuma das tradings concordou com as medidas, segundo o comunicado.
"Pedimos às tradings que intensifiquem seus próprios compromissos e implementem sistemas robustos de monitoramento, verificação e relatórios na região, e estabeleçam uma data limite em 2020 livre de conversão de desmatamento do Cerrado para a soja", disse Anna Turrell, diretora de Meio Ambiente da Tesco.
Atualmente, a região do Cerrado produz cerca de 60% de toda a soja do Brasil, maior produtor e exportador global da oleaginosa, que é processada para produção de ração e óleo.
A vegetação natural do bioma desempenha um papel crucial no armazenamento de dióxido de carbono. A queima de combustíveis fósseis e a destruição de florestas estão aumentando as emissões de carbono, aquecendo o planeta e contribuindo para a elevação do nível dos oceanos, tempestades severas e outros problemas.
A vida selvagem também está sob ameaça na região, lar de animais como araras-azuis, lobos-guará e onças, assim como de milhares de plantas, peixes, insetos e outros seres endêmicos, muitos dos quais estão apenas começando a ser estudados.
No ano passado, grupos ambientais criticaram a Cargill após a companhia afirmar que ela e a indústria de alimentos em geral não conseguiriam atingir a meta de eliminar o desmatamento das cadeias de oferta até 2020.
Na América do Norte, empresas estão encorajando produtores a adotar práticas mais sustentáveis, devido à pressão do consumidor e às expectativas de mais regulamentações.
A Cargill disse em comunicado em seu website que reconhece "a urgência de abordar a questão do desmatamento e da conversão de terras com vegetação nativa no Cerrado."
"Podemos confirmar que a Cargill não fornecerá soja de agricultores que desmatam ilegalmente ou em áreas de proteção, e temos as mesmas expectativas em relação aos nossos fornecedores", afirmou a trading.
Um porta-voz da ADM, em resposta a um pedido da Reuters por comentários, disse que a "ADM possui uma rígida Política de Não Desmatamento, e contamos com tecnologias de satélite para garantir que possamos cumprir nossa política."
A Bunge afirmou que "não adquire soja de áreas desmatadas ilegalmente" e "se dedica a uma cadeia produtiva sustentável e tem o compromisso público, desde 2015, de eliminar o desmatamento de todas as nossas cadeias produtivas até 2025, prazo mais curto do setor".
Cofco, Louis Dreyfus e Glencore não responderam de imediato a um pedido por comentários.
(Reportagem de Stephen Eisenhammer; reportagem adicional de Julie Ingwersen, em Chicago)