Soja: Atraso na colheita ainda não compromete embarques ou atrapalha negócios no Brasil
Colheita da soja no Maranhão - Foto de Giulianna Fanhani
A consultoria ARC Mercosul trouxe seu levantamento sobre o avanço da colheita da soja no Brasil e mostrou os trabalhos de campo concluídos em 15,7% da área até esta sexta-feira, 7 de fevereiro. Em 2019, nesse mesmo período, o percentual de área colhida já era de 27,3%. Já em comparação com a média dos últimos cinco anos - de 16,2% - o número já se mostra mais alinhado.
A safra 2018/19 do Brasil, porém, foi um ponto fora da curva e quaisquer comparações que sejam feitas com ela são difíceis. Ainda assim, os diretores da consultoria explicam que, de fato, já se configura um atraso na colheita brasileira, mesmo que pontual.
"Na última semana tivemos um mix de cenários. Tivemos regiões do Centro do Brasil que enfrentaram problemas de excesso de chuvas, enquanto outras presenciaram um cenário perfeito para avançar com os trabalhos de campo", diz Matheus Pereira, diretor da ARC.
Ainda como explica Pereira, os estados que mais foram prejudicados pelas precipitações excessivas foram Goiás, Minas Gerais, Tocantins, a porção leste de Mato Grosso e o norte de Mato Grosso do Sul, como mostram os gráficos abaixo.
O mapa do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) mostra as chuvas acumuladas nos últimos cinco dias e reforçam os elevados acumulados nestas regiões.
E também como aponta o instituto, o final de semana ainda será de muita chuva para as regiões Centro-Oeste - sobretudo para Goiás e Mato Grosso - e do Matopiba. Como apurado pelo Notícias Agrícolas, o estado goiano pode receber entre 20 e 40 mm, com os volumes podendo chegar a até 60 mm no domingo e, no mato-grossense, entre 50 e 60 mm.
Mapa de previsão de precipitação para as próximas 93 horas - Fonte: Inmet
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Embora haja este atraso na colheita e a chance de mais chuvas para os próximos dias, para Pereira não há chance de que os embarques brasileiros sejam atrasados de forma a comprometer os negócios brasileiros. "O que pode atrasar é um clima inclemente, ainda temos soja física rodando o mercado", esclarece o analista.
Somente esta semana, a China comprou mais de 20 navios brasileiros de soja diante de sua demanda forte - e das aquisições concentradas no mercado do Brasil dada sua maior competitividade - e as perspectivas continuam positivas e fortes para o complexo da oleaginosa.
Durante esta semana, algumas notícias e análises especularam sobre o ritmo das exportações brasileiras de soja um pouco mais lento neste início de 2020 - 1,49 milhão de toneladas em janeiro, de acordo com os últimos números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) - porém, especialistas afirmaram que este volume menor reflete, nada mais, do que uma disponibilidade ainda limitada de produto.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta terça-feira (4), Sérgio Mendes, diretor geral da ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), explica que "o ritmo menor das exportações de soja do Brasil, agora, é reflexo do atraso da safra; a colheita ainda está atrasada, ainda está chovendo no centro-oeste, isso é um fato", diz. E completou dizendo que "em 2018, as exportações de soja foram recordes e limparam os estoques, 2019 também foi um ano forte. Então, por hora, não há qualquer razão para se preocupar".
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A China enfrenta ainda severos impactos causados pelo surto de coronavírus - com mais de 25 mil pessoas infectadas - além de ter de lidar com a Peste Suína Africana e a gripe aviária, que vem comprometendo também sua produção de alimentos. Nos últimos dias, porém, o país viu os preços do farelo de soja buscando uma recuperação e melhorando suas margens de esmagamento, fazendo mais forte a necessidade de novas compras de matéria-prima.
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E essas compras continuam acontecendo no Brasil mesmo diante de uma leve correção da tarifação da China sobre a soja americana - que passou de 30% para 27,5% - e da fase um do acordo comercial firmado entre China e EUA no meio de janeiro e que entra em vigor neste dia 15 de fevereiro.
"É alguma coisa, mas não uma mudança do jogo. E eles (chineses) continuam a comprar soja mais barata da América do Sul", diz Don Roose, presidente da US Commodities, de Iowa, nos EUA, à agência internacional de notícias Bloomberg.
Como informou o site chinês Cofeed nesta sexta-feira, "as processadoras compraram pelo menos 1 milhão de toneladas de soja brasileira nesta semana diante das boas margens de esmagamento". Além disso, o portal informou ainda que o governo da China segue implementando políticas políticas para estimular as as empresas de grãos a retomarem sua produção.
Há alguns dias, autoridades já haviam determinado que fosse mantido, dentro do possível, o ritmo do fluxo e abastecimento de alimentação animal para que a produção pudesse, ao menos, mitigar os impactos da crise atual.
O texto sobre a fase um do acordo entre Pequim e Washigton não traz detalhes ou especificações sobre a soja norte-americana e o vice premier da nação asiática, Liu He, na ocasião, reforçou que as compras chinesas continuarão a ser feitas de acordo com as condições de mercado e as oportunidades de bons negócios.