Brasil deixa de exportar 1,5 mi de t de soja na primeira semana de junho com impasse do frete
O impasse sobre a tabela de preços mínimos para o frete continua preocupando o setor produtivo e já afetou as exportações brasileiras de grãos. No caso da soja, os embarques ficaram em 2,46 milhões de toneladas nos seis dias úteis de junho, uma queda expressiva em relação ao mesmo período do ano anterior, de 9,19 milhões de toneladas. As informações foram reportadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
De acordo com o consultor de mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze, com uma programação dentro da normalidade, os embarques da soja deveriam estar próximos de 4 milhões de toneladas no mesmo período. "Então temos uma diferença de quase 1,5 milhão de toneladas e o volume que tem chegado aos portos é via trem", completa o consultor.
Para tentar amenizar o cenário, o consultor ainda reforça que, alguns navios estão sendo atracados nos portos à espera dos embarques e outros desacelerando a chegada aos terminais brasileiros. "Inclusive, alguns embarques programados para o mês de junho estão sendo postergados para julho", explica.
Em entrevista ao jornal O Globo, o Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, reportou que, no acumulado desde o início do impasse até ontem, em torno de 4,9 milhões de toneladas de alimentos deixaram de chegar aos terminais brasileiros. Ao todo, 60 navios estão esperando para embarcar carnes, grãos e outros produtos agropecuários. E as embarcações têm custos diários entre US$ 25 mil a US$ 35 mil.
Além dos embarques, o cenário também paralisou a comercialização da soja velha no mercado doméstico. Em meio à incerteza de quem irá arcar com essa conta, se compradores ou vendedores, as empresas se retiraram do mercado à espera de uma solução.
No Pará, por exemplo, os produtores ainda finalizam a colheita da soja e os negócios no mercado disponível permanecem travados. O presidente da Aprosoja Pará, Vanderlei Silva Ataídes, enfatiza que a comercialização da oleaginosa está parada e que ainda há muito grão a ser negociado no estado.
Para Brandalizze, os produtores brasileiros ainda precisam comercializar 15% da soja da safra 2017/18. "No caso da safra nova, os negócios estavam andando bem antes da greve, mas agora os negócios também estão parados, uma vez que não há base para calcular o frete futuro", pondera. Em torno de 12% a 15% da safra 2018/19 de soja já foi negociada antecipadamente.
Paralelamente, a continuidade do imbróglio também afetou a balança comercial brasileira. Segundo dados do Ministério da Fazenda, a greve dos caminhoneiros deixou um prejuízo à economia próximo de R$ 15,9 bilhões.
Enquanto isso, a situação segue sem um desfecho, com conversas entre lideranças dos caminhoneiros, do setor produtivo e da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Em nota, a agência informou que "a discussão é importante para amadurecer tecnicamente o assunto e que está empenhada em encontrar uma solução que harmonize os interesses de produtores, transportadores e sociedade".
Segundo dados da Advocacia-Geral da União (AGU), 40 ações judiciais contra a tabela do preço mínimo do frete rodoviário foram detectadas até a tarde desta terça-feira. A maior dos processos foi movido por empresas que se consideram prejudicadas pelos valores de fretes previstos com a definição da tabela.
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