Putin diz que China está pronta para comprar tanta soja quanto a Rússia puder produzir
SÓCHI (Reuters) - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse em um fórum nesta quinta-feira que a China está pronta para comprar tanta soja quanto a Rússia puder produzir, mas que no momento Moscou não possui capacidade suficiente para atender toda a demanda do maior importador mundial da oleaginosa.
"Eles estão prontos para comprar o tanto quanto conseguirmos produzir, mas a questão é que não estamos prontos para isso no momento... ainda não estamos prontos para tamanho volume", disse Putin.
Seus comentários ocorrem em meio à ampla guerra comercial entre China e Estados Unidos, que resultou na imposição de tarifas por Pequim à soja norte-americana.
(Reportagem de Gleb Stolyarov)
USDA anuncia vendas de soja e trigo branco para a China
CHICAGO (Reuters) - O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) reportou mais compras de soja norte-americana pela China nesta quinta-feira, segundo dia consecutivo com confirmações de vendas ao maior importador mundial da oleaginosa, que também realizou uma rara aquisição de trigo branco dos EUA.
A confirmação da venda de soja vem após uma onda de compras por importadores chineses no início desta semana, que fontes disseram chegar a 2 milhões de toneladas, em embarques isentos das altas tarifas retaliatórias impostas a produtos norte-americanos.
A China acelerou a compra de produtos agrícolas dos EUA, especialmente de soja, antes das negociações comerciais de alto nível que devem começar no início da próxima semana. As conversas visam encerrar uma guerra comercial que já dura 15 meses e afetou mercados e exportações agrícolas dos EUA.
O USDA disse que exportadores privados venderam 252 mil toneladas de soja norte-americana à China para embarques no ano comercial de 2019/20, iniciado em 1º de setembro, um dia após confirmar vendas de 464 mil toneladas.
A China fechou negócios para a aquisição de mais de 3,25 milhões de toneladas de soja dos EUA desde o início de setembro, de acordo com dados do USDA.
O USDA também reportou nesta quinta-feira vendas de 130 mil toneladas de trigo branco norte-americano à China para embarques em 2019/20. Trata-se da primeira compra pela China da variedade, utilizada na fabricação de pães e massas de macarrão, desde março, e sua maior aquisição única desde dezembro de 2016, mostraram dados do USDA.
Navios com 1 mi t de grãos estão parados perto do Irã por crise de pagamentos
LONDRES/DUBAI (Reuters) - Mais de 20 navios com cerca de 1 milhão de toneladas de grãos estão parados próximos a portos do Irã devido a problemas de pagamentos criados pelas sanções impostas pelos Estados Unidos, que dificultam os esforços do país asiático para importar commodities vitais, disseram fontes diretamente envolvidas no comércio.
Empresas de trading como Bunge e a chinesa Cofco International estão entre as afetadas por atrasos de pagamentos e custos adicionais de até 15 mil dólares por dia, uma vez que as restrições norte-americanas impedem o processamento das transações, segundo as fontes.
Alimentos, medicamentos e outros suprimentos humanitários estão isentos das sanções reimpostas por Washington depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que está deixando o acordo internacional de 2015 relacionado ao programa nuclear iraniano.
No entanto, as medidas norte-americanas, que têm como alvo praticamente tudo, de vendas de petróleo a atividades financeiras e de transporte, impediram vários bancos estrangeiros de processarem quaisquer negócios iranianos, incluindo os humanitários, como embarques de alimentos.
Os poucos credores remanescentes a ainda processarem negócios da República Islâmica enfrentam diversos obstáculos para facilitar os pagamentos, já que os canais de financiamento estão congelados.
Seis fontes ocidentais e do Irã afirmaram que a situação contribui para que os carregamentos estejam parados há mais de um mês perto de dois dos maiores portos iranianos, Bandar Imam Khomeini e Bandar Abbas.
Os navios possuem cargas que incluem soja e milho, sendo a maior parte proveniente da América do Sul, disseram as fontes. As embarcações são visíveis por dados de monitoramento de navios.
"Não há restrições para negócios humanitários, mas você não é pago por eles", disse uma fonte europeia. "Você pode ter de esperar meses para receber um pagamento."
Outra fonte disse que "há nervosismo entre operadores quanto à realização de novas vendas para o Irã antes de o congestionamento (de navios) ser liberado".
