Tempo seco preocupa na América do Sul e soja sofre em regiões produtoras do Brasil e Argentina
O 2020 começa com as condições de clima na América do Sul exigindo monitoramento constante, principalmente para a nova safra de soja do país. No Brasil, a virada do ano trouxe algumas chuvas em regiões que necessitavam bastante, assim como na Argentina. Entretando, o alívio ainda não parece ser permanente.
Segundo informações do Commodity Weather Group (CWG), na Argentina, o estresse foi limitado, ao menos por agora, mas as previsões mostram que as precipitações seguirão limitas nos próximos 6 a 15 dias.
De acordo com os mapas abaixo, de 2 a 11 de janeiro, os volumes ficarão abaixo da média em importantes regiões produtoras do país, como o Chaca, Santa Fé e Buenos Aires, além de outras.
Na sequência, de 12 a 16, algumas áreas já começam a receber chuvas dentro do normal para a época.
Fonte: Commodity Weather Group
No entanto, ainda como explicam os especialistas da agência meteorológica, o estresse pela condição do tempo seco se limita a algo entre 10% e 15% das áreas de soja e milho da Argentina, enquanto se expande para 35% da área de algodão nas próximas duas semanas.
Nos próximos cinco dias, as previsões indicam chuvas de 6,35 a 31,75 mm, alcançando cerca de 45% das áreas de soja e milho argentinas.
Para o Brasil, o alívio também deverá ser localizado, segundo as previsões do CWG. As precipitações, no próximos 7 dias, podem alcançar de 12,7 a 101 mm em algumas localidades, abrangendo até 95% da região produtora brasileira de soja e milho verão.
"Algumas chuvas espalhadas foram registradas pelo norte e nordeste do Brasil nos últimos dois dias, mas a melhora começa a aparecer nesta segunda-feira, para aliviar alguns déficits", diz o Commodity Weather Group em seu boletim diário.
Chuvas das últimas 48 horas - Fontes: Inmet + CWG
Ainda segundo os meteorologistas, o tempo seco volta a preocupar nos próximos 6 a 15 dias - como mostram os três mapas acima - em aproximadamente 1/4 da área de produção.
São esperadas chuvas abaixo da média em estados como Minas Gerais, Bahia, partes de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul de 7 a 11 de janeiro. Já de 12 a 16, as precipitações seguem escassas no estado baiano, e voltam a se ausentar do Rio Grande do Sul. Para o Centro-Oeste, os volumes deverão ficar na média.
"Para os próximos a tendência é de que as chuvas se concentrem no Centro-Norte do país, beneficiando regiões como o oeste da região Nordeste e norte de Minas Gerais, que vem vivenciando um regime de chuvas bastante irregular. Já no Rio Grande do Sul, o alívio ocorre somente em relação às temperaturas, devido ao avanço de uma massa de ar mais seco e frio. Aliás, com a mudança de padrão, a sensação tende a ser mais amenas em todo o Centro-Sul", diz o meteorologista Tiago Robles, em um artigo publicado nesta quinta-feira (2).
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>> Inmet emite alertas para tempestades e chuvas intensas no Centro-Oeste e Sudeste
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o vice-presidente regional da Aprosoja TO, Wellington Almeida, relatou os problemas que o tempo seco já vem causando não só em seu estado, mas em outros que visitou.
O Tocantins, segundo ele, teve seu pior dezembro em mais de 20 anos quando o assunto é a falta de chuva. Por conta dessa condição, o estado registra o maior índice de replantio da história e muitas áreas nem puderam ser replantadas em função da falta de umidade.
O último mês recebeu apenas 40 mm de chuvas, enquanto o normal seriam cerca de 240 mm. Assim, a instituição já espera uma redução de 20% da produtividade.
Seca na soja em Sucupira/To - Vídeo: Wellington Almeida
Sobre Goiás, Almeida explica ainda que no sul do estado as chuvas chegaram boas em meados de outubro, porém, começaram a se limitar um pouco mais a partir de novembro, e os problemas também começaram a aparecer.
"Esse ano não vimos aqueles invernos de dois, três dias, quando chove sem parar. São chuvas manchadas e, consequentemente, com baixo stand da lavoura, tende-se a colher menos", explica o vice-presidente da Aprosoja TO.
Seca na soja em Barro Alto/GO - Foto: Wellington Almeida
Seca na soja em Uruaçu/GO - Foto: Wellington Almeida
Para ele, a realidade de uma super safra já não se mostra tão próxima, embora as perdas ainda não possam ser quantificadas e, principalmente, ainda não são generalizadas e tão severas.
"Mas temos problemas em todos os estados", diz Almeida.
No link abaixo, confira a entrevista na íntegra:
>> Tocantins registra maior replantio da história e espera 20% de perda na produtividade
Enquanto a preocupação é crescente no Tocantins, em Querência, Mato Grosso, os produtores já se preparam para dar início à colheita da soja e esperam alcançar bons níveis de produtividade, como relata Osmar Frizzo, Presidente do Sindicato Rural do município.
A expectativa é de que os trabalhos de campo se iniciem neste dia 20 com a marca de 57 sacas por hectare, a mesma da safra 2018/19, embora as chuvas irregulares tenham marcado a safra da região.
Veja mais:
>> Querência/MT se prepara para a colheita da soja e espera boa produtividade
Em Lucas do Rio Verde/MT, a colheita já começou e, de acordo com Antônio Isaac Fraga Lira, presidente do Sindicato Rural, deverão se estender até 15 de março.
Como ele explica, em entrevista ao Notícias Agrícolas, os sojicultores já esperam menor rendimento em função da falta de chuvas que acometeu as lavouras durante todo o período de desenvolvimento das plantas.
Veja a íntegra:
>> A colheita da soja 19/20 já começou em Lucas do Rio Verde/MT
Em seu último levantamento divulgado em 10 de dezembro, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou a safra 2019/20 de soja do Brasil em 121,1 milhões de toneladas. Os números serão atualizados na próxima quarta-feira, 8 de janeiro.
Já o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estimou, no último mês, a colheita do Brasil em 123 milhões de toneladas e a da Argentina em 53 milhões. O novo reporte americano chega também na próxima semana.