China vai continuar comprando soja onde estiver mais barato e reafirma condições em Davos

Publicado em 22/01/2020 16:41

Vice premiê Han Zheng discursa no Fórum Econômico Mundial, em Davos -  Foto: Xinhua/Pang Xinglei

O chefe do departamento de comércio exterior do Ministério do Comércio da China, Li Xingqian, afirmou nesta semana que o país busca, de fato, ampliar suas importações nos Estados Unidos, porém, sem comprometer ou ferir as regras do mercado, da OMC (Organização Mundial do Comércio) e, mais do que isso, o comércio dos outros fornecedores. 

“A China é um dos maiores mercados consumidores do mundo depois dos Estados Unidos. E o mercado agora está crescendo rapidamente, com demanda de importação diversificada, multinível e ampla. A China expandirá as importações dos Estados Unidos de acordo com o princípio das regras do mercado e da OMC, e isso não afetará as importações de outros países. A China saúda sinceramente as empresas mundiais a competir em pé de igualdade no vasto mercado chinês ”, disse Li, conforme reportou o site local Cofeed.com.

A declaração da autoridade chinesa se alinha com o que tem sido dito por demais nomes de Pequim desde que foi oficializada a fase um do acordo comercial entre China e Estados Unidos, na semana passada, em Washigtnon. O vice premiê da nação asiática, Liu He, afirmou que a China seguirá fazendo suas compras diante das condições de mercado. 

No centro dessas declarações e ainda de muitas incertezas está o comércio global de soja e o silêncio ensurdecedor da ausência chinesa no mercado norte-americano desde o que o texto foi divulgado. Os termos apresentados, de fato, não apresentam qualquer especificidade sobre o volume de cada produto que tem que ser adquirido pelos chineses nos EUA e a reação do mercado é clara diante disso. 

Somente de 15 a 21 de janeiro, os futuros da soja acumularam uma baixa de mais de 1% em seus três primeiros vencimentos. O março foi a US$ 9,16 - caindo 1,29% - o maio a US$ 9,29 - perdendo 1,38%  - e o julho a US$ 9,43 - com queda de 1,15%. 

A demanda, afinal, segue concentrada no Brasil diante da maior competitividade do produto brasileiro e da vantagem cambial do exportador por aqui neste momento. O dólar segue valorizado frente ao real, próximo aos R$ 4,20. 

Leia também:

>> Soja: Nesta safra, produtor brasileiro está no lucro, enquanto americano depende de subsídios

Em um artigo publicado no The Wall Street Journal, Jon Hilsenrath faz uma alusão a uma história de Sherlock Holmes com o mercado, dizendo que "os preços deveriam ser o cachorro latindo para o mercado". Quando o latido estiver mais alto indicaria "um sinal de aumento de demanda ou algum problema com os estoques. Mais baixo, o contrário. Entretanto, os cães estão quietos até agora.

Ainda segundo o Cofeed, o chefe do comércio exterior chinês disse ainda que um dos principais objetivos do país é o de promover uma melhora na qualidade do comércio. 

"Isso ajudará a promover a modernização industrial, atender à modernização do consumo público e impulsionar a modernização da estrutura dos produtos de exportação, permitindo assim à China beneficiar o mundo inteiro com seus frutos do desenvolvimento e benefícios da reforma", disse Li.

Reiterando o que disse o representante do Minstério do Comércio, o vice premiê Han Zheng, durante o Fórum Econômico Mundial, que acontece em Davos, na Suíça, que o aumento das compras da China nos EUA não visa prejudicar o comércio com outras nações exportadoras para os chineses. A informação parte da agência de notícias Bloomberg. 

"A China abrirá mais suas portas. Apesar de enfrentar algum protecionismo de alguns países, a determinação de se abrir não vacilará", afirmou. 

Sobre a soja, o Brasil vem se mantendo como protagonista nas exportações de soja para o maior comprador mundial. Das 74 milhões de toneladas da oleaginosa exportadas pelo Brasil no ano passado - dados levantados pela Conab, cerca de 58 milhões foram destinadas à nação asiática. Os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) apontam para 77,9 milhões. 

Em 2018, do recorde das exportações de mais de 83 milhões, mais de 68 milhões foram compradas pela China. 

Especialistas afirmam que apesar das boas perspectivas para o mercado brasileiro da soja em 2020 e em função de incertezas que ainda margeiam o comércio mundial, é difícil estimar quanta soja o Brasil exportará este ano. Fato é que mais boa parte da safra 2019/20 já foi comercializada, e bem comercializada, pelos produtores brasileiras. 

Somente em Mato Grosso, já há cerca de 60% da produção vendida, com um preço médio de R$ 70,00 por saca, como explica o superintendente do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), Daniel Latorraca. 

Segundo o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, há dois cenários que devem ser avaliados neste momento:

1-) Com China ampliando suas compras nos EUA e colocando a soja como carro-chefe, os preços em Chicago sobem, mas os prêmios no Brasil acabam pressionados. 2-) Com China sem intensificar suas compras, Chicago cai e prêmios sobem. 

"Nos dois cenários o produtor brasileiro pode se beneficiar, já que a safra de soja está bem comercializada. No entanto, a realidade econômica regional deve ser colocada em consideração para que o produtor tenha uma boa margem de lucro", diz Fernandes.

No link abaixo, confira sua entrevista ao Notícias Agrícolas na íntegra:

>> Mercado da soja para produtor brasileiro é favorável em 2020 mesmo com China direcionando sua demanda para os EUA 

Agência Xinhua: Vice-premiê chinês pede construção da economia mundial inclusiva e aberta

Davos, Suíça (Xinhua) -- O vice-premiê chinês, Han Zheng, disse na terça-feira que a solução fundamental para problemas na globalização econômica reside na construção conjunta de uma economia mundial inclusiva e aberta.

Han, também membro do Comitê Permanente do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China, disse em um discurso na Reunião Anual 2020 do Fórum Econômico Mundial (FEM) em Davos, na Suíça, que, como a globalização econômica está em uma encruzilhada, o caminho que deve ser tomado é uma questão que merece atenção e reflexão séria.

Para lidar com as dificuldades enfrentadas pela globalização econômica, é essencial compreender os padrões estruturais e a tendência geral, disse Han.

A globalização econômica é uma tendência histórica, uma condição essencial para o crescimento da produtividade e um resultado natural de progressos na ciência e tecnologia, disse Han.

Em um mundo onde todas as economias estão profundamente integradas, nenhum país pode alcançar um desenvolvimento sustentável fora da divisão global do trabalho, disse o vice-premiê.

Práticas unilaterais e protecionistas, que vão contra a tendência global, não levarão a lugar nenhum e acabarão prejudicando os interesses de todos, disse Han.

Todos os países devem permanecer comprometidos com a consulta com base na igualdade e na superação de dificuldades, disse Han.

"Devemos tornar a globalização econômica mais aberta, inclusiva, equilibrada e benéfica para todos", afirmou o vice-primeiro-ministro.

O vice-primeiro-ministro chinês instou a comunidade internacional a defender o multilateralismo e o status central das Nações Unidas no sistema internacional e a respeitar o direito internacional e as normas amplamente reconhecidas das relações internacionais.

Todos os países devem aderir aos princípios de consulta abrangente, contribuição conjunta e benefícios compartilhados para obter um futuro melhor, acrescentou Han.

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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