Quanto o Brasil vai colher de soja? Consultorias revisam suas estimativas frente ao tempo seco
Entender quanto o Brasil vai colher na safra 2020/21 de soja tem sido uma matemática difícil neste momento em que a marca mais forte da temporada tem sido a irregularidade. O plantio caminha com atraso diante da má distribuição e baixos volumes de chuvas. Mais do que isso, elas demoraram a chegar em muitas regiões.
E embora algumas melhoras tenham sido observadas nos últimos dias, há ainda muitas regiões em todo Brasil que sofrem com condições extremamente severas de clima. Ao Notícias Agrícolas, profissionais do mercado relataram casos como o do município de Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, onde as chuvas somam apenas 30 mm desde setembro.
Casos como estes são bastante frequentes. Trata-se de um ano de La Niña - na avaliação de institutos de meteorologia como o Inmet e o NOAA - e o cenário de irregularidades, portanto, já era esperado. Do mesmo modo, há regiões do país onde as chuvas são mais abundantes e os trabalhos caminham para sua etapa final e onde as perspectivas são positivas, como é o caso do estado de Goiás.
Ao Notícias Agrícolas, o presidente da Aprosoja Goiás, Adriano Barzotto, afirma que depois do atraso registrado no início da semeadura, com as precipitações de volta os trabalhos de campo ganharam ritmo e recuperaram o tempo perdido no início da temporada.
Em Mato Grosso, de acordo com os últimos números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), 98,47% da área já foi semeada com a oleaginosa e o índice supera o mesmo período do ano passado. "Apesar de os trabalhos estarem quase finalizados, muitas áreas precisaram ser ressemeadas no estado", diz o boletim semanal do instituto.
Em contrapartida, os problemas mais graves estão sendo registrados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em São Borja/RS, por exemplo, a condição de chuvas abaixo da média já duram cerca de um ano e os impactos no campo são grandes. Os relatos são de Albano Antônio Strieder, engenheiro agrônomo do Sindicato Rural do município, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
+ Chuvas abaixo da média já duram um ano em São Borja/RS e impactos nas lavouras são grandes
O Notícias Agrícolas levantou as opiniões de alguns nomes importantes do setor para entender quais são suas perspectivas para a nova safra de soja do Brasil.
Cogo Inteligência em Agronegócio
O novo levantamento da Cogo Inteligência em Agronegócio será divulgado em 11 de dezembro, porém, Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria, já afirma que seus últimos números estimados de 135,2 milhões de toneladas para a soja e 110 milhões para o milho - entre safra de verão e safrinha - já estão descartados. "Não há mais como buscar esses números porque as safras já estão perdendo potencial produtivo. Então, o novo levantamento já terá esses descontos nas safras de verão".
Os problemas mais graves estão sendo registrados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A falta de chuvas persiste em ambos os estados e no gaúcho o déficit hídrico varia de 300 a 700 mm em 12 meses e, como explica Cogo, "com as chuvas previstas não tem como recuperar isso". O RS, segundo dados meteorólgicos avaliados pela consultoria, já registra uma considerável variedades de perdas em uma ano típico de La Niña, de 8% a 40%. "Não há umidade e nem reservas hídricas para buscar uma soja nos mesmos níveis de produtividade estimados inicialmente", completa Carlos Cogo.
Brandalizze Consulting
Na perspectiva de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a safra continua com potencial para alcançar algo entre 133 e 135 milhões de toneladas, com um uma área cultivada perto de 38 milhões de hectares. "As chuvas melhoraram nos últimos dias e há tempo para a recuperação das lavouras e aos poucos a situação vai se normalizando", explica Brandalizze.
Ainda segundo o consultor, houve também muito investimento dos produtores brasileiros em tecnologia, o que também faz diferença em anos como este.
Safras & Mercado
"Ainda não mexemos nos nossos números", explica Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado. "O clima está bem irregular ainda, semanas sem chuvas, outras com chuvas mas não em todos os estados, e teremos pouca ou nenhuma umidade no Centro-Oeste, Sudeste, parte do Sul, é preocupante. Mas, ainda digo que é cedo para falarmos em perdas, mas sabemos que elas vão aparecer".
O que deve ser monitorado nestes próximos meses, como afirma Gutierrez, é a amplitude e o tamanho dos problemas e das perdas de produtividade que deverão sr confirmados a frente. O novo levantamento da Safras sai em dezembro e, "provavelmente teremos alguns ajustes negativos em algumas produtividades esperadas, ou áreas plantadas", diz o consultor.
Novos levantamentos de consultorias serão divulgados nos próximos dias e o Notícias Agrícolas vai atualizando as informações, trazendo os números em primeira mão.