Comércio brasileiro de soja tem grandes oportunidades com disputa EUA x China
As oportunidades para o comércio de soja no Brasil - atualmente o maior exportador mundial da commodity - são consideráveis e crescentes diante da guerra comercial entre China e Estados Unidos. A possibilidade de uma negociação direta entre chineses e brasileiros pode estar próxima -- com a utilização de um mecanismo denominado 'trade settlement agreement' - um acordo de troca de divisas firmado entre Brasil e China em 2013 para facilitar o comércio bilateral.
" O acordo foi feito entre o Banco Popular da China e o Banco Central do Brasil para que as exportações e importações entre os dois países pudessem ser feitas em yuans e reais. Ele já existe e só precisaria ser aprimorado para essa negociação específica com soja. Agora, com a disputa em torno das sobretaxações do aço e alumínio dos EUA, essa seria uma maneira de o Brasil e China fazerem um movimento geopolítico e renovar a linha desse acordo, aumentá-lo e, eventualmente, permitir que as exportações de soja sejam feitas também em reais", explica o economista e professor do Insper Roberto Dumas Damas, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta terça-feira (13).
Acordos como estes favorecem relações perenes e fortes, aponta o especialista. Estabelecida no comércio da soja, haveria diminuição da utilização do dólar nas transações (ou colocada em segundo plano), propiciando a negociação direta entre moedas não conversíveis -- como o real e o yuan, mas que dêem segurança aos dois países.
"O dólar não vai sair do mercado internacional, mas do lado geopolítico poderíamos voltar a discutir o "trade settlement agreement" especificamente para as transações de soja entre Brasil e China, fechando as negociações em reais e yuans num sistema de swap agreement (contrato de derivativos que permite a troca de posições com outros ativos), diz Damas. "Dessa forma você ficaria cada vez menos dependente das cotações em dólares em Chicago", completa.
O maior benefício, portanto, seriam as relações comerciais acontecendo em suas moedas locais e favorecendo a ambos, compradores e vendedores, mesmo que a principal referência para a formação dos preços da soja continue vindo da bolsa norte-americana. O caminho seria um novo acordo específico para o agronegócio, que poderia ser, inclusive, ampliado para demais produtos brasileiros exportados para a nação asiática. As negociações resultariam na recriação da Bolsa de soja brasileira, que chegou a existir timidamente na BM&F no início dos anos 2000.
"Com isso, a China daria um 'tapa geopolítico na cara' dos EUA, diminuindo a utilização do dólar e permitindo que a soja fosse totalmente precificada em reais. É óbvio que a referência ainda viria da Bolsa de Chicago, mas seria outro movimento. Sua dependência vai diminuindo e esse pode ser um movimento melhor do que se os chineses comprassem '100 milhões de toneladas do Brasil'. Nem nós queremos vender tudo para eles, e nem eles querem comprar tudo da gente, pois poderia se construir uma dependência mútua exagerada. Por isso esse novo "trade settlement agreement" seria um bom momento", diz o economista.
" Se há uma relação de longo prazo de compra de soja no Brasil, por que não fazê-la em reais? É melhor do que dólar, porque se sai do risco cambial", acredita o economista. "E o chinês vai ter seguança em negociar em reais, porque teríamos o swap agreement". E este poderia ser o principal veículo que acentuaria as discussões sobre a recriação de uma bolsa brasileira com eficácia e liquidez suficientes para se referenciar os preços da oleaginosa nacional no mercado internacional.
Veja a íntegra da entrevista de Roberto Dumas Damas no link a seguir:
Bolsa Brasileira
O descolamento da referência da Bolsa de Chicago, mesmo que em um cenário ainda de especulação, aconteceria no médio e longo prazo, como mais uma alternativa para o comércio global. Para Carlos Widonsck, sócio-diretor da CW Consultoria, a B3 - antiga BM&F - poderia ganhar mais espaço na comercialização da soja brasileira. Considera que, antes, seria importante buscar a opinião do mercado e de seus players sobre essa readaptação das negociações.
"Eu vejo que a retaliação da China contra os Estados Unidos virá com uma taxação sobre os agricultores americanos, enquanto se pagaria um prêmio maior para o produtor brasileiro de soja. Vai depender da estratégia que nós, brasileiros, vamos querer para nossa soja", acredita o especialista.
Assim, a janela de oportunidades que se abre nesse momento, ainda como explica Widonsck, não pode ser desperdiçada, independente dos mecanismos que serão utilizados daqui em diante. "Acho que o primeiro caminho é conversar com as tradings rapidamente e saber o que é interessante para eles, aproveitando este embalo que está surgindo. Por que não ter duas bolsas? Duas referências de preços".
No link a seguir, confira a íntegra da entrevista de Carlos Widonsck:
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