Associações rurais da Argentina anunciam greve contra taxas à soja, diz fonte
BUENOS AIRES (Reuters) - As quatro grandes associações rurais da Argentina realizarão na semana que vem uma greve comercial de quatro dias em protesto contra o aumento dos impostos sobre exportações de soja do país, disse nesta quinta-feira uma fonte da entidade agropecuária CRA.
A decisão poderá afetar os mercados internacionais de grãos, já que a Argentina é um dos maiores exportadores de soja, milho, trigo e carne bovina do mundo.
Além disso, a medida eleva a tensão política entre o governo de centro-esquerda de Alberto Fernández --que assumiu o poder há três meses-- e o poderoso setor rural, que em sua maioria apoiou o ex-presidente Mauricio Macri nas eleições de 2019.
Mais cedo, um porta-voz das Confederações Rurais da Argentina (CRA) afirmou à Reuters que a associação vai levar adiante a proposta de greve comercial --que consiste em deixar de vender produtos agropecuários-- contra o aumento no imposto aplicado às exportações de soja e derivados. Logo em seguida, as outras três entidades decidiram se juntar à ação.
A iniciativa foi divulgada pouco depois de o governo elevar as taxas sobre embarques de grãos, farelo e óleo de soja para 33%, contra 30% anteriormente, com o objetivo de compensar o déficit fiscal da Argentina.
O país atravessa uma severa crise econômica, com alta inflação e recessão, enquanto busca reestruturar uma dívida soberana que chega a cerca de 100 bilhões de dólares.
A Câmara da Indústria de Óleos Vegetais da Argentina (Ciara, na sigla em espanhol) também protestou nesta quinta-feira contra a medida, e pediu para que o imposto aplicado aos embarques de óleo e farelo derivados da oleaginosa seja inferior ao dos grãos, para melhorar sua competitividade e fomentar a industrialização do setor de soja.
A Argentina é o principal exportador mundial de óleo e farelo de soja. Segundo dados do órgão estatal de estatísticas do país, em 2019 os embarques dos dois derivados da oleaginosa somaram um total de cerca de 12,25 bilhões de dólares.
As exportações dos setores agrícola e agroindustrial são a principal fonte de divisas da Argentina.
"É imprescindível melhorar os ingressos fiscais em um contexto econômico de endividamento, alta inflação, recessão crescente, desemprego generalizado e emergência alimentar", explicou o governo argentino no decreto que estabelece o aumento do imposto, publicado nesta quinta-feira no Boletim Oficial.
Os agricultores e analistas, por sua vez, disseram na quarta-feira que o aumento vai desincentivar investimentos futuros e impactar negativamente no volume das safras.