Dólar vai abaixo de R$ 5, preços da soja recuam no BR e semana é marcada por poucos negócios

Publicado em 05/06/2020 17:40 e atualizado em 06/06/2020 17:46

"Os vendedores sumiram", disse o consultor da Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, sobre a semana no mercado brasileiro da soja. A baixa do dólar e o elevado índice de comercialização, principalmente da safra 2019/20, mantém os produtores mais cautelosos e evitando novos negócios. 

Dessa forma, o ritmo de negócios se mostrou bem mais lento nestes últimos dias, e agora o "produtor não vai vender a 'qualquer preço', só quem vendeu esses dias era quem precisava fazer caixa, ou algo assim", explica Brandalizze. "O produtor já vendeu bem", completa, afirmando ainda que a tendência, portanto, é de que os negócios com a soja brasileira se desacelerem nos próximos meses, ficando cada vez mais escassos diante da pouca oferta ainda disponível. 

De outro lado, o consultor diz também que os compradores seguem muito ativos - principalmente os importadores - com a China ainda bastante agressiva em "todos os mercados", e essa procura ainda frequente pelo produto nacional ajuda a favorecer a constante altas dos prêmios no Brasil. 

As principais posições de entrega, da perspectiva do vendedor, já variam entre 130 e 180 centavos de dólar sobre os valores praticados na Bolsa de Chicago, de acordo com dados apurados pela Brandalizze Consulting. Nos meses mais distantes, os valores são mais altos e são mais um reflexo da oferta de soja bastante limitada esperada pelo Brasil. 

No interior do país, os negócios também foram mais pontuais. "O que motivou um pouco mais as vendas foi uma leve melhora no óleo, mas o farelo ainda está mais fraco. Então, os preços de lote também caíram um pouco e não estimularam tantos negócios", explica Vlamir Brandalizze. 

Assim, a soja disponível encerrou a semana com referências entre R$ 102,00 e 106,00 por saca para o produto disponível nos principais portos do país, enquanto os indicativos para fevereiro de 2021 ficaram entre R$ 99,00 e R$ 100,00. 

MERCADO INTERNACIONAL

Se os negócios com a soja no Brasil foram mais lentos na semana, o cenário foi outro nos Estados Unidos. O país vendeu, de acordo com anúncios diários do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), mais de 1 milhão de toneladas de soja, entre volumes da safra velha e nova. A China e "destinos não revelados" foram os principais compradores. 

A demanda intensa pela soja norte-americana nestes últimos dias foi o principal fator acompanhado pelo mercado na Bolsa de Chicago e, nesta sexta-feira (5), os futuros da oleaginosa terminaram o dia com o julho nos US$ 8,67 por bushel e o agosto, US$ 8,70. 

Durante os últimos dias, os olhos todos do mercado estiveram sobre as relações comerciais entre China e Estados Unidos, em meio a um acirramento das tensões entre os dois países e, ao mesmo tempo, uma necessidade crescente da nação asiática pela soja norte-americana. 

E segundo um consultor chinês de mercado ouvido pela agência internacional de notícias Bloomberg, "os importadores comerciais da China vão, provavelmente, continuar comprando soja dos EUA, apesar das tensões bilaterais". Afinal, como o Notícias Agrícolas já vem adiantando há algumas semanas, a o país asiático ainda precisa de ao menos 8 milhões de toneladas de soja por mês para estar adequadamente abastecida. 

"As plantas de esmagamento ainda não compraram suprimentos suficientes, considerando que a criação de suínos deve se recuperar (após os graves surtos de Peste Suína Africana) e a demanda por farelo de soja, portanto, deve aumentar", diz, também à Bloomberg, a Shangai JC Intelligence Co. "Os processadores precisarão de, pelo menos, mais 20 milhões de toneladas para cobrirem seus compromissos". 

E esse volume grande será preciso mesmo com a chegada intensa de soja brasileira à China entre os meses de maio a julho, como também o Notícias Agrícolas trouxe em 19 de maio. 

