Soja: Sem acordo China x EUA, prêmios devem voltar a subir forte no Brasil

Publicado em 21/11/2018 11:34

Parece mesmo repetitivo, mas fato é que a guerra comercial entre China e Estados Unidos continua sendo o principal fator de atenção no mercado da soja. No Brasil ou no cenário externo, as declarações de ambos os lados têm tido força para influenciar o mercado de forma bastante agressiva nos últimos meses e uma possível solução para esse problema deverá chegar somente em 10 dias. 

Donald Trump e Xi Jinping se encontrarão na próxima cúpula do G20, na Argentina, entre os dias 30 de novembro e 1º de dezembro, e até lá, "nenhum outro fator é maior do que a guerra comercial", explica o consultor em agronegócio da Terra Agronegócios, Ênio Fernandes. 

Enquanto uma definição não é apresentada, quem mais sente são os preços e os sojicultores, que viram os negócios perderem força e direção desde que a disputa foi iniciada. No Brasil, apesar do resultado ter se mostrado bem positivo até este momento - com os chineses focando aqui sua demanda e o país bater volumes recordes de exportação - somente no último mês os prêmios pagos nos portos brasileiros caíram mais de 30%. 

No terminal de Paranaguá, as posições novembro e dezembro/18 perderam, respectivamente, 39,92% e 38%, passando para US$ 1,55 por bushel sobre o valor de Chicago, contra US$ 2,58 e US$ 2,50, 30 dias atrás. Fevereiro passou de US$ 1,35 para US$ 1,00/bushel, com queda de 25,93%, enquanto o março/19 se mostra em US$ 0,70, contra US$ 1,00 há um mês, com baixa de 30%. 

O recuo mais intenso dos prêmios brasileiros se deu depois das especulações de que Trump teria amenizado o tom sobre as conversas com a China e garantido que queria a soja em qualquer acordo que fosse firmado com a nação asiática.

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>> China e EUA voltam a conversar e aumentam especulações sobre um acordo

Na sequência, o vice-presidente americano, Mike Pence, voltou a endurecer seu discurso, falando até mesmo na possibilidade de dobrar as tarifas sobre os produtos chineses e assustou o mercado na Bolsa de Chicago, que cedeu mais de 2% somente nesta segunda-feira (20). A fragilidade e vulnerabilidade do mercado a estas declarações, portanto, é bastante latente neste momento. 

Veja:

>> China e EUA endurecem o discurso e mercado da soja cede mais de 2% em Chicago

Nesse turbilhão de informações e nenhuma definição, ao menos até o final deste mês nada deve mudar e a orientação do consultor da Terra é de que até lá o produtor brasileiro continue evitando o mercado. "Agora, nesses próximos 10 dias, ele tem que se focar em terminar de plantar e cuidar de suas lavouras". Afinal, tanto no caso de um acordo quanto na falta dele, os preços para a soja brasileira deverão ser beneficiados. 

Com um acordo, as cotações deverão voltar a subir em Chicago e motivar uma melhora nos preços brasileiros, mesmo com a demanda voltando a se abastecer, em partes, nos Estados Unidos. Sem o acordo, os prêmios voltam a se fortalecer no Brasil e, como explicou Fernandes, os patamares entre US$ 0,70 e US$ 1,00 ofertados atualmente para a safra nova poderiam alcançar, facilmente, os US$ 2,00 por bushel sobre as cotações praticadas na CBOT, voltando a movimentar tanto a ponta compradora, quanto vendedora. 

E o executivo afirma ainda que, "com acordo ou sem acordo, o mercado vai começar a andar a partir de dezembro". As exportações brasileiras deverão continuar caminhando com forte ritmo, principalmente porque o Brasil terá, nesta temporada, um elevado volume de soja precoce, com algumas regiões podendo começar a colher já na segunda quinzena de dezembro. 

Saiba mais:

>> Brasil deve colher soja 15 dias antes e China já conta com essa oferta

Além disso, também como explica Ênio Fernandes, o mercado interno brasileiro também acirra a disputa pela soja nacional a partir de agora. "A indústria nacional vai ter um problema enorme para manter a soja aqui dentro, porque a China vai pagar prêmios agressivos para levar esse produto embora (especialmente na condição de um não acordo com os EUA)", acredita o consultor. 

A expectativa é de que até meados de março,o Brasil já tenha mais da metade de sua safra travada, contra um índice que varia hoje de 30% a 35% de comercialização da temporada 2018/19.

"A demanda é extremamente robusta neste momento, principalmente no Brasil", conclui Fernandes. E assim, a atenção às oportunidades de venda que ainda estão por vir deverão ser redobradas. 

Para o diretor da LucrodoAgro, Eduardo Lima Porto, com tais oportunidades é importante que o Brasil mantenha sua postura frente ao decorrer da disputa entre as duas maiores economias do mundo. 

"O Brasil precisa assumir uma posição de neutralidade nessa questão comercial porque ambos são nossos parceiros", diz Lima Porto. "A questão dos prêmios é um baita problema, porque está inviabilizando a indústria nacional e disso se pode esperar duas situações: 1) um grave problema de escoamento, na hipótese de normaliza zação do fluxo com os EUA, ainda que parcial e 2) a pressão para que o governo institua retenções sobre as exportações para evitar o desabastecimento", completa. 

Como explica o executivo, a primeira situação se daria em função de uma acelerada deterioração da indústria local, que pode quebrar. No segundo caso, cita como uma das justificativas para a imposição de impostos sobre a exportação, justamente, a manutenção do abastecimento interno. 

"Isso ocorre em situações de desvalorização cambial muito acentuada e de pressão de demanda externa. As pessoas tendem a pensar que o problema está apenas relacionado com a dificuldade fiscal do Estado. O que acontece é que as desvalorizações cambiais são fruto de uma desordem que pode ter origem fiscal. Há que se estudar muito a composição do Balanço de Pagamentos de um País combinado com o regime cambial escolhido e daí poder extrair uma visão mais clara", conclui. 

O Antagonista: O custo Trump

O alinhamento de Jair Bolsonaro com Donald Trump pode custar caro para a agricultura brasileira.

Tereza Cristina disse para O Globo:

“A China, hoje, é um grande mercado. Vai colocar, nos próximos anos, 300 milhões de pessoas na classe média, o correspondente a um Brasil e meio. Essas pessoas passam a ganhar mais e consomem mais proteína animal, adicionam carne à sua alimentação. Também tem a Indonésia, com 320 milhões de pessoas, a Índia, que tem uma agricultura familiar fortíssima, mas que também tem poluição e outros problemas. Uma hora dessas eles também vão precisar. O Irã, hoje, é o quarto ou quinto país que mais importa do Brasil. Mesmo com todas as sanções, importa mais de R$ 2 bilhões e ainda entra muita coisa pela Arábia Saudita, o que leva a crer que a balança comercial do Brasil com o Irã pode ter um superávit acima de R$ 4 bilhões.”

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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