Com portos cheios, novos negócios para soja no Brasil só em setembro, diz consultor

Publicado em 04/06/2018 11:47

A semana começa com o mercado internacional da soja sentindo o peso das novas tensões comerciais entre China e Estados Unidos. Na Bolsa de Chicago, as cotações perdiam mais de 10 pontos no pregão desta segunda-feira (4), voltando a se aproximar dos US$ 10,00 por bushel.

"Depois de uma trégua, negociada há duas semanas, as tensões voltaram a dominar o cenário, com a determinação norte-americana de taxar produtos importados de diversos países, sobretudo da China. 
Com a trégua, algumas negociações com soja voltaram a acontecer; porém, novas operações voltaram a ficar ameaçadas", explica o economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, Camilo Motter.

No Brasil, diferente do que houve na primeira vez em que as notícias da disputa comercial entre chineses e americanos fez com que os prêmios explodissem no mercado interno, a movimentação dos indicativos dá início à semana com moderação. Tanto os prêmios, quanto as referências para a soja nos portos se mostram mais retraídas, segundo relata o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

Com poucos negócios sendo observados no curto prazo - uma vez que os portos estão completamente comprometidos para este mês e o próximo e as indústrias nacionais estando bem abastecidas - as referências são para negócios para setembro a partir de agora. Assim, o indicativo de interesse de compra vinha em R$ 89,50 por saca e o prêmio, em Paranaguá, de cerca de 90 cents de dólar acima de Chicago. Na última sexta-feira (1), ainda segundo Brandalizze, esse prêmio se mostrava cerca de 50 cents acima do valor de hoje. 

"Essa semana começa com pouco movimento e deve ser assim nos próximos dias. O vendedor quer entrega e pagamento curto, mas o comprador não faz negócios para agora, só para meados de agosto e setembro", diz o consultor. "Devemos embarcar recorde de soja em junho e parte do volume desse mês deve ser embarcado em julho, os portos estão lotados", completa. 

Assim, a pressão que a falta de acordo entre China e Estados Unidos exerce sobre as cotações em Chicago é compensada de forma bastante limitada pelos prêmios nos portos brasileiros neste momento. E para Brandalizze, poucas novidades deverão ser vistas sobre isso nos próximos dias, justamente em função desse menor volume de novos negócios. 

Neste domingo, segundo noticiou a Reuters, os chineses alertaram os norte-americanos de uma possibilidade de riscos sobre benefícios comerciais caso os EUA imponham novas tarifas. Ainda assim, porém, as duas nações seguem afirmando que têm evoluído bem nas discussões, embora novos acordos ainda não tenham sido anunciados. 

"Para implementar o consenso alcançado em Washington, os dois lados se comunicaram bem em várias áreas, como agricultura e energia, e fizeram progressos positivos e concretos", disse a agência de notícias estatal da China, Xinhua, acrescentando que os detalhes estão sujeitos à "confirmação final por ambas as partes". "Reforma, abertura e expansão da demanda doméstica são estratégias nacionais da China. Nosso ritmo estabelecido não vai mudar", acrescentou.

Leia mais:

>> Conversas terminam com China alertando sobre riscos a benefícios comerciais se EUA impuser tarifas

Além disso, há ainda os reflexos dos 11 dias da paralisação dos caminhoneiros ainda sendo sentidos, com alguns atrasos de cargas, que acabam por também pressionar os prêmios nos portos brasileiros 

Também influenciando há a movimentação do câmbio. Depois de uma alta de quase 1% na última sexta-feira e o dólar se aproximando dos R$ 3,77, nesta segunda-feira a divisa volta a recuar frente ao real e, perto de 11h45 (Brasília), cedia 0,39% para R$ 3,752.

"Os recentes dados econômicos positivos ao redor do mundo, que mostram um crescimento global ainda saudável e relativamente robusto, parecem estar dando suporte ao humor global ao risco", escreveu o chefe de multimercados da gestora Icatu Vanguarda, Dan Kawa, em relatório.

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>> Dólar cai abaixo de R$ 3,75 com maior apetite por risco no exterior

Exportações Brasileiras

Em maio, mais uma vez, o Brasil registrou recorde histórico de exportações de soja mesmo diante da paralisação dos caminhoneiros por 11 dias no fim do mês. No total, os embarques brasileiros foram, somente no mês passado, de 12.353,5 milhões de toneladas. A média diária foi de 588,3 mil toneladas, ou seja, mais de 10 navios embarcados no dia, ainda como explica Vlamir Brandalizze, citando números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). 

No acumulado do ano, os embarques brasileiros de soja já chegam a 35,8 milhões de toneladas e, segundo o consultor, "caminha a passos largos para que superem de longe as 70 milhões de toneladas no ano, frente as
68,2 milhões embarcadas no ano passado". 

O bom momento não se limita só ao grão, mas chega em todo o complexo soja. "Assim, o país segue com a soja sendo o carro-chefe das exportações do Brasil, sabendo-se que neste ano iremos embarcar grandes volumes até setembro, e só então, daí para frente perderá o ritmo", completa Brandalizze.   

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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