Soja: Já fortes, exportações do Brasil devem registrar maior aceleração

Publicado em 28/02/2020 09:15

O lineup - fila de embarques, com navios em carregamento e navios agendados para chegar aos portos do país - para a soja brasileira deverá registrar, neste mês de fevereiro, uma das maiores acelerações em relação ao mês anterior diante da demanda forte pela oleaginosa do Brasil e da sazonalidade que alimenta este movimento. 

"É sazonal. Quando temos colheita, temos maior ritmo de exportações. O que vemos de curto prazo é que já estamos bem acelerados, temos uma demanda aquecida, e estamos entrando agora nessa aceleração que dura até meados de maio. O Brasil começa, cada vez mais, a impulsionar suas exportações, temos a soja mais barata, de maior qualidade, e com isso, temos a contínua aceleração das exportações brasileiras", explica o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira. 

Imagens do sistema Refinitiv Eikon e selecionadas pela especialista em commodities da Reuters Internacional, Karen Braun, deixam claro o aumento do fluxo de navios carregados com soja saindo dos portos do Brasil em 30 de janeiro - na primeira imagem - contra o que era observado em 26 de fevereiro - na segunda imagem. 

Fluxo de navios carregando soja em 30 de janeiro de 2020 - Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

Fluxo de navios carregando soja em 26 de fevereiro - Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

Este aumento já vinha sendo esperado, uma vez que a disponibilidade de produto há um mês era ainda muito menor, depois das fortes vendas do ano anterior, de uma safra menor e de estoques praticamente zerados no Brasil. 

Uma safra recorde - que está sendo colhida com certo atraso em alguns pontos do país, e chega a 38% até este momento - mais o dólar frente ao real batendo recordes históricos, além de melhor qualidade da oleaginosa, são fatores que mantêm a oleaginosa brasileira mais competitiva e atraindo os compradores. 

Somente na última semana, o Brasil embarcou 1,72 milhão de toneladas de soja e, como mostram números levantados pela consultoria, mostram que os compromissos totais do produto brasileiro com a exportação já chegam a 15,4 milhões de toneladas, volume que é 25% maior do que no mesmo período do ano passado. 

A ARC aponta ainda para a fila de embarques no curto prazo já registrando 11,2 milhões de toneladas a serem embarcadas nas próximas semanas. Em 2019, nessa mesma época, eram 8,57 milhões. 

"Os prêmios de exportação deverão ganhar incentivos no Brasil, uma vez que, mesmo com a alta produção nacional, ainda sim temos uma quantidade recorde de soja já vendida para exportação", completa Pereira.

A PARTIR DE MAIO, SOJA AMERICANA. SERÁ?

Como explica o diretor da ARC, a partir de maio, sazonalmente, esse movimeto de aceleração começa a perder força e os compradores começam a olhar para a soja norte-americana como uma boa alternativa para novas importações no segundo semestre. 

De acordo com as primeiras estimativas para a safra 2020/21 do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a safra de soja do país deverá ser de 114,17 milhões de toneladas, passando por uma importante recuperação depois das perdas causadas pelo clima na temporada passada. 

Assim, há uma expectativa também de que as exportações norte-americanas de soja resultem em números mais fortes no novo ano comercial e alcançar 55,79 milhões de toneladas, contra 49,67 milhões estimadas para 2019/20. 

EUA X BRASIL

Assim, será importante monitorar como ficará a disponibilidade de soja no Brasil neste período do segundo semestre. Afinal, além das exportações fortes - a ARC estima as vendas externas em 78 milhões de toneladas - a demanda interna também é bastante intensa e deverá ser, em 2020, maior do que a de 2019. 

"Se continuarmos nessa aceleração recorde de demanda para exportações de soja recorde até o final de maio, muito provavelmente nossa oferta irá se tornar escassa para o segundo semestre, o que pode encarecer nosso produto em relação ao norte-americano", diz Pereira. 

Mais do que isso, o analista complementa dizendo que tudo, a partir do segundo semestre, depende e começa a se desenhar a partir da realidade da nova safra americana. 

"E temos alguns modelos, não todos, traçando um ano de La Niña para os EUA. Entre meados de junho e agosto, temos a formação do fenômeno, segundo alguns modelos, e isso é um fator prejudicial para a saúde da safra americana. E uma safra já reduzida por área (em detrimento do milho), pode ser reduzida também por produtividade, o que volta a elevar preços norte-americanos e fazer o importador, potencialmente, adicione mais prêmios para o produto brasileiro no segundo semestre, o que vai incentivar mais ainda o mercado lá na frente", conclui o diretor da ARC Mercosul.  

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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