Uma autoridade portuária sênior da República Islâmica, que pediu para não ser identificada, disse à Reuters que problemas vêm ocorrendo desde as sanções impostas pelos EUA ao sistema bancário do país em novembro de 2018.
"O que mudou é que agora o número de bancos e operadores se afastando da realização de negócios com o Irã está aumentando", disse a autoridade.
Novas sanções impostas em setembro pelos EUA ao banco central iraniano --após os ataques a instalações petrolíferas da Arábia Saudita, pelos quais os norte-americanos culparam o Irã-- criaram mais dificuldades para as transações.
"Alguns pequenos bancos com os quais costumávamos trabalhar estão nos informando que não farão mais negócios conosco", disse a fonte, que se recusou a citar quais seriam essas instituições.
Uma autoridade do Ministério da Agricultura do Irã disse que desde a década de 1980 o país visa garantir estoques suficientes de grãos.
"Aumentamos as quantidades em estoque por causa da política de Trump sobre o Irã e pelas tensões nos últimos meses", disse a autoridade. "Está ficando cada vez mais difícil devido às sanções."
A Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) estimou no mês passado os estoques totais de cereais do Irã em 2019 em 5,1 milhões de toneladas e previu um recuo para 4,8 milhões de toneladas em 2020, ante 9,9 milhões de toneladas em 2016.
PRESSÃO NOS PORTOS
Fontes do mercado disseram que os portos iranianos também enfrentam dificuldades para receber os navios, devido à falta de berços disponíveis.
Dos navios ainda ancorados, ao menos 20 continuam aguardando perto de Bandar Imam Khomeini, mostraram dados da Refinitiv. Outras duas embarcações conseguiram descarregar seus produtos após semanas de espera, segundo os dados.
Informações da plataforma de inteligência marítima MarineTraffics apontaram um número semelhante de navios parados há mais de um mês.
Uma terceira autoridade governamental iraniana confirmou que os navios estão aguardando, mas recusou-se a fornecer detalhes.
Fontes do mercado disseram que o turco Halkbank --um dos principais bancos dos quais o Irã depende para o comércio-- não tem conseguido processar os pagamentos rápido o suficiente devido à complexidade dos processos, e em alguns casos sequer completou as transações com fornecedores. O Halkbank se recusou a comentar.
Na espera para o descarregamento, restaram aos fornecedores custos adicionais, conhecidos como "demurrage", de até 15 mil dólares por dia.
Fontes afirmaram que o grupo agrícola norte-americano Bunge e a chinesa Cofco International estão entre as companhias afetadas, ao lado de empresas de menor porte de Turquia e Irã.
A Cofco International se recusou a comentar.
O porta-voz da Bunge, Frank Mantero, disse que "embora não comentemos ou confirmemos contratos comerciais, as exportações de commodities agrícolas pela Bunge estão de acordo com todas as estruturas legais aplicáveis".
Duas fontes contaram que as crescentes dificuldades levaram a empresa norte-americana do agronegócio Archer Daniels Midland a interromper o comércio com o Irã desde agosto. Uma porta-voz da ADM não comentou o assunto.
Outras fontes do mercado haviam dito à Reuters em dezembro que a Bunge e a rival Cargill, bem como outros fornecedores, interromperam novas transações de alimentos com o Irã devido aos problemas de pagamentos.
A Cargill disse em um comunicado que "em certos países onde existem sanções internacionais, fornecemos alimentos utilizando as exceções humanitárias para medicamentos e alimentos".
Um porta-voz do Tesouro norte-americano disse que Washington designou o banco central do Irã para as autoridades de combate ao terrorismo, acrescentando que as amplas exceções às sanções antes aplicadas, como o comércio humanitário, não são mais aplicáveis às transações envolvendo o banco central do país asiático.
O porta-voz disse ainda que o departamento continua a encorajar o setor privado e outros países a fornecerem assistência humanitária caso as transações sejam conduzidas com instituições financeiras iranianas ou entidades que não estejam sob sanções dos EUA.
(Reportagem adicional de Karl Plume em Chicago, Timothy Gardner em Washington, Michael Hogan em Hamburgo, Nigel Hunt em Londres e Ebru Tuncay em Istambul)
Brasil já vendeu 25% da 2ª safra de milho, que pode ser recorde, diz FCStone
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil já comercializou cerca de um quarto da segunda safra de milho 2019/20, que será colhida apenas em meados do próximo ano, com produtores aproveitando as oportunidades de preços e câmbio, embalados por exportações estimadas em recorde em 2019, avaliou nesta quarta-feira analista da consultoria e corretora INTL FCStone.
O total já comercializado para a segunda safra 2019/20, cujo plantio pode ser recorde, segundo a FCStone, está à frente do registrado no mesmo período para a temporada 2018/19, quando as vendas antecipadas não chegavam a 20%, disse a analista de mercado Gabriela Fontanari, durante evento sobre estratégias de hedge para fertilizantes utilizando derivativos.
"Com exportações recordes em 2019, a expectativa é de aumento de área da 'safrinha' e da produção, isso deve impulsionar as entregas de fertilizantes...", disse Gabriela, em sua apresentação, que integrou seminário para apresentar novos derivativos de fertilizantes do grupo CME, que podem ser fechados no Brasil por meio da FCStone.
A FCStone ainda não realizou ainda uma estimativa para a segunda safra de milho 2019/20, cujo plantio só começa no início do próximo ano, após a colheita da soja.
Mas, conforme disse a analista, se houver um aumento no plantio da chamada "safrinha" --que na verdade responde quase três quartos da produção brasileira do cereal--, a temporada 2019/20 deixará a máxima histórica de 12,6 milhões de hectares de 2018/19 para trás.
A analista não forneceu dados históricos sobre o ritmo de vendas antecipadas de milho. Mas em Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil, que lidera as vendas futuras no país, a comercialização da nova safra já passa de 35% do total esperado, em ritmo recorde, segundo pesquisa divulgada no início do mês pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O sentimento é favorável, com a relação de troca entre fertilizantes e produtos agrícolas beneficiando os agricultores brasileiros, notou Gabriela, ainda que o plantio de soja tenha começado de forma mais lenta, com menos chuvas em relação às vistas nesta época em 2018.
"Ano passado o plantio foi bastante antecipado, anteciparam as compras para milho safrinha", acrescentou a analista, avaliando que isso pode resultar em entregas menos antecipadas de insumos para a próxima "safrinha".
Paralelamente, a FCStone elevou nesta quarta-feira sua estimativa para a primeira safra de milho, para 26,85 milhões de toneladas, ante 26,3 milhões de toneladas na projeção de setembro, o que indica aumento ante as 26,2 milhões de 2018/19, quando o Brasil colheu ao todo, incluindo a "safrinha" uma máxima de cerca de 100 milhões de toneladas.
A estimativa para a safra 2019/20 de soja da consultoria ficou praticamente estável, em 121,4 milhões de toneladas, segundo comunicado divulgado pela consultoria.
No caso da soja, 30% da safra 2019/20 já foi comercializada, disse Gabriela, sem divulgar comparativos.
BOA HORA PARA NEGÓCIOS
Os preços globais dos fertilizantes, que representam 25% dos custos do milho no Brasil, estão mais baixos globalmente em meio a bons estoques nos países importadores como o Brasil e também com uma atípica demanda menor nos EUA, após as enchentes que afetaram o plantio este ano.
Mas os custos com esse insumo podem ficar mais altos no próximo ano, uma vez que grandes produtores cortaram a produção para se adequar ao consumo menor agora.
Essa redução na produção deve resultar em aumento de preços de fosfatados e potássicos já no primeiro trimestre de 2020, indicou a analista.
Em entrevista, o chefe da mesa de fertilizantes da FCStone, Marcelo Mello, observou que, diante da conjuntura atual, é um bom momento para o produtor travar negócios para a próxima temporada (2020/21)
"O MAP, fosfatado de alto teor mais importante utilizado no Brasil, está na menor cotação dos últimos dez anos, em dólar por tonelada, isso é uma oportunidade para travar o custo para a próxima safra verão", afirmou ele, lembrando que os derivativos da CME poderiam ser utilizados.
"Em vez de comprar um ano antecipado o fertilizante, o produtor pode usar os derivativos e pré-fixar o preço de compra através desse índice e efetuar a compra física só lá para frente."
Já a analista citou a própria intensificação de compras de fertilizantes para a "safrinha" de milho como fator altista dos preços, além dos cortes de produção de empresas globais.
Questionada, ela disse que se as vendas de todos os fertilizantes no Brasil não superarem este ano o recorde de 35,5 milhões de toneladas de 2018, "devem ficar próximas" desse volume.