O recuo do dólar frente ao real também contribuiu para o movimento. A moeda americana fechou abaixo dos R$ 5,00, com queda de 2,80% e valendo R$ 4,9877. De acordo com a Reuters, esse é o menor nível desde 13 de março, quando a divisa fechou o em R$ 4,81. 

"A surpreendente geração de vagas de emprego nos EUA em maio serviu de catalisador para investidores desfazerem mais posições contrárias ao real, depois de a moeda brasileira ter batido sucessivas mínimas históricas sob pressão de incertezas políticas domésticas", informa a agência de notícias.

Complementando o cenário internacional para a soja, segue o monitoramento da nova safra dos Estados Unidos. O plantio da temporada vai caminhando para sua fase final, as condições de clima são bastante favoráveis até este momento e pode continuar sendo um limitador para as cotações na Bolsa de Chicago.  

"As previsões climáticas atualizadas para os Estados Unidos continuam trazendo um balanço quase ideal entre dias ensolarados e chuvas regulares sobre todo o Cinturão Agrícola. Há algumas pequenas regiões em Illinois que sofrem com excessos hídricos e pequenas enchentes, entretanto nada significante para a produção nacional como um todo", informa a
ARC Mercosul.

Juros voltam a fechar em alta com realização de lucro

Os juros futuros fecharam em alta, com exceção dos vencimentos de curtíssimo prazo que terminaram ao redor da estabilidade, sem alterações no quadro de apostas para o Copom. As taxas deram sequência ao movimento de realização de lucros iniciado ontem, mas o ritmo de ajuste hoje foi um pouco mais firme do que ontem e, diferentemente da véspera, amparado por um volume consistente de contratos negociados. Nas mesas de renda fixa, a trajetória é vista mesmo como uma correção, e não como piora na percepção de risco, até porque o clima externo segue positivo e, na seara política, as tensões arrefeceram.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 3,01% para 3,07% e a do DI para janeiro de 2025, de 5,712% para 5,80%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa a 6,77%, de 6,712% ontem no ajuste. No balanço da semana, a curva perdeu inclinação.

Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, afirma que aparentemente a curva esteve na contramão do bom humor dos demais ativos locais e do apetite ao risco nos mercados internacionais, mas "na verdade não". "A correção é ligeiramente mais pronunciada justamente no miolo em função da melhora nas expectativas, na medida em que o mercado fica mais otimista com o Brasil e com o mundo", disse. Ele afirma que, apesar dos problemas fiscais e políticos, a avaliação é de que a crise forçou o presidente Jair Bolsonaro a dialogar com o Congresso, via Centrão, o que enfraquece as chances de ruptura institucional e, ao mesmo tempo, eleva a expectativa em relação à retomada da agenda de reformas no pós-crise.

Pela manhã, as taxas de curto prazo chegaram a operar em alta firme, em reação a novas declarações do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, em live da XP Investimentos. Após a grande repercussão de sua fala na quarta-feira, de que 2,25% pode não ser o "lower bound" para a Selic, hoje o diretor explicou que esta discussão está longe de ser consensual dentro do Copom. "Minha leitura é a de que não falamos de 'lower bound' no Brasil", disse. Para ele, continuar baixando juro é "navegar em mares nunca antes navegados". Mas acrescentou que, se o BC seguir baixando a Selic, continuará a ter efeito de aumento da inflação.

Ao longo da sessão, porém, a pressão diminuiu, levando as taxas dos contratos que vencem ainda este ano, mais sensíveis às expectativas para as próximas decisões do Copom, para perto da estabilidade. A precificação para o Copom de junho na curva, a exemplo de ontem, segue mostrando 60% de chance de corte de 0,75 ponto porcentual da Selic, ante 40% de probabilidade de corte de 0,50 ponto. Para agosto, o quadro também não mudou, com 80% de chance de queda de 0,25 ponto e 20% de probabilidade de manutenção. Os cálculos são do Haitong Banco de Investimento.
 

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas/AgenciaEstado